Sexta-feira eu tinha prova de recuperação, por isso passei a maior parte do meu tempo livre estudando exatas e naturezas, e já não aguentava mais. Por esse mesmo motivo, passei as primeiras aulas do dia sentada no fundão da sala fazendo algumas questões para exercitar antes da prova.
Minhas amigas perceberam que eu não estava no meu lugar de sempre: a primeira cadeira de frente para a mesa do professor, só assim para eu prestar atenção. Mas dessa vez era uma exceção. Eu precisava passar naquela prova para ficar mais tranquila nos outros simulados.
— O que você têm? — Gabi perguntou de braços cruzados.
— Estou estudando. — Falei voltando minha atenção para o livro.
— A gente sabe, mas por que está isolada aqui? — Nanda perguntou.
Eu não tinha dito que tinha ficado de recuperação para elas por um motivo simples: vergonha. A orientadora Olívia disse as notas de alguns alunos para mostrar como eu estava abaixo da média. Nanda sempre presta atenção nas aulas e se sai bem nessas provas, disso eu já esperava, mas Gabi passava as aulas conversando com Paulo e suas notas eram bem razoáveis, mas dessa vez ela se saiu bem melhor do que eu.
— Porque... — Pensei em alguma desculpa. — Eu... estou com muito frio. — Falei apertando os lábios.
— Mas você nem está de casaco agora. — Gabi franziu as sobrancelhas.
— Porque aqui não está frio. Só lá na frente. — Falei e voltei a me concentrar.
— Não quer lanchar com a gente? — Nanda perguntou.
— Não, não... podem ir. — Falei, mas elas continuaram paradas na minha frente, então eu levantei o rosto e dei um sorriso para que ela soubessem que eu estava bem, até que elas saíram.
Passei o resto das aulas estudando até chegar a hora do almoço. Precisei fugir para a biblioteca para que Nanda e Gabi não notassem que eu ia ficar de tarde para a recuperação. Depois de ter almoçado um sanduíche natural e um suco de laranja fui fazer a prova.
Não foi tão ruim quanto o simulado que tínhamos feito no domingo. Eu consegui fazer as questões com mais calma e noção, mas só saí da sala de 18:30, ou seja, fiquei na prova até o tempo limite. Me surpreendi quando vi que a escola estava quase vazia e liguei logo para o meu pai, porque Lisse havia avisado que levou o carro para oficina, e por isso não tinha como me buscar. Meu irmão tinha ido mais cedo com os pais de um colega da sua turma.
— Alô, Clara? — Ele finalmente atendeu, mas percebi que estava sussurrando.
— Oi pai... O senhor está chegando? Porque já está perto de dar 19h, e a escola vai fechar... — Eu andava de um lado para o outro vendo os funcionários da escola baterem o ponto, o que me deixava ainda mais ansiosa e preocupada.
— Filha, eu estou no meio de uma reunião que acabou de começar, e não posso te buscar. Você não tem mais ninguém para voltar?
— Não... Todos já foram embora...
— Pega um Uber então. Ou então pega um ônibus. — Ele disse num tom baixo. Eu quase ri. Até parece que eu ia pegar um ônibus...
— Tem como o senhor pedir um uber para mim? Meu celular está em 5%...
Meu pai não respondeu. Chamei ele mais algumas vezes até que tirei o celular do meu ouvido e vi que tinha descarregado. Maldita bateria viciada! Agora eu precisava de um carregador emprestado. Perguntei para alguns funcionários se algum deles tinha carregador para o meu celular, mas nenhum deles era compatível.
E agora? Como eu chegaria em casa? Não tinha mais quase ninguém na escola e as pessoas que restavam ali estavam indo embora, provavelmente para pegar um ônibus. Foi aí que eu lembrei que meu pai sugeriu isso, mas eu teria que ir logo pelo menos junto com os funcionários para não sair sozinha.
