Não tivemos tempo para fazer o toboágua improvisado, porque ficamos dentro da piscina até virarmos uva-passas extremamente enrugadas. Gustavo deve ter bebido umas quatro garrafas de cerveja com Paulo, e eu podia notar que ele estava alterado. Sim, isso me deixava mais preocupada do que o normal, mas eu tentava dizer para mim mesma que não era nada demais, ele só estava mais atirado em mim do que de costume.
Depois de tomar meu banho e me arrumar, fui até a sala assistir televisão, e vi Gustavo e Paulo largados no sofá, no maior sono, sem deixar espaço sobrando. Então vi que Nanda estava sentada no sofá do quintal mexendo no celular, e fui lá sentar com ela.
— Eu acho que aqueles dois só acordam amanhã. — Eu disse me sentando ao seu lado. Ela olhou para trás para ver a cena e riu.
— Tem certeza de que estão vivos? — Ela perguntou fingindo estar séria.
— Pior que não. — Falei a encarando com medo e depois ri.
Lá fora estava num clima agradável. O vento fazia os coqueiros balançarem e fazerem um som tranquilizador. A lua estava quase cheia lá no alto e as estrelas eram bem mais visíveis do que na cidade.
— Eu acho que minha avó não está bem. — Nanda disse mudando de expressão. Seus olhos estavam baixos e ela catucava sua unha, coisa que ela sempre fazia quando estava triste.
— Como assim? — Perguntei.
— Essa viagem para Brasília... Foi tudo tão rápido... Meus pais planejaram tudo em menos de uma semana. — Ela levantou os olhos para frente, e estavam se enchendo de água. — Desde que ela recebeu o diagnóstico de insuficiência renal crônica, fomos lá uma vez por ano, no seu aniversário, e ela vinha pra nossa casa no Natal. Mas dessa vez toda a família vai pra sua casa. — Uma lágrima escorreu no seu rosto e ela rapidamente a limpou. — Ela piorou esse ano, tanto que precisou aumentar as vezes que ela faz hemodiálise na semana.
Eu não era uma boa conselheira. Eu nunca soube muito bem o que falar para confortar. Mas ver Fernanda, minha melhor amiga, sofrendo e eu sem poder fazer nada a respeito não era uma opção. Então fiz o que eu sabia fazer: lhe abracei.
— Não sofra por antecipação, Nanda. Mesmo que você esteja certa, espere ter certeza. E eu estarei aqui com você independente do que aconteça. — Foi o que eu consegui falar.
Nos distanciamos, enxugamos os cantos dos olhos e rimos. Era incrível ter alguém como Nanda.
— Gente, o jantar... — Rafael passou pela porta do quintal e nos viu no nosso momento de amigas. — Desculpa... — Ele disse e nós duas dissemos que não tinha problema. — Está tudo bem? Tem alguma coisa que eu possa fazer? — Ele perguntou olhando para Nanda preocupado. Era fofo ver como ele se importava com ela.
— Não, Rafa... Está tudo bem. A gente já vai. — Nanda disse sorrindo. Rafa sorriu de volta e entrou na casa.
Olhei para Nanda com olhos espremidos, fingindo que eu estava suspeitando de algo, só que na verdade eu já sabia que ele estava apaixonado por ela. Nanda franziu as sobrancelhas e se escorou no sofá, parecendo que estava decifrando um código.
— Clara, qual é a probabilidade de Rafael estar dando em cima de mim? — Ela perguntou baixinho, franzindo os olhos. Eu deveria falar? Eu era do time de deixar acontecer naturalmente, mas não podia mentir para ela.
— Grande. — Falei assentindo. Ela arqueou as sobrancelhas, mas ainda parecia confusa. — Você acha isso bom ou ruim? — Aproveitei a chance para ver se isso ia pra frente ou não.
— Eu não sei... A gente tem um passado bem esquisito... Não sei se estou com cabeça pra pensar nisso agora... — Ela disse se levantando.
Lembrei da sua avó e entendi o que ela quis dizer. Realmente, lidar com mais coisas nesse momento poderia ser confuso para ela. Me levantei também e fomos jantar com o resto dos nossos amigos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Palavras Não Ditas
Teen Fiction+12 | E se, por um momento, tudo o que você achava ser perfeito na sua vida começasse a desmoronar bem diante dos seus olhos? Aquilo que você jurava ser impossível de dar errado te surpreendeu. Clara, em meio à transição para a vida adulta, se vê di...