Os dias passaram voando até chegar no dia do primeiro simulado que faríamos. Eu permanecia tentando afastar Gustavo dos meus pensamentos, estudando quando eu conseguia focar e só saia de casa quando ia para a escola. Ah, e eu ainda não tinha ideia do que faria na faculdade.
Meu pai conseguiu o emprego que ele tanto queria, e graças a Deus passou apenas duas semanas desempregado. Isso era ótimo para nós, no entanto como meu pai só saia do trabalho de 19h e eu estava liberada desde 13:30, comecei a pegar carona com a minha querida prima, Clarisse, que não tinha muita paciência para me buscar.
Minha mãe continuava em Curitiba, mesmo meu pai insistindo para que ela se demitisse e voltasse, o que rendeu algumas brigas pelo telefone que eu escutava do meu quarto. Minha mãe queria ter um fundo de reserva ao invés de ficar apenas com a fonte de renda do meu pai, que nos deixaria bem apertados. Mas eu entendia que meu pai só queria a mulher que ele ama do lado dele.
Meu pai passou todo o caminho para o simulado dizendo que estava magoado com minha mãe por ela ter ido tão facilmente enquanto ele morria de saudades aqui. Eu não sabia o que dizer, então permaneci calada. Sempre ouvi que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher (a não ser que exista algum tipo de violência).
O simulado foi uma loucura porque fizemos linguagens, humanas, redação, naturezas e exatas no mesmo dia, porque era para ser uma "avaliação diagnóstica", e foi extremamente cansativo. Isso provavelmente teria um impacto negativo na minha nota, o que me deixou bem preocupada.
Depois do simulado Clarisse veio me buscar, porque meu pai foi para um churrasco com o pessoal do emprego novo dele. Para variar, ela não parecia tão contente.
— Nossa, mas que demora para fazer uma prova... — Ela disse dando partida no carro, fazendo com que um barulho alto e agudo saísse do seu carro. — Passei meia hora aqui te esperando. Da próxima vez eu deixo você aqui, viu?
Enquanto ela dirigia, o barulho ficava mais agudo ainda. Eu não entendo muito de carro, na verdade não entendo nada, mas sabia que aquele barulho ensurdecedor não era normal.
— Que barulho é esse? — Perguntei tampando os ouvidos.
— Não sei... Vou ter que levar o carro na oficina para descobrir. Acho que está piorando... — Olhei para ela com medo. — Calma! Ele não vai explodir! Daqui a pouco ele desaparece.
— Acho bom mesmo... — Disse. Aquele carro era bem antigo, então era bem possível que ele explodisse.
— A prova foi boa? — Ela perguntou mudando de assunto drasticamente. Todo mundo sabe que esse tipo de pergunta não se faz.
— Ah, sei lá... — Falei e olhei a estrada pela janela. — Eu nem sei o que vou fazer da minha vida...
— Você vai descobrir. Tenha paciência. — Ela disse dando partida no carro.
— Todo mundo fala isso desde que eu desisti de ser presidente quando eu tinha 8 anos e até agora eu não descobri.
Ficamos em silêncio no carro por um tempo. Foi um desabafo repentino, mas era verdade. Eu não tinha nada em mente.
— Clara, você não precisa fazer faculdade. Pode abrir uma empresa, fazer doce e vender, abrir uma loja de roupa... — Eu via que Lisse estava tentando me dar alternativas a todo custo, mas só me deixava mais tensa.
— Eu mal sei administrar minha própria vida, quem dirá um negócio! — Falei levemente irritada. — E eu mal sei fritar um ovo!
Clarisse riu bastante, por mais que eu estivesse séria, o que inicialmente me deixou com raiva, mas ela riu tanto que acabou me fazendo rir também. Seria mais trágico se não fosse cômico.
— Tudo bem... — Ela disse tentando controlar a risada. — Deixa isso para lá. Você tem tempo para se encontrar. Vamos mudar de assunto... E Gustavo?
Desde quando meus problemas se tornaram tópicos de todas as minhas conversas recentemente? Inicialmente fiquei desconfortável, só que lembrei que eu precisava atualizar minha prima sobre Gustavo e Bárbara, então foi isso que eu fiz.
O tempo realmente estava me fazendo bem. Naquele momento eu já conseguia falar dele rindo por causa da situação com Bárbara e do beijo na frente de todo mundo, e claro que minha prima não deixou barato e disse como ele desceu o nível depois de mim.
Tivemos que passar na casa de Tia Mari e Tio Juca para buscar Miguel. Como meu pai estava no churrasco com seus novos colegas de trabalho, ele deixou meu irmão brincando na casa do nosso primo, Daniel, para não deixá-lo sozinho em casa. Eu achava ótimo a amizade deles dois, porque eles tinham apenas um ano de diferença, diferente de eu e Lisse que temos oito anos de diferença. Mas como eu fui a primeira prima dela, ela não tinha outra opção para brincar além de mim.
Miguel entrou no carro todo feliz dizendo que passou a tarde assistindo animes com Daniel, e eu logo fiz uma cara de nojo. Eu achava aqueles desenhos uma besteira, mas não ia dizer nada, até porque meu irmão tem apenas sete anos. Eu só julgava maiores de 12 anos que ainda assistiam esses desenhos.
— Legal, Miguel, só cuidado para não ficar igual a um nerd pangolão no futuro, viu? — Falei rindo para mascarar minha preocupação.
— Nossa, Clara... Deixa ele ser feliz! — Clarisse disse. Ela só estava defendendo por ter um pé nesse mundo porque amava o universo Marvel.
— Eu estou falando isso para proteger ele. — Disse pra Lisse, que estava balançando a cabeça de um lado para o outro, e me virei para ele. — Estou falando isso pro seu bem, meu amor.
— Se você assistisse saberia que não é tão ruim assim quanto você pensa. — Ele disse brincando com um cubo mágico.
Me virei para frente. Poderia até ser bom, mas eu não queria ver meu irmãozinho sofrendo bullying por causa disso no futuro. Paulo mesmo fazia "brincadeiras" de muito mau gosto com qualquer pessoa que aparentasse ser nerd.
— E não é nerd, é geek. — Ele disse com uma voz emburrada.
— Qual é a diferença? — Clarisse perguntou enquanto fazia uma curva.
— Então... Nerd são pessoas inteligentes que têm conhecimentos avançados e tiram notas boas. Já geek é aquela pessoa que ama videogames, animes, filmes, entre outras coisas. Mas os dois gostam de tecnologia. — Miguel disse.
Eu e Clarisse rimos. Eu não me importava se meu irmão era nerd, geek, ou os dois. Eu só queria que ele não sofresse como eu via que pessoas como ele sofriam no ensino médio. Ele era bom demais para o mundo.
💘
E aí? Tem algum nerd ou geek por aqui? Eu sei que Clara não é nada disso, mas talvez alguém seja...
Confesso que às vezes da vontade de postar tudo o que escrevi até agora aqui, mas constantemente eu reviso e ajusto algumas coisas por muito tempo.
Ouvi dizer que 27 é um bom número... e com essa eu me despeço!
Não se esqueçam de votar!
Um beijo, querido leitor! 💘
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Palavras Não Ditas
Fiksi Remaja+12 | E se, por um momento, tudo o que você achava ser perfeito na sua vida começasse a desmoronar bem diante dos seus olhos? Aquilo que você jurava ser impossível de dar errado te surpreendeu. Clara, em meio à transição para a vida adulta, se vê di...