Irineu, você não sabe, nem eu
Luís: Clara, primeiramente desculpa pela crise de raiva que eu tive ontem.
E segundamente, obrigado por ter feito um milagre no aplicativo! Eu nunca seria capaz de fazer aquilo como você.Dênis: Faço das palavras de Luís as minhas. Com exceção da parte da crise de raiva.
Tenho que admitir que você tem muito potencial. Talvez eu esteja indo longe demais, mas acho que você se daria muito bem no curso de design gráfico, ou até programação.Thomas: Ainda estou sem palavras. Só tenho que agradecer.
Clara: Foi um prazer! Precisando, é só chamar!
Passei o resto da minha sexta-feira estudando e depois assisti um filme da Disney com meu pai e Miguel em casa para descansar. No sábado também sentei a bunda na cadeira para não errar tantas questões de Humanas estudando Era Vargas e Ditadura Militar. Nada que eu gostasse de estudar. Mas afinal, havia alguma matéria que eu gostava?
No domingo, antes do simulado, fomos almoçar na casa dos meus avós porque meu avô estava completando 83 anos, e minha família não deixava nenhum aniversário passar batido.
— Você ainda está metida com aqueles nerds? — Clarisse perguntou enquanto se servia na mesa e me olhou como se estivesse procurando alguma coisa em mim.
— Talvez. — Disse. Ela me olhou por baixo como se estivesse suspeitando de mim. — Qual é o problema? Estou aprendendo tantas coisas novas com eles. E além disso eu me divirto. — Dei de ombros e continuei a me servir.
— Não tem problema nenhum. É só que você nunca se interessou por nada desse gênero, mas depois que o carinha da informática te chamou para participar você foi atrás sem pensar duas vezes.
Ela caminhou até uma mesa vazia e eu a segui. Claro que eu tinha pensado duas vezes. Eu devo ter pensado umas 10 vezes antes de aceitar, mas o que pesou foi o fato Thomas ter pedido a minha ajuda depois de ter me ajudado sem eu nem pedir.
— Nossa Lisse, você queria que eu dissesse não depois de Thomas salvar a minha vida? — Perguntei me sentando de frente para ela.
— Ah, então o nome dele é Thomas... — Ela disse com um sorriso brincalhão e eu revirei os olhos. — Bem que eu notei você mais feliz ultimamente.
— O que isso tem a ver? — Perguntei franzindo as sobrancelhas.
— Vou deixar você descobrir por conta própria. — Clarisse disse e levou uma garfada na boca enquanto erguia as sobrancelhas, parecendo bem convencida.
Eu achei melhor ignorar do que ficar rebatendo. Afinal de contas eu estava feliz sim, mas porque eu estava saindo da minha bolha e descobrindo novos ares. Finalmente eu estava me sentindo completa depois do término com Gustavo, e não tinha sensação melhor que essa.
Depois que almoçamos cantamos parabéns para o meu avô, que parecia não fazer ideia do que estava acontecendo. O Alzheimer faz isso e muito mais. Por exemplo, eu havia percebido que ele fingiu ter lembrado de mim hoje só para não me decepcionar quando eu dei parabéns para ele. Mas acho que no fundo ele sabia que eu era alguém especial.
Como ainda tinha o simulado para fazer, meu pai precisou me levar à escola nas carreiras, coisa que ultimamente havia ficado mais corriqueira. Cheguei na escola 10 minutos antes dos portões fecharem, e minha sala já estava lotada. Nanda e Gabi estavam uma atrás da outra, mas estavam com a cara fechada. Será que elas ainda estavam se estranhando?
Sentei no meu lugar e algum tempo depois iniciamos a prova. Como sempre, a primeira coisa que eu fiz foi olhar o tema da redação, que para minha surpresa era: "Reforma na grade curricular escolar: todas as matérias são úteis para o mercado de trabalho?". Os textos motivadores falavam sobre como é importante implementar matérias optativas que direcionem os discentes à sua futura laboração.
Eu não poderia me encontrar mais com aquilo. Na escola não havia nada que me interessava nem que me levasse à almejar alguma carreira. Me lembrei de como eu gostei de fazer o design do aplicativo do Irineu e pensei como seria legal se tivesse uma matéria que ensinasse coisas desse gênero. Então comecei a escrever a redação muito inspirada por tudo que estava vivendo.
