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QUANDO ACORDO PELA MANHÃ passo a mão pela cama e só sinto os lençóis frios. Abro os olhos e levanto o corpo me sentando naquela cama enorme que tinha no quarto da Ana.

Com calma vou ao banheiro e faço toda minha higiene pessoal, arrumo o cabelo de maneira improvisada e vou a procura de Ana. Logo a encontro, sentada em uma espreguiçadeira acolchoada que ficava de frente para a piscina, dedilhando com calma alguma música em seu violão, paro de caminhar e me apóio na porta que dava acesso aquela área assim que a mulher se põe a cantar.

- Eu e você/ Não é assim tão complicado/ Não é difícil perceber/Quem de nós dois/ Vai dizer que é impossível/ O amor acontecer/ Se eu disser que já nem sinto nada/ Que a estrada sem você é mais segura/ Eu sei você vai rir da minha cara/ Eu já conheço o teu sorriso, leio teu olhar/ Teu sorriso é só disfarce/ E eu já nem preciso...

Ouvir a Ana cantar era de fato uma das minhas partes favoritas de viver perto dela.

- ... No vão das coisas que a gente disse/ Não cabe sermos somente amigos/ E quando eu falo que eu já nem quero/ A frase fica pelo avesso/ Meio na contra-mão/ E quando finjo que esqueço/ Eu não esqueci nada/ E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais/ E te perder de vista assim é ruim demais/ E é por isso que atravesso o teu futuro/ E faço das lembranças um lugar seguro/ Não é que eu queira reviver nenhum passado/ Nem revirar um sentimento revirado/ Mas toda vez que eu procuro uma saída/ Acabo entrando sem querer na tua vida...

Ana Carolina era poesia pura, aquela mulher esbanjava arte toda vez que abria a boca, essa era a mais pura verdade. E essa voz... Nossa essa voz me enlouquece!

- Se pra ter isso toda vez que eu acordar eu tiver que casar contigo, então se arruma que a gente tem um compromisso no cartório agora!- Me aproximo vendo a mulher sorrir abertamente. Ela larga o violão de lado e me põe em seu colo, com uma perna de cada lado.

- Bom dia- Ela diz depois de me dar um selinho.

- Bom dia. Já te falei que eu amo te ouvir cantar?

- Acho que sim, mas eu adoraria ouvir novamente!

- Eu. Amo. Te. Ouvir. Cantar!- Digo pausadamente e lhe dou um beijo na bochecha.

- Essa música minha me lembra você... Por isso que ela é minha favorita- A mais velha assume.

- Que bom que uma música tão linda te lembra eu- Digo verdadeiramente.

- Tudo oque é bom me lembra Você - ela conta- O céu, as canções de amor, minhas pinturas favoritas, Gal Costa me lembra você, seu sorriso- ela enfia o rosto em meu pescoço e eu acaricio seus cabelos- Seu cheirinho adocicado... Até o latido do André anda me lembrando você- Ela me olha com admiração- E aí quando eu te vejo depois de alguma turnê eu me lembro como eu não quero mais ficar longe de você, nunca mais, a vida não teria a mesma graça.

- Eu também não quero viver longe de você, Ana Carolina Souza- Ela sorri, eu também sorrio. Aquele sorriso é minha casa.

***

Depois do almoço Ana dormia calmamente ao meu lado da cama, eu lia algumas coisas do trabalho e admirava o monumento deitado quase que em cima de mim, com as pernas entrelaçadas as minhas e os fios longos espalhados pelo meu travesseiro já que o dela estava totalmente vago.

De repente ouço a campainha tocar, entrei em um debate se acordava ou não a mulher e decidi que era melhor não, ela tinha voltado de uma turne extensa, por isso estávamos matando a saudade dormindo juntas a uns dois dias, e eu sabia que minha morena estava cansada.

Levanto com cautela e vou ao andar de baixo atender a porta já que a funcionaria de Ana já tinha ido para casa. Assim que abro dou de cara com a mãe de Ana, mulher na qual tinha fotos espalhadas por toda a casa. Sinto meu corpo gelar e de repente meu coração acelera.