Eu nem sabia como isso funcionava, até então nunca havia precisado. Como se pega um ônibus? Como eu sei para onde ele vai? Se antes eu estava nervosa, não sei como fiquei depois. O jeito seria entrar em qualquer um que me levasse pra qualquer lugar, porque a escola já estava fechando, e eu não podia ficar esperando do lado de fora, a não ser que eu quisesse ser assaltada.
Então me fingi de resolvida e fui andando para fora da escola. Ao botar meus pés pra fora do território escolar já quis voltar. A rua estava escura e esquisita, com algumas pessoas que saiam da escola, mas que estavam entrando em seus carros. Eu sabia que havia uma parada do outro lado, ao atravessar a rua e foi pra lá que eu fui. Caminhei rápido até lá, com medo de que fosse sequestrada ou assaltada.
Chegando na parada, vi que haviam algumas pessoas, o que me tranquilizou um pouco, eu acho. Eu até poderia perguntar à alguém qual era o ônibus que me levaria até em casa, ou o mais perto possível, porém todos eles se levantaram ao ver um ônibus se aproximando. Ele era identificado por quatro números que eu não fazia a mínima noção que significava. Todas aquelas pessoas fizeram fila para entrar no ônibus, dentre eles alguns funcionários da escola, então, por impulso, fui também. Se tinha uma coisa que eu não queria era ficar sozinha naquela parada esquisita.
Dei o dinheiro ao cobrador e girei a catraca. Tive uma oportunidade para perguntar para onde esse ônibus iria, mas fui empurrada por outras pessoas que estavam entrando atrás de mim. Achei um lugar vago do lado da janela e pra lá eu fui. Não demorou muito pro ônibus entrar em movimento. E agora? O que fazer? Eu ainda não sabia pra onde estava indo. A vontade que eu tinha era de gritar no ônibus perguntando se ele passava pelo menos no meu bairro. Porém não.
Enquanto eu reclamava no meu interior, um homem sentou do meu lado sem pedir licença ou dar boa noite. Ele parecia ter mais de 40 anos, era barbudo, gordinho e cheirava a álcool. Fiquei um pouco assustada; ele era estranho. Sendo que eu precisava saber qual era o destino desse ônibus. Sera que ele poderia dar uma resposta certa estando bêbado?
— Com licença moço... — Falei cutucando seu ombro pra chamar sua atenção. Ele olhou pra mim franzindo as sobrancelhas (me assustando um pouco) e me esperou dizer alguma coisa. Afastei minha mão dele com receio e continuei: — O senhor pode me dizer por onde esse ônibus passa? Estou meio perdida... — Tentei rir para mascarar meu medo e ele riu também. Mas seu sorriso era malicioso. Me arrependi de ter dito qualquer coisa imediatamente.
— Eu posso te ajudar! A minha parada é a próxima, aí você desce comigo que eu te digo qual ônibus pegar... — Ele disse com um bafo terrível. Comecei a sentir palpitações e a ficar gelada. Esse rapaz não era nada confiável.
— Não... Só me diga o trajeto dele...
— Me diz aonde você mora, mocinha, que eu te ajudo...
Foi aí que eu percebi que entrei numa furada. Aquele homem não queria me ajudar, e eu preferia nem saber o que ele queria. Por isso, peguei minha mochila e tentei me levantar e sair dali o mais rápido possível, mas sua mão agarrou meu braço com força.
— Aonde você pensa que vai? — Ele disse com aquele mesmo sorriso maléfico.
💘
E agora minha gente? Clara às vezes é meio burra, né? Não julgo porque às vezes sou assim também kkkkkk
Hoje vou postar só um capítulo mesmo, já que o capítulo passado não teve tantos votos, mas quinta-feira eu posto a continuação!
O que será que vai acontecer?
Um beijo, querido leitor 💘
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As Palavras Não Ditas
Novela Juvenil+12 | E se, por um momento, tudo o que você achava ser perfeito na sua vida começasse a desmoronar bem diante dos seus olhos? Aquilo que você jurava ser impossível de dar errado te surpreendeu. Clara, em meio à transição para a vida adulta, se vê di...