Depois da ligação de Nanda sobre a morte da sua avó, eu fiz questão de ir até sua casa com Gabi, mesmo que ela dirigisse sem carteira de motorista. Eu já havia perdido meus avós por parte de pai quando era mais nova, e sabia o quão doloroso era, por isso quis dar suporte à minha amiga. Eu admito que sentia um certo peso na consciência por estar escondendo minha história com Thomas dela.
Passamos um tempo juntas em seu quarto enquanto ela contava de bons momentos com sua avó e a consolamos quando ela chorava, mas tivemos que ir logo porque a sua família precisava arrumar as malas para ir até Brasília para seu enterro. Ela precisou perder o simulado, e Nanda nunca perdia nem um dia de aula, por mais doente que estivesse.
Domingo fizemos mais um simulado, no qual eu me recusei ir ao banheiro para não ser perseguida por Paulo, como ocorreu no último simulado. No entanto, foi difícil prestar atenção nas questões quando os meus pensamentos estavam em Thomas e no que aconteceria conosco. Eu só sabia que precisávamos conversar.
Segunda-feira eu cheguei cedo esperando poder conversar com ele enquanto não havia outros alunos na sala ainda. Eu sentei, esperei, esperei mais um pouco, e ele não foi até lá, como de costume. Inevitavelmente comecei a pensar em tudo o que poderia ter acontecido, desde ele decidir de afastar de mim até a possibilidade de ter se acidentado. Ser paranóica fazia parte de quem eu era.
Eu estava olhando para a cadeira do professor vazia, me perguntando porque Thomas não estava lá, quando Gabi entrou na sala e veio até mim.
— Bom dia, amiga. — Ela disse se sentando atrás de mim e notou o meu semblante preocupado. — Você ficou mal também com o que aconteceu com a avó de Nanda? — Ela perguntou e eu me virei para ela. Não era exatamente isso que me incomodava, por mais que eu também estivesse preocupada com Nanda.
— É... A família dela estava muito abalada, né? — Falei lembrando de Brenda, mãe de Nanda, limpando as lágrimas antes de entrar no seu quarto, para não se mostrar vulnerável para sua filha.
— Espero que ela fique bem. Logo no terceiro ano perder um ente querido? Nossa... — Gabi disse com tristeza no olhar.
— E se ela não ficar, estaremos aqui para apoiá-la também. — Falei na mesma hora que o professor entrou em sala.
No início da aula, não consegui absorver o conteúdo de geopolítica que o professor ministrava, pois não parava de pensar em Thomas. Ele não havia dado nenhum sinal de vida desde o concurso no sábado, e sim, ele era meio misterioso, mas eu continuava buscando razões para ele ter sumido. Pensando bem, eu também não tinha dado sinal de vida, mas porque eu estava esperando ele fazer isso primeiro.
Foi quando, no meio da aula de geografia, eu recebi uma mensagem que vez meu coração parar por um segundo.
Thomas
Thomas: Bom dia, Clara.
Podemos conversar?
Estarei no almoxarifado na hora do intervalo.Clara: Ok.
Eu não queria parecer desesperada para ele, por mais que eu estivesse. Se antes eu não estava conseguindo prestar atenção na aula, agora estava impossível. Não conseguia parar de pensar no conteúdo daquela conversa, e se eu ia sair do almoxarifado contente ou frustrada.
Quando o sinal tocou, eu esperei um pouco antes de ir para que ninguém (principalmente Paulo) me visse indo no sentido oposto da lanchonete. Quando a área estava limpa eu caminhei rapidamente até chegar no almoxarifado e entrei dando um susto em Thomas, que estava sentado mexendo em seu notebook.
Não achei que ficaria tão nervosa ao ver seus olhos pousando sobre mim. Eram os mesmos olhos de sempre: negros, brilhantes, melancólicos e hipnotizantes. Seus lábios se entreabriram como se ele fosse dizer alguma coisa, enquanto eu estava com as costas apoiadas na porta, sem saber o que dizer.
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As Palavras Não Ditas
Novela Juvenil+12 | E se, por um momento, tudo o que você achava ser perfeito na sua vida começasse a desmoronar bem diante dos seus olhos? Aquilo que você jurava ser impossível de dar errado te surpreendeu. Clara, em meio à transição para a vida adulta, se vê di...