Depois que deixamos Gustavo em casa e voltamos para nossa casa, troquei de roupa, tirei a maquiagem, fiz um skin care e fui dar uma olhada no meu celular.
Nanda
Nanda: Claraa
Saíram as notaass
Vê se tu passouuEu: Ai, meu Deus...
Saí correndo para o computador do escritório, e ao chegar lá vi que Miguel estava jogando Fortnite. Ele nunca sairia da partida para me deixar ver as notas, e por isso eu nem quis o atrapalhar. Então fui até a sala onde meus pais assistiam televisão para pedir ao meu pai o seu computador.
— Estamos assistindo o filme, minha filha. — Foi o que minha mãe disse quando eu pedi.
— Me diz onde está que eu pego!
— Está no carro. — Meu pai falou sem nem olhar para mim.
Eu não ia trocar de roupa só para pegar o computador na garagem do prédio. O que eu fiz? Fui do jeito que estava: um short de moletom e uma regata com gatinhos (podia ser pior). O pior que poderia acontecer seria tombar com algum vizinho. Chamei o elevador orando para que ninguém aparecesse. Graça a Deus estava vazio.
Eu estava com muito medo de ver as minhas notas. E se eu tivesse ficado em recuperação? Isso faria meus pais não me deixarem mais ir àquela viagem. O que me assustava era a nota de matemática e biologia. Nunca fui muito boa, e sempre precisava estudar horrores para tirar um 7. E afinal era só disso que eu precisava.
O elevador chegou no estacionamento (que estava vazio) e eu sai andando rápido para não ser vista nem pelo porteiro. Abri a mala do carro do meu pai, peguei a bolsa onde estava o computador e voltei correndo para que o elevador ainda estivesse ali. Entrei no elevador vazio e suspirei de alívio. A porta já estava quase fechando quando alguém a segurou. Era Chico, que levou um susto ao me ver e até relutou pra entrar, mas entrou.
— Você está de pijama? — Ele perguntou rindo e evitando olhar para mim ao mesmo tempo, enquanto clicou no seu andar.
— Não... é só uma roupa para ficar em casa... —Falei cobrindo meu colo com a bolsa.
— Sei... — Ele segurou o riso e continuou olhando para a porta.
A parte chata disso é que ele conhecia Gustavo quando estudava na nossa escola. Ás vezes eu pegava carona com ele e vice-versa, mas nunca fomos muito próximos. Ele devia estar com uns 20 anos, na faculdade de sei lá o quê e não deveria ter mais tanto contato com Gustavo. O resto do percurso foi calado, sem contato visual e vergonhoso, até parar no andar dele.
— Seu namorado deve estar passando bem... — Ele saiu do elevador olhando para o chão, mas dava pra ver seu sorrisinho.
Como ele ousa falar isso?? Me senti como se tivesse recebido uma cantada de pedreiro. Fiquei morta de vergonha e me sentindo até culpada. Custava colocar uma roupinha mais composta? Eu e minha falta de bom senso...
O elevador parou no meu andar e eu entrei no apartamento. Meus pais não tiraram os olhos da televisão, nem deviam ter notado que eu havia saído. Segui para o meu quarto ainda martelando aquela frase dita por Chico na minha cabeça. Mas que audácia! Tinha até esquecido que tinha que ver as notas.
As notas!
Ignorei meu repúdio ao que Chico disse sobre mim e liguei o computador já abrindo o explorador para entrar no site da escola. Loguei na minha conta e cliquei em emitir boletim. Meu coração palpitou. A tela demorou pra carregar e eu ficava cada vez mais ansiosa até que o boletim apareceu.
Fui vendo as notas que eu havia tirado uma por uma, e um sorriso foi esboçando no rosto. Me saí bem em todas! Não, espera..., pensei, pois quando eu fui ver a nota de matemática eu até suei frio. Nota 6. Olhei de novo e vi que era a única nota abaixo de 7. O que me deixava tranquila era que eu já havia passado na média final, porém minha mãe me obrigaria a fazer aquela recuperação. E agora?
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As Palavras Não Ditas
Fiksi Remaja+12 | E se, por um momento, tudo o que você achava ser perfeito na sua vida começasse a desmoronar bem diante dos seus olhos? Aquilo que você jurava ser impossível de dar errado te surpreendeu. Clara, em meio à transição para a vida adulta, se vê di...