— Você está louca, Clara?! Por acaso perdeu o juízo?! O bom senso?! — Clarisse só faltou sair pelo telefone para puxar minha orelha até ela desgrudar do meu corpo.
Depois de passar alguns minutos me escondendo no banheiro, tomei coragem para sair e fui até a lanchonete, tentando fingir naturalidade enquanto eu pedia ajuda para a única pessoa que sabia sobre Thomas, que era a minha querida prima.
— Eu nem ia beijar ele! Eu só ia agradecer por tudo que ele estava fazendo por mim... Mas na hora eu entrei em pânico! — Falei sussurrando na parede da lanchonete, esperando meu misto quente ficar pronto.
— Quem é que agarra um cara quando entra em pânico? Clara, por que em sã consciência você fez uma coisa tão estúpida como essa?! — Ela gritou tão alto que eu até distanciei o celular do ouvido. Fiquei pensando se ela estava falando alto desse jeito na frente de todos da empresa.
— Lisse, para! Eu sei que eu errei, ok? É por isso que eu estou te ligando, pra você me ajudar, e não pra me crucificar! — Eu já estava nervosa e com minha prima gritando no pé do meu ouvido eu estava só piorando.
— Certo, certo. Desculpa... — Ouvi Clarisse suspirar. — Eu sei que você está gostando dele. Não precisa nem me dizer nada. Desde que você começou a ir pra faculdade pra se encontrar com o grupo de Thomas eu vi que havia alguma coisa... Mas Clara, eu acho que você não está entendendo. Por acaso você esqueceu que você é de menor e ele de maior? Além de ser demitido ele pode ser preso! E isso nem vai ser culpa dele! É sério!
Fechei os olhos com força só de pensar nessa possibilidade. Aonde eu estava com a cabeça? Qual era a chance de eu e Thomas darmos certo diante daquelas circunstâncias? Eu certamente estava cega para tudo isso, e eu culpava seus olhos mágicos. Eles deviam ter me hipnotizado.
— E agora? O que eu faço? — Perguntei tentando manter a calma.
Nessa hora meu misto quente ficou pronto, então eu peguei e sentei numa mesa sozinha para que ninguém me escutasse.
— Primeiro, esqueça essa sua paixonite por Thomas. É perigoso demais. Segundo, converse com ele pedindo desculpas e aproveite para pedir para ele resolver a questão das câmeras.
Eu odiava o fato de Clarisse estar sempre certa. Realmente, era perigoso demais. Se qualquer pessoa daquela escola soubesse que eu estava pegando ônibus com ele até a faculdade, teríamos sérios problemas. Eu não tinha escapatória naquele momento. Então eu agradeci e desliguei o telefone ainda me odiando por tudo que tinha feito.
— Ei, você! — Nanda brotou na cadeira ao meu lado, me dando um leve susto. — Onde você estava? Não te vi mais cedo na sala, não te vi no início do intervalo... O que você está escondendo de mim?" Ela falava num tom de brincadeira, como quem nunca imaginaria o que eu tinha acabado de fazer.
— Eu falei com Gabi. — Só não disse quando. Nanda ergueu as sobrancelhas. — Mostrei mais algumas coisas de Paulo... Acho que ela vai terminar com ele.
— Sério? Mesmo depois de tudo você ainda foi atrás dela? — Nanda cruzou os braços para mim.
Eu entendia porque ela pensava assim, afinal Gabi realmente escolheu acreditar nas mentiras de Paulo do que em mim, e eu mentiria se dissesse que isso não tinha me machucado. Só que eu sabia muito bem o porquê de tudo isso.
— Dependência emocional é uma droga. Eu cheguei bem perto disso e sei que não é fácil. — Nanda franziu as sobrancelhas. — É como se sua identidade e tudo o que você é se baseasse no seu relacionamento, e é por isso você não consegue escapar. Porque você acha que sem aquela pessoa você não é nada. É uma idolatria.
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As Palavras Não Ditas
Fiksi Remaja+12 | E se, por um momento, tudo o que você achava ser perfeito na sua vida começasse a desmoronar bem diante dos seus olhos? Aquilo que você jurava ser impossível de dar errado te surpreendeu. Clara, em meio à transição para a vida adulta, se vê di...