Quando me dei conta, eu já havia terminado, porém ainda faltava todas as questões de linguagem e humanas para responder. Eu tinha tempo, mas precisa espairecer depois do brainstorm que se fez na minha cabeça, e por isso pedi para ir até o banheiro para caminhar um pouco e lavar o rosto.
Eu estava enxugando o rosto quando escutei alguém entrar no banheiro feminino, o que era estranho porque só liberavam um menino e uma menina por vez, para evitar cola. Mas levei um susto ao olhar para a porta e ver que quem havia entrado no banheiro tinha sido Paulo, que parecia estressado e raivoso.
— O que você está fazendo aqui? — Perguntei assustada, franzindo a testa.
Paulo caminhou até mim sem dizer nada e segurou meus ombros me colocando contra a parede, o que me fez ranger de dor pelo impacto das minhas costas no concreto. Se ele estava esperando que eu passasse cola para ele, estava muito enganado. O máximo que ele levaria de mim seria um chute no meio das pernas.
— Você está maluco?! — Quase gritei e ele tampou a minha boca.
— Isso é pra você aprender a não se meter no meio do namoro de outras pessoas. — Ele disso com calma, como se não tivesse acabado de me machucar.
Então me dei conta do que havia acontecido. Provavelmente Gabi conversou com ele sobre a garota que eu vi conversando com ele. Eu empurrei ele com força e ele me soltou, mas continuou impedindo minha passagem.
— Qual é o seu problema?! Eu estou preocupada com a minha melhor amiga e se precisar me meter no namoro dela para protege-la, eu irei! — Falei tentando sair da sua frente, porém mais uma vez Paulo segurou meus ombros contra a parede. — Eu vou gritar!
— Grita! Grita, que assim que eu sair dessa prova toda escola vai saber o que levou você e Gustavo terminarem. — Senti meu corpo ficar pesado e me apoiei na parede para não desmaiar ali mesmo. — É melhor você parar de colocar mentira na cabeça de Gabi. Não é porque o seu namoro deu errado que você precisa destruir o de todo mundo. Cuide da sua própria vida e ninguém vai se machucar nessa história.
Então ele me soltou e saiu pela porta do banheiro como se nada tivesse acontecido.
Eu tinha a sensação que Paulo era problemático, mas naquele momento eu tive plena certeza. Meu coração apertou em saber que minha amiga estava com uma pessoa assim e fiquei preocupada ao imaginar o que ele seria capaz de fazer com ela. O que mais doía era que eu estava impelida a ficar calada.
Eu não queria que mais pessoas soubessem que Gustavo terminou comigo porque eu não quis dormir com ele. Era vergonhoso demais só de imaginar toda escola sabendo disso e me julgando. Uma onda de ódio misturada com tristeza se fez dentro de mim ao me sentir impotente em meio a essa situação.
Naquele momento eu tentei engolir o choro e a raiva, e voltei para a sala como se nada tivesse acontecido. Nanda olhou para mim e franziu as sobrancelhas, porque deve ter notado meus olhos vermelhos tentando segurar as lágrimas. Fiz a prova com dificuldade, porque era difícil se concentrar depois do baque que eu levei.
Saí da sala faltando 20 minutos para a prova acabar e pedi logo pro meu pai vir me buscar. Se eu passasse mais tempo no mesmo ambiente que Paulo era capaz de eu surtar igual à Luís com o Irineu. Lembrei dos meninos e desejei estar com eles me distraindo da minha vida problemática com suas conversas intelectuais e geeks. Talvez Clarisse estava certa sobre algumas coisas.
💘
O que vocês fariam no lugar da Clara hein? Confesso que eu não sei o que faria!
Provavelmente vou mudar o dia de postagem para segunda-feira, tudo bem? Ou vocês têm alguma sugestão melhor?
Lembrem de votar!
Um beijo, querido leitor! 💘
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As Palavras Não Ditas
Teen Fiction+12 | E se, por um momento, tudo o que você achava ser perfeito na sua vida começasse a desmoronar bem diante dos seus olhos? Aquilo que você jurava ser impossível de dar errado te surpreendeu. Clara, em meio à transição para a vida adulta, se vê di...