- Boa tarde - Falho ao tentar não gaguejar.

- Boa tarde, querida- Ela sorri gentilmente- Sou a mãe da Ana, Aparecida, prazer- Ela estica a mão e eu logo a cumprimento- Você deve ser a namorada da Ana- acho fofo, mas não posso deixar de corar as bochechas com o comentário da matriarca.

- Clara Albuquerque, o prazer é meu- Afasto para o lado e ela entra na casa- E não, eu não sou namorada da Ana - Ela solta um risinho e eu me apoio na porta vendo aparecida sentar-se no sofá.

- Então é oque dela?

- Eu sou...- Tá, eu não tinha uma resposta concreta, a Ana não queria viver sem mim e era algo recíproco, mas também não namorávamos, só agimos como namoradas na maior parte do tempo - Amiga dela... Uma amiga que ela beija as vezes- Digo baixo o final.

- A não- Ela ri como se aquilo fosse a coisa mais engraçada do mundo- A Ana não beija as amigas dela, tem um motivo por trás e talvez ela te conte, mas de fato vocês não são amigas, ou são amigas ou se beijam, mas os dois não- Ela fala convicta- E você também não é um casinho da minha filha, porque a minha Ana não trás seus casinhos para a casa que ela tem como um templo próprio- Me impressiono, mas me mantenho em silêncio - Então se vocês não namoram AINDA, a minha filha com certeza planeja mudar isso. Em falar nela, aonde ela tá?

- Ela tá lá em cima dormindo, mas se a senhora quiser eu posso chama-la...

- Mãe?- Ana aparece na escada com cara de sono e o cabelo bagunçado. Linda- Tá fazendo oque aqui?

- Isso é jeito de falar com sua mãe, Ana Carolina?!- A mais velha lhe repreende, mas logo abraça a filha quando a mesma se aproxima.

- Desculpa, é que a senhora nunca aparece sem avisar...- Eu que observava tudo em silêncio permaneci em silêncio, mas agora sentada na ponta do sofá.

- Se não estivesse hibernando veria as mensagens que lhe mandei- A mulher diz- Ah, e vai arrumar esse cabelo, isso lá é jeito de ficar na frente da sua... Seja lá oque ela for!

Ri baixinho ao ver Ana ir ao banheiro de visita.

- Eu juro que eu não criei ela assim, se perdeu depois que saiu debaixo da minha saia!- Ela se justifica me fazendo rir.

Ana logo volta com o cabelo preso e uma cara menos emburrada.

- Mãe, essa é a Clara, minha...- Ana se perde assim como eu tinha me perdido.

- Eu já sei- Dona Aparecida intervem- A moça já me explicou. Vê se assume logo ela, Carolina!- A mulher segue para a cozinha e Ana me olha com dúvida.

- O que você disse pra ela?- Ana sussurra.

- Eu não disse nada- Sussurro de volta e então vamos até a cozinha.

Dona Aparecida colocava algumas coisas sobre a bancada, aparentemente um bolo seria feito.

- Senti sua falta e como você não vai até sua mãe, decidi vim por conta própria - Dona Aparecida diz indo até a dispensa no cômodo do lado.

- Se você quiser eu posso ir embora- Falo baixo para que só a Ana escute.

- Não, tá tudo bem, eu quero você pertinho de mim- ela beija minha testa- E pelo menos você conheceu minha mãe- Ela sela nossos lábios rapidamente me deixando com um sorriso bobo.

***

A TARDE PASSOU VOANDO, A MÃE da Ana, além de muito engraçada, fazia um bolo de laranja maravilhoso.

Ruan tinha me ligado para dizer que sua avó tinha sido liberada do hospital e eu prometi que veria Dona Beth no outro dia pela manhã, afinal já estava tarde e ela precisava descansar.

Tinha decidido que dormiria em casa naquela noite, mesmo que Ana não quisesse eu fui. Confesso que aquela noite eu demorei a dormir pela falta do cheiro da minha morena, mas assim que dormi fiz questão de sonhar com ela.

Envolver-Ana CarolinaOnde histórias criam vida. Descubra agora