Como eu havia dito para meu pai que iria alguns dias à universidade para estudar na cabine da biblioteca, resolvi aproveitar essa possibilidade, visto que eu seguia com dificuldades para me manter focada nos livros. Às vezes eu me perguntava se não tinha déficit de atenção ou TDAH, mas lembrei que não era assim no ano anterior, quando eu não tinha problemas para me distrair.
Contrariando todas as expectativas, inclusive as minhas, tomei coragem para entrar em um ônibus sozinha. Depois das aulas da terça eu almocei um sanduíche natural e fui até a parada próxima a escola. Não foi tão diferente das outras vezes. Eu cumprimentei o condutor, sentei em um lugar vago e esperei até chegar no meu destino.
Claro que eu adotei algumas dicas de segurança que vi em um site: sentar ao lado do corredor, (assim dificilmente sentarão ao seu lado) não mexer no celular durante o trajeto e fazer cara de marrenta. Eu precisava a aprender a andar naquilo sozinha porque não podia depender de Thomas para me deslocar.
Depois do incidente da semana passada não conversamos mais. Ele não apareceu mais na sala para conectar os cabos e só nos encontraríamos na quinta, mas pelo menos eu seria capaz de voltar sozinha evitando situações esquisitas.
Assim que cheguei na universidade me toquei que eu não sabia onde ficava a biblioteca, mas graças ao GPS consegui andar até lá. Era uma grande construção clássica com muito detalhes que me fizeram contemplar por um tempo antes de entrar. Em seu interior havia um balcão de madeira que ficava entre duas escadas e dava acesso a corredores de estantes.
Segui algumas placas até chegar na região das cabines e encontrei um lugar vago que não tinha pessoas ao redor. O lugar era tão silencioso que até abrir o zíper da minha bolsa era um tanto incômodo. Abri meus cadernos e livros e ali fiquei por três horas seguidas sem nem perceber. Não sei se era o ambiente ou o silêncio, mas o estudo simplesmente fluiu.
Quando olhei a hora, vi que já eram 17h e quis voltar logo para não me aventurar a pegar ônibus de noite nem lotado. Por isso saí da biblioteca e fui caminhando até o ponto de ônibus. Eu só não esperava encontrar alguém conhecido.
— Clara? — Me virei de costas assustada, procurando a voz que me chamou e vi que era Luís. — O que você está fazendo aqui numa terça? — Ele parecia surpreso em me ver.
— Oi! Eu vim estudar na biblioteca! — Disse sorrindo e ele elevou as sobrancelhas.
— Só para isso? Atravessou a cidade só para estudar aqui? — Perguntou confuso.
— Eu não tinha colocado tanta expectativa, mas até que gostei! Eu consegui estudar como nunca! — Disse e ele sorriu.
— É bom mesmo. — Ele concordou comigo. — Você já vai? Eu vou me encontrar com Dênis e Melissa agora no food truck. Se quiser pode ir com a gente.
Até que eu estava com fome. Será que pegar o ônibus alguns minutos mais tarde seria tão perigoso assim como eu pensava? Acho que não.
— Ah, pode ser! — Falei.
Eu o segui até o lugar onde eles iam se reunir, e mais uma vez o ambiente da universidade me cativou. Antes eu não sabia se eu queria fazer faculdade, mas agora eu tinha certeza! Eu só não sabia de que.
— Isso é um holograma, ou é a nossa cobaia? — Dênis perguntou fazendo graça quando eu e Luís nos aproximamos da mesa deles.
— Achei ela perdida por aqui. — Luís disse se sentando e eu fiz o mesmo me sentando ao lado de Melissa.
— Ei, eu nem estava perdida! Acreditam que eu vim sozinha para cá? — Falei e todos ficaram surpresos.
— De ônibus? — Melissa perguntou sorrindo e eu assenti. — Arrasou! Só não sei se Thomas vai ficar feliz como você...
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As Palavras Não Ditas
Fiksi Remaja+12 | E se, por um momento, tudo o que você achava ser perfeito na sua vida começasse a desmoronar bem diante dos seus olhos? Aquilo que você jurava ser impossível de dar errado te surpreendeu. Clara, em meio à transição para a vida adulta, se vê di...