Capítulo 18

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25 de Janeiro, Domingo – Sarah Monteiro

Estávamos a exatos dez minutos em silêncio, Ezequiel viu uma praça e estacionou o carro em frente a um banco de madeira, tirou o cinto e logo me olhou.

- O que acha de conversarmos naquele banco? - falou apontando para o banco que estava vazio, a praça estava lotada, tinham pessoas passando por ali com seus filhos e algumas vendinhas.

- Tudo bem, vamos lá - tiro o cinto, o garoto desceu do carro e abriu a porta para mim - obrigada - falo descendo do carro sorrindo, Ezequiel anda mexendo comigo de uma forma diferente, nunca senti o que sinto por ele, mas jamais me envolveria com ele sabendo que ele ainda pensa que Deus é culpado por algo, ele precisa conhecer Jesus primeiro e conhecer o amor que Jesus tem pela sua igreja, só assim ele saberá me amar de verdade.

- O que quer conversar comigo? - o ruivo fala enquanto caminhamos em direção ao banco.

- Ontem orei por você antes de dormir, tenho feito isso desde que te conheci, mas tive um sonho estranho com você... - faço uma pausa porque o sonho era aterrorizante para mim, percebi que ele me olhou curioso, respirei fundo e continuei - no sonho eu abria a porta do seu quarto e você estava sentado na cadeira da sua escrivaninha, você estava vendo algumas fotos em um álbum e chorando, a cada foto que você via eu dava um passo e meu peito doía, a dor aumentava a cada lágrima que rolava pelo seu peito, eu cheguei do seu lado e vi a foto, era o mesmo desenho que a Emma fez seu com a Hannah, coloquei minha mão em seu ombro e você me olhou, se levantou da cadeira deixando o álbum aberto na escrivaninha, eu dei um passo para trás e você estendeu seus braços para que eu os visse, os dois braços estavam cheios de sangue, você havia se cortado e me disse em meio a lágrimas "eu não aguento mais Sarah, eu preciso ir com as minhas garotas, está doendo tanto" - lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto e não consegui continuar, ele segurou minha mão, seus olhos brilhavam, estavam marejados, senti sua dor, a mesma dor no peito que senti no sonho.

- Está tudo bem, respira fundo, não precisa me contar tudo de uma vez - ele fala e logo se levanta do banco - espera só um pouquinho - ele foi até uma vendinha, demorou alguns minutos e voltou com uma garrafa de água e algo que não consegui identificar - toma um pouco de água pra ver se te acalma - ele me entregou a garrafa e depois que consegui me acalmar ele me mostrou o que trouxe - eu vi na vendinha e achei que combinava com você, espero que goste - ele colocou a sua mão na nuca com vergonha, já o conhecia o suficiente para saber que toda vez que ele ficava tímido colocava a mão na nuca.

- Que linda, obrigada Zeke, eu amei - era uma pulseira de miçanga, ela era azul clara com alguns pequenos detalhes em branco e o nome Jesus no centro, era muito fofa - obrigada mesmo - ele segurou minha mão e me olhou como se estivesse me pedindo permissão para colocar no meu braço, acenei positivamente e ele colocou, observei a pulseira e depois olhei sorrindo para o garoto que sorriu, um sorriso que eu nunca havia visto nele, ele parecia estar feliz, isso me animou.

- Consegue terminar de contar agora? - ele perguntou curioso e apreensivo.

- Sim, acho que consigo - respirei fundo e voltei a contar - eu tentei me aproximar de você e tocar nos seus braços, mas você não deixou, começou a abrir a janela do quarto e descer a escadinha que tem lá, eu te perguntei o que estava fazendo, você não me respondeu, só continuou descendo, eu comecei a correr até a entrada da sua casa e te vi correndo, comecei a correr atrás de você e vi que você tinha parado em um bar, você estava bebendo, tinha um garoto moreno ao seu lado, ele estava com uma bíblia, ele dizia que você estava vivendo o luto de maneira errada, mas você não o escutava, ele saiu do local triste, chegou uma garota e começou a dar em cima de você, ela te ofereceu um cigarro e você aceitou, passei alguns minutos te olhando, lágrimas rolavam pelo meu rosto enquanto via tudo, depois de um tempo você começou a caminhar sozinho na rua, você chorava desesperadamente, em casa você voltou para o seu quarto e sentou na escrivaninha novamente... - ele me interrompeu, lágrimas rolavam pelo seu rosto, seus olhos azuis estavam apagados.

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