Sexta-feira, minha folga, e eu estava sentada no Extrangeiro rodando o papel nos dedos.
Marion Dutton já tinha enchido minha xícara de café três vezes e eu ainda não tinha pedido nada para comer. Senti olhos sobre mim após alguns minutos analisando os número que antes estavam no meu pescoço. Eu poderia simplesmente tê-lo deixado no lixo como fiz assim que anotei, mas não, alguma coisa me impede de esquecer. Loucura, talvez.
Olhei para cima e, dessa vez, quem passava com o bule de café era Michael. Ele levantou uma sobrancelha observadora quando notei sua presença e perguntou:
- Você está bem? Primeira vez que vem aqui e não está com dois tipos diferentes de pratos a sua frente.
Empurrei o papel de qualquer forma dentro do bolso do short e sorri, ou tentei. Ele botou o bule na mesa e se sentou de frente para mim.
- Aconteceu alguma coisa?
Neguei freneticamente.
Ele revirou os olhos.
Suspirei.
- Um garoto estúpido–
- Faz nem um mês que você chegou e já tem pretendente? Rápida você, huh? – disse Michael, sua voz parecendo ter a tonalidade perfeita para brincadeiras.
- Um ótimo pretendente. – resmunguei, ironicamente.
Michael me encheu de questionamentos sobre quem era, onde o conheci, como ele era e de onde ele surgiu pra não ser de FalconVille. Eu apenas o encarei com semblante de cansaço e esperei até que ele fizesse a última pergunta. Até porque eu não sabia muito sobre ele.
- Ele não é ninguém.
- A quem está tentando enganar?
- O que?
- Você está a quase duas horas girando esse papel entre os dedos, novata. Esse cara é alguém.
Mordi o interior da boca. Aqueles olhos invadiram minha mente e eu pressionei os meus olhos, esperando conseguir expulsar a imagem. Alguma coisa em apenas lembrar dele me fazia sentir a pele esquentar e minha respiração oscilar.
- Tudo bem. – Michael jogou as mãos pro alto e se apoiou sobre a mesa para se levantar – Já entendi. E-Eu... – ele fez sinal para o balcão e saiu.
Minha testa foi de encontro com a mesa e eu gemi, cansada. Porque Luke não saia da minha cabeça? Ele foi um completo idiota. Um imbecil nível máster. Ele deveria me causar nojo, não... não isso.
Apoiei o cotovelo sobre a mesa, levando um dos olhos até a almofada da mão. Eu já estava cheia de café, eu só precisava de um pouco de ar.
Fui até o balcão e cumprimentei a senhora Dutton com meu melhor sorriso simpático no momento. Ela aceitou meu dinheiro e me estendeu o troco.
- Você deve ser uma boa garota. – disse ela, de supetão – Mike não se aproxima de ninguém além dos bons amigos que tem há algum tempo.
Pisquei algumas vezes antes de virar e ir embora. Não sabia bem como lidar com aquele comentário. Deveria agradecer? Vai saber! Para mim Michael apenas implicava com a novata da cidade como hobby e não por que ele, de algum modo, estava "socializando" comigo. Ah, sei lá como se faz isso. Mas... ele é legal.
Acho que é exatamente o fato de ele ser legal que me faz pensar que ele só fala comigo para que eu não me sinta invisível, sozinha.
Fui à praia pouco antes da hora na qual costumava ir. Desisti do mergulho pra tirar os olhos de Luke da minha cabeça, o toque dele do meu corpo, mas mesmo assim, aquela praia ainda era meu lugar favorito no mundo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Drowning
FanfictionUm afogamento não é uma morte calma, indolor, súbita. Um afogamento é gradual, tortuoso e silencioso. A vítima sofre cada segundo e, por serem estes seus últimos, parece infinito. Infinito é um tempo muito longo para ser vivido. Eu não sei muito bem...