Amigo Oculto

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Quando menos notei, dormi ali mesmo. Acordei no dia seguinte, cheio de dores. Dor na cabeça, dor no corpo, dor no peito... Me levantei da cama e fui direto tomar um banho. Em seguida, não havia nada além de meus próprios pensamentos.

Passou dias e dias, e nada aconteceu. Nada mesmo. Nunca acontece algo de interessante na minha vida, seja no trabalho, ou em casa, ou na rua por um acaso. Depois de dias, agora faltavam exatas uma semana e dois dias pro meu aniversário. Wow, vou completar 29 anos na solidão. Ou seja, sem amor romântico.

Amor de família, eu tive, sim. Minha vida não é uma tremenda merda, mas eu perdi esse amor aos 25 anos, que foi quando meus pais faleceram. Tenho a minha irmã, que deve ter uns 23 agora, e meu irmão caçula, que deve ter uns 10 anos. Resumindo, sou o mais velho, e o mais velho tá sempre na merda, então minha vida não é, por um lado, injusta.

Minha irmã, eu a vejo bem de vez em quando, mesmo. Não é tão raro, mas também não é frequente. Ela até conheceu o Matheus, mas não rolou nada, ainda bem. Eu não iria suportar ver esses dois se beijando e se amassando se tivessem na minha presença. E meu irmão, ele mora com minha tia, que mora em outra cidade. Então ele, não, não o vejo. E se ver, é uma vez ao ano. E se duvidar, nem é pessoalmente, e sim em chamada, vídeo ou voz.

Mas, enfim. Como eu tinha dito antes, e irei repetir. Passou dias e dias, faltando só mais alguns pro meu aniversário, e a pessoa mais próxima de mim era apenas Matheus, mas nem com ele estou falando mais... A última vez foi naquela festa que, bom, seria melhor eu nem ter ido. Matheus me ligou diversas vezes e me mandou várias mensagens, mas eu queria um tempo, pra mim mesmo... Por mais que eu sempre fique sozinho, eu precisava ficar sozinho sem ter ele, também. Eu só tô cansado, ou melhor, só a minha mente está.

Em uma noite de quinta-feira, 20h00 da noite, eu tinha acabado de chegar do trabalho. Entrei no apê e já tomei um banho. Depois do banho, fui pra cozinha, já com o maior sono, comecei a procurar algo pra comer. Não tinha nada feito. Pensei em pedir algo, mas hoje não é sexta, nem final de semana, e se não for esses dias, as comidas saem muita mais caras, e eu não cago dinheiro. Decisão final: FAZER a comida.

Suspirei e comecei a pegar as panelas, e tudo mais... Mas antes de pensar no que eu faria primeiro, o interfone tocou. Fiz uma cara confusa, já eram mais de 21h00, quase 22h00, por que alguém chamaria minha atenção? Será que fiz alguma coisa enquanto estava em estado de sonambulismo e agora vou levar advertência no caderno do condomínio? Certo, pensei demais.

Fui até o interfone e atendi.

John: Oi.

Porteiro: Oi, boa noite. Você tá esperando visita?

John: Eu? Não... Por quê?

Porteiro: Tem um cara querendo subir aí.

John: Quem é?

Porteiro: Eh... Matheus.

Aí meu Deus, minha cabeça doeu só de ouvir esse nome. Suspirei e fiquei pensando em silêncio... Deixo subir ou não? Sim, não, sim, não, sim, não...

Porteiro: Alô?

John: Oi, tô aqui.

Porteiro: Posso liberar ele?

Suspirei mais uma vez, coçando minha nuca.

John: Pode.

Desliguei o interfone, e fiquei imóvel. Tentei respirar fundo, como um cara calmo que sou, e voltei pra cozinha. Comecei a pegar o arroz pra lavar, e quando terminei de fazer isso, bateram na porta. Bom, já sei quem é. E se eu simplesmente não abrir a porta? Ele vai embora, ou dorme na minha porta?

O Coração do Virgem Nunca AmadoOnde histórias criam vida. Descubra agora