O Natal era uma das épocas que eu mais gostava. Toda minha família se reunia desde quando eu tinha uns 7 anos na nossa casa de campo. Meus pais, meus tios e meus avós decidiram construir uma casa no interior para passar alguns finais de semanas e feriados, e foi a melhor decisão da vida deles. Era o lugar perfeito para descansar e esquecer de tudo da cidade, e eu estava desesperadamente precisando disso.
Depois que Clarisse me convenceu a ir para a casa de campo, essa se tornou a coisa que eu mais ansiava. Me desligar de tudo o que me conectava a Gustavo era o que eu mais queria. Eu só não imaginava que minha vida amorosa se tornaria pauta durante as refeições em família. Eu queria esquecer, porém meus familiares tornaram isso impossível.
Foi no primeiro jantar em família, no primeiro dia que chegamos, que minha avó perguntou porque Gustavo não tinha vindo, e eu tive que dizer que terminamos (talvez pela primeira vez sem chorar!). As reações foram as melhores, nas quais eu até ri.
Minha avó exclamou: — Pelo amor de Deus! Misericórdia! — Enquanto cobria a boca de surpresa.
Tia Mari disse baixinho com cara de pena: — Eu jurava que iam casar...
Tio Juca arqueou a sobrancelha e perguntou: — Ainda posso chama-lo para ser meu estagiário?
E o meu avô foi o melhor, que perguntou: —Quem é esse Gustavo? — Porque ele tem Alzheimer.
Não dei muitas explicações, só disse que não estava dando certo e que tínhamos algumas ideias divergentes. Eles não perguntaram muito, só Tia Alice, mãe de Clarisse, que disse:
— Fica tranquila, meu bem. Tem muitos peixes no mar.
Eu sorri na hora, mas internamente sofri. Eu só queria um peixe, que era Gustavo, e não tê-lo mais era péssimo. Eu mentiria se dissesse que não me imaginava mais com ele. Pelo contrário; a cada 10 minutos eu criava uma fic na minha cabeça na qual ele voltava para mim, dizendo não saber viver sem mim e que faria qualquer coisa para estar ao meu lado. Pois bem, essa não era a realidade.
Depois do jantar fui até o quintal e me sentei na rede olhando as estrelas que eu só conseguia ver ali. Além delas era possível ver a lua, quase completamente cheia, trazendo um pouco de luz para aquela cidade de interior. Debaixo daquela mesma lua estava Gustavo, mas será que ele estava pensando em mim? Será que ele sentia minha falta como eu sentia dele?
Peguei meu celular e fiz algo que ainda não tinha feito desde que eu esqueci meu celular em casa antes de viajar: stalkear meu ex. Abri seu perfil e vi que ele tinha apagado nossas fotos juntos, coisa que eu ainda não tinha feito. Não contive o choro ao tomar coragem de fazer o mesmo. Apaguei as fotos de uma vez só, para ver se o sofrimento passava logo de uma vez, mas não passou.
Levei um susto ao escutar passos, mas ao olhar pro lado vi que era apenas minha prima.
— Te assustei? — Ela perguntou se aproximando para sentar ao meu lado.
— Só um pouco... — Ri baixinho, mesmo com lágrimas. Lisse olhou para mim avaliando meu estado.
— Ta chorando de novo? Achei que já tinha passado dessa fase. — Ela disse, não com desdém, mas provavelmente pensando "e lá vamos nós de novo".
Eu olhei rápido para ela e depois voltei a olhar para lua. Eu sentia um aperto no peito toda vez que lembrava que eu não teria mais Gustavo comigo, e naquele momento não era diferente.
— Eu quero ele de volta... — Falei e dei uma fungada. — Eu não quero outro alguém. Eu quero ele.
— Você está falando isso porque esse foi seu primeiro amor, Clara. Eu sei que pode parecer que ele era perfeito para você, mas nós duas sabemos que não era bem assim. Mas não fique pensando nisso agora. Você tem que olhar para você mesma agora. Focar em você.
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As Palavras Não Ditas
Teen Fiction+12 | E se, por um momento, tudo o que você achava ser perfeito na sua vida começasse a desmoronar bem diante dos seus olhos? Aquilo que você jurava ser impossível de dar errado te surpreendeu. Clara, em meio à transição para a vida adulta, se vê di...