A voz de Michael ecoava na minha cabeça, me atormentando com a possibilidade de afundar ao invés de trazer Luke a superfície enquanto ele me levava para mais uma corrida, dessa vez sem apostas, apenas "uma corrida amigável para passar o tempo".
Assim que começamos a dobrar esquinas e mais esquinas, comecei a notar que as ruas ficavam cada vez mais estreitas a medida que entravamos mais nos fundos da cidade. Mas assim que chegamos ao espaço aberto, pude ver que a corrida seria em terra e não nas ruas estreitas.
Mesmo assim, meu coração não se acalmou com a ideia de que ele estaria em alta velocidade disputando o primeiro lugar na escuridão da noite sem luar.
Ele segurou na minha mão e me puxou para perto da fogueira mais adiante, a única luz que nos mantinha longe da cegueira além dos faróis ligados para aqueles que preparavam o trajeto.
Calum tinha um cigarro entre os dedos, mas não parecia concentrado nele, deixando o fogo queimar o que deveria ir para seus pulmões. Me perguntei o que passaria na cabeça de Calum nessas horas em que ele parecia completamente imerso em seus pensamentos. Desde que Colton me dissera que ele era o cabeça de toda essa "equipe", me pego questionando que tipo de coisa ele bola.
Assim que seus olhos vazios retornaram à vida e ele nos viu, cumprimentou Luke com um movimento de cabeça e Luke retribuiu com uma saudação descontraída.
Luke me puxou para perto e disse ao meu ouvido que iria atrás de saber o que tinham para beber e que voltaria logo, saindo depois de me dar um beijo na têmpora.
Passei as mãos geladas de nervosismo pela calça jeans, pensando em me aproximar da fogueira para amenizar quando vi Colton sentado do outro lado dela, com uma taboa sobre as pernas. Me aproximei devagar, tentando me acostumar com a ideia do que ele estava fazendo.
Toquei em seu ombro, ele olhou para cima e sorriu, então sentei ao seu lado.
- E aí? – começou ele, continuando a enrolar os cigarros de maconha – Veio ver o namoradinho correr?
- É, parece que ele gosta disso. – respondi, mantendo o tom de brincadeira. – O que você está fazendo?
- Oh! – ele deixou escapar, oscilando os olhos entre mim e seu trabalho – Como durante essas corridas o pessoal não gosta de perder tempo fazendo isso, eu consigo um extra quando vendo já pronto. – ele piscou para mim, o sorriso torto estampando seu rosto.
Colton tinha pinta de badboy, a cicatriz na testa ajudava em tudo isso. Mas quando fala e, agora que notei, quando sorri, poderia se passar por apenas um garoto normal que gosta de videogames, rock pesado... sem querer generalizar.
- Espertinho! – disse, tentando esconder o desconforto.
Ele estendeu um já pronto para mim.
- Para a primeira dama é de graça.
- Não, obrigada! – sorri, sem graça.
Ele não fazia por mal. Ele não sabia que por dentro eu estava lutando para não jogar aquilo na fogueira e traze-lo comigo a superfície.
Luke voltou com duas garrafinhas de cerveja e se sentou ao meu lado, falando brevemente com Colton enquanto me entregava a outra garrafinha.
- Tá querendo roubar minha garota, Bolt? – ele disse, e deu um soco brincalhão no braço de Colton pelas minhas costas.
Colton respondeu com um sorriso aberto, ainda concentrado nos cigarros que venderia em breve.

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Drowning
FanfictionUm afogamento não é uma morte calma, indolor, súbita. Um afogamento é gradual, tortuoso e silencioso. A vítima sofre cada segundo e, por serem estes seus últimos, parece infinito. Infinito é um tempo muito longo para ser vivido. Eu não sei muito bem...