Voltei de ônibus sozinha para casa, já que eu já tinha superado os trauma passados e não estava afim de ser um peso para Thomas. Apesar dele e Melissa aparentemente não serem um casal, eu sentia que havia algo entre eles, e não queria atrapalhar.
Depois de me despedir dos meninos, eu me perguntei se nos encontraríamos de novo. Minha função era olhar para a câmera até o Irineu ler minha íris, mas agora que cumprimos essa etapa, eu não tinha mais o que fazer. Por isso, eu não sabia se continuaria indo para as reuniões. Eu até poderia estar aliviada, afinal eu não precisaria mais me deslocar até o outro lado da cidade. Só que, por incrível que pareça, eu queria continuar encontrando eles.
Dênis era extremamente cômico, parecendo um personagem de desenho animado. Já Luís parecia ser ansioso e surtado, mas ao mesmo tempo inteligente e esforçado. E Thomas era aquela pessoa inocente e bondosa que você não consegue entender como não foi corrompido por um mundo tão ruim. Incrível como em tão pouco tempo eu me aproximei deles.
Ao chegar em casa vi que meu pai e meu irmão já haviam chegado e estavam sentados no sofá da sala de frente para o computador. Eles olharam para mim sorrindo, e ao escutar a voz que saía do computador eu entendi o motivo da alegria.
— Clara! Vem falar com a mamãe! — Miguel me chamou e eu corri até eles.
Meu coração apertou ao ver minha mãe do outro lado da tela, linda como sempre, com os olhos brilhando. Eu esperava que ela não estivesse chorando, porque se não eu seria a próxima.
— Mãe! Que saudades... Como a senhora está? — Perguntei.
— Minha filha! Eu queria estar com vocês aí! — Ela disse sorrindo. — Você está tão linda! Parece bem melhor desde a última vez que eu te vi.
Lembrei que na despedida da minha mãe eu ainda estava muito abalada por causa de Gustavo. Percebi que faziam dias que eu não pensava nele e talvez mais tempo que eu não sentia saudades. Sorri quando notei isso.
— Eu estou bem melhor, mãe. Só falta você aqui para ficar perfeito. — Disse.
— Mamãe, a senhora já está perto de voltar? — Miguel perguntou do meu lado.
— Então... Tenho uma coisa não tão legal para dizer... — Ela disse tirando o sorriso do rosto. Já sabia o que iria dizer. — A empresa precisa de mim aqui até junho.
— Até junho?! — Perguntei. Eu imaginei que ela passaria apenas dois meses, mas quase 6? Eu não esperava por isso.
— Estela, essa empresa está abusando de você. — Meu pai disse tentando esconder a raiva.
— Mas você disse que iria ficar pouco tempo... — Miguel choramingou.
— Meus amores, por favor, tenham paciência... Eu também não esperava por isso, mas a filial ainda é muito nova e inexperiente para ficar sem supervisão. Eles precisam de mim aqui.
— Nós também precisamos de você. — Meu pai disse com a voz firme.
Eu sabia que minha mãe estava fazendo tudo isso para que tivéssemos mais condições, especialmente porque meu pai estava recebendo menos no novo emprego dele. Mas eu estaria mentindo se dissesse preferiria esse conforto do que minha mãe do meu lado.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que meu pai pediu para conversar a sós com minha mãe, e eu e Miguel fomos para nossos quartos. Eu só esperava que eles não brigassem de novo.
Olhei meu celular na tentativa de me distrair do que estava acontecendo, e consegui.
Irineu, você não sabe, nem eu
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As Palavras Não Ditas
Fiksi Remaja+12 | E se, por um momento, tudo o que você achava ser perfeito na sua vida começasse a desmoronar bem diante dos seus olhos? Aquilo que você jurava ser impossível de dar errado te surpreendeu. Clara, em meio à transição para a vida adulta, se vê di...