Oito

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O olhei de soslaio, nervosa demais para encara-lo sequer vergonhosamente. Ele trocou de marcha e fez o carro voar em direção a Rubyanna. Apertei os joelhos, tentando controlar o tremor que crescia nas minhas pernas e a distonia nas palmas das mãos.

Luke mantinha os olhos na estrada escura, uma mão no volante e a outra na marcha. O carro só parecia voar cada vez mais rápido, como se os pneus quase tivessem parado de tocar o chão. Notei que ainda não tínhamos alçado voo quando passamos por um furo no asfalto e sacudimos no banco. Logo em seguida ele virou bruscamente numa estrada de terra.

Segurei no banco e na porta.

- Wow! – gritei, sentindo meu coração enlouquecer no peito – Vai com calma.

Ele tinha nos lábios um sorrisinho chato e perturbador de quem se divertia com aquilo.

- O que? – seus olhos, agora brincalhões, ainda que sombrios, se viraram para mim por instantes – Está com medo?

- Não deveria?

Ele deixou escapar um riso por entre os lábios e apertou o volante ainda mais firmemente.

- Sinta isso!

Luke virou bruscamente de repente. O carro deu um cavalo de pau, levantando poeira para todos os lados. Eu não conseguia ver nada ao nosso redor. Ele gargalhou como louco, soltava "uhuls" e a cada curva brusca que dava parecia mais empolgado a ultrapassar o limite do possível na velocidade em que marcava a terra.

- Para! – gritei – Luke, para esse carro! Agora! – empurrei-lhe o ombro múltiplas vezes enquanto gritava para parar e tentava me manter segura.

Ele parou.

Arranquei o cinto e desci do carro, protegendo os olhos da poeira ainda erguida. Caminhei em direção ao nada. Fora os faróis do carro, nenhuma iluminação extra era vista a quilômetros.

- Ei! – ele gritou. Ouvi a porta do carro bater. – Ei! Onde você pensa que vai?

- Qualquer lugar.

- Você não tem ideia de onde está.

Parei e me virei em direção a ele. Ele desacelerou os passos gradativamente até parar.

- É mais provável que eu chegue em casa viva andando do que dentro daquela maquina mortífera com você. – cuspi, apontando para os faróis.

Ele riu e coçou a nuca, voltando a olhar para mim em seguida, mordendo a parte do lábio onde o piercing ficava.

- Que é? – perguntei, irritada.

- Pensei que você fosse menos... medrosa.

Prendi a respiração por tempo suficiente para sentir falta da mesma.

- Bem, prezar pela minha vida é diferente de ser medrosa.

Troquei o peso de uma perna para a outra.

Ele falou, enquanto andava calmo e hipnótico em minha direção.

- Esse é o seu problema, Catarina.

Eu poderia me afastar, mas não conseguia. Pra falar a verdade, eu não queria.

Seus dedos frios e esguios tocaram minha bochecha.

- Eu posso te mostrar um lado da vida que eu tenho certeza que você não conhece. Coisas incríveis. – ele parou de falar por instantes, seus olhos nos meus - Mas você precisa esquecer sua mortalidade.

DrowningOnde histórias criam vida. Descubra agora