Capítulo 28 💘

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Naquela noite eu fui dormir de 21:30 devido ao cansaço de ter passado os últimos dias estudando feito uma condenada, e meu pai ainda não havia chegado. Só o vi no outro dia, e ele não parecia tão preocupado assim se eu tinha chegado pelo menos viva em casa.

Minha mãe, por outro lado, me ligou logo de manhã, pouco tempo depois de eu ter acordado.

Oi minha filha! Estou com tanta saudade de você!Era tão bom poder escutar sua voz carinhosa. — Liguei ontem de noite para vocês, só seu irmão atendeu e disse que vocês ainda não haviam chegado... Fiquei preocupada!

Oi mãe! Também estou com saudades... — Disse. — É que eu fiquei até tarde fazendo uma prova na escola e meu pai estava numa reunião.

E você foi para casa com quem? — Ela perguntou.

De ônibus... — Falei.

De ônibus?! Seu pai deixou você ir para casa de ônibus?!Ela estava falando alto. Mal sabia ela que foi ele que sugeriu.

Eu ia pegar um Uber, mas meu celular descarregou e não consegui carregador, a escola já estava fechando e...

Eu não acredito... Se eu soubesse eu teria voltado só para lhe deixar em casa!

Se ela ficou desse jeito só por ter entrado num ônibus, imagina se ela soubesse do homem embriagado que sentou ao meu lado antes de eu ser salva por Thomas? Era melhor guardar essa parte para mim.

Mãe, eu estou bem. Foi tranquilo.Menti.

Tudo bem, meu amor. Não vejo a hora de voltar e botar ordem nessa casa.

Depois conversamos mais um pouco sobre o frio que estava fazendo em Curitiba e como tudo lá é mais caro. Ela perguntou como eu estava e se estava estudando muito, e eu disse que estava tentando o meu máximo, o que não era mentira. Apenas ontem que eu hibernei porque estava exausta, mas para compensar passei o final de semana todo trancafiada em casa com a cara nos livros.

Segunda-feira, como sempre, cheguei cedo na escola. Eu até lembrei que poderia ajustar os relógios já que minha mãe estava em Curitiba por tempo indeterminado, só que achei melhor não. Eu até gostava de chegar cedo na sala e ficar um tempo sozinha. Esse tempo era curto, já que quase sempre o carinha da informática, que agora eu sabia que se chamava Thomas, entrava na sala para fazer algumas coisas no computador.

Dessa vez, no entanto, foi diferente. Ele abriu a porta, olhou para mim e deu um sorriso tímido. Ele esta com o cabelo úmido caído sobre seus óculos, vestindo uma camiseta polo cinza com o design da escola. Devia ter uns 20 anos.

— Bom dia... — Ele disse baixo enquanto se dirigia para o computador.

— Bom dia! — Disse um pouco mais alegre.

Eu estava lendo uma apostila de linguagens, já que seria a primeira aula do dia, mas eu não estava conseguindo me concentrar porque eu queria falar alguma coisa para Thomas.

— Obrigada, mais uma vez... — Disse, e ele desviou a atenção do computador para mim. — Por ter me ajudado, ou melhor, me salvado.

— Não exagera... — Ele sorriu e marcou suas covinhas, me fazendo sorrir também.

— É sério! O que eu disse quando fui embora era verdade. Eu estou te devendo uma. Se precisar de algo, pode contar comigo.

Ele sorriu sem mostrar os dentes sem dizer nada, e cada um voltou a fazer o que estava fazendo. Eu só queria mostrar o quanto eu estava agradecida pelo que ele fez naquele dia.

— Bem... Tem uma coisa... — Ele disse, hesitante. Eu ergui as sobrancelhas esperando pelo que ele ia dizer. — Não precisa aceitar só porque está me devendo uma... Só aceite se você realmente quiser.

— Pode dizer! — Falei animada.

— É que... Eu e alguns amigos nos inscrevemos numa feira de inovações científicas que vai ter na universidade, e estamos concorrendo à um premio de R$ 7.000 e uma publicação numa revista internacional.

— Nossa, que legal! — Agora sim eu tinha certeza que ele era um nerd. Eu só não sabia onde eu entrava na história. — Mas eu não entendo nada dessas coisas. Não sei se eu seria útil...

— Então... Na verdade nós precisamos de uma cobaia...

Fiquei estática. Talvez porque eu estava dando todos os sinais que diria sim, mas ser uma cobaia? O que eles poderiam fazer comigo? Nunca se sabe... Esses nerds aí podem ser bem esquisitos quando querem...

— Cobaia? — Perguntei com um sorriso congelado.

— Calma... Não é nada invasivo. — Ele soltou um riso, provavelmente por causa da minha expressão facial. — Estamos desenvolvendo um leitor de íris. Só precisamos de alguém para ficarmos testando até dar certo. O concurso será no final do mês de abril. Temos até lá para fazer dar certo.

Me aliviei. Meu medo era ser transformada num robô ou algo assim, mas claramente o que ele queria era inofensivo. Ele ficou me esperando dizer alguma coisa, então disse:

— Acho que posso ajudar vocês! — Falei. Thomas abriu um sorriso largo, novamente marcando suas covinhas, mas além disso pude ver seus dentes perfeitamente alinhados entre os lábios levemente rosados.

— Nossa, sério? Eu não achava que alguém como você iria aceitar... — O que será que ele quis dizer com isso? — Bem, meu grupo se reune toda quinta à tarde lá na universidade, que é meu turno de folga. Ficamos no centro de tecnologia.

Falei cedo demais. Na universidade? Além de ser distante de tudo era toda semana... Então eu ia perder uma tarde inteira de estudos toda quinta pelas próximas semanas. Ainda dava tempo de desistir?

— Ah... — Disse perdendo a animação, mas eu não ia pular fora porque já tinha dito sim, apesar de eu precisar de dar um jeito de cumprir minha palavra. — Legal... Eu só tenho que ver o deslocamento...

— Olha, eu vou de ônibus. Você pode ir comigo. — Arregalei os olhos. Eu havia prometido para mim mesma que não iria entrar naquele troço nunca mais. — Eu sei que você não teve uma boa experiência com ônibus... Mas seria diferente... Você não estaria sozinha.

Fiquei olhando para ele, analisando o que ele tinha dito. Eu tinha uma vontade muito grande de dizer sim, talvez por ele ter sido tão bondoso comigo. Ou então era só porque ele me olhava com seus olhos escuros, parecendo dois buracos negros que a qualquer momento sugariam minha alma.

— Pode ser! — Disse, dessa vez forçando uma animação.

— Ufa! Por um minuto achei que você ia dizer não... — Falou sorridente. Mal sabe ele que eu também pensei. — Essa quinta já tem reunião. Você pode ir?

Eu disse que sim, e no mesmo momento chegaram três pessoas na sala. Automaticamente fingimos que não estávamos conversando e ele se levantou para sair da sala, que foi quando eu me perguntei: como é que eu entrei nessa burrada?

💘

Quero só ver no que vai dar essa "ajuda" de Clara... Ela se mete em cada coisa né? Mas tenho certeza que vai ser bom pra ela.

Lembrando vocês de escutarem a playlist do livro que está na minha bio, e as músicas estão na ordem dos capítulos!

Votem e comentem!

Um beijo, querido leitor! 💘

As Palavras Não DitasOnde histórias criam vida. Descubra agora