O olhei de soslaio, nervosa demais para encara-lo sequer vergonhosamente. Ele trocou de marcha e fez o carro voar em direção a Rubyanna. Apertei os joelhos, tentando controlar o tremor que crescia nas minhas pernas e a distonia nas palmas das mãos.
Luke mantinha os olhos na estrada escura, uma mão no volante e a outra na marcha. O carro só parecia voar cada vez mais rápido, como se os pneus quase tivessem parado de tocar o chão. Notei que ainda não tínhamos alçado voo quando passamos por um furo no asfalto e sacudimos no banco. Logo em seguida ele virou bruscamente numa estrada de terra.
Segurei no banco e na porta.
- Wow! – gritei, sentindo meu coração enlouquecer no peito – Vai com calma.
Ele tinha nos lábios um sorrisinho chato e perturbador de quem se divertia com aquilo.
- O que? – seus olhos, agora brincalhões, ainda que sombrios, se viraram para mim por instantes – Está com medo?
- Não deveria?
Ele deixou escapar um riso por entre os lábios e apertou o volante ainda mais firmemente.
- Sinta isso!
Luke virou bruscamente de repente. O carro deu um cavalo de pau, levantando poeira para todos os lados. Eu não conseguia ver nada ao nosso redor. Ele gargalhou como louco, soltava "uhuls" e a cada curva brusca que dava parecia mais empolgado a ultrapassar o limite do possível na velocidade em que marcava a terra.
- Para! – gritei – Luke, para esse carro! Agora! – empurrei-lhe o ombro múltiplas vezes enquanto gritava para parar e tentava me manter segura.
Ele parou.
Arranquei o cinto e desci do carro, protegendo os olhos da poeira ainda erguida. Caminhei em direção ao nada. Fora os faróis do carro, nenhuma iluminação extra era vista a quilômetros.
- Ei! – ele gritou. Ouvi a porta do carro bater. – Ei! Onde você pensa que vai?
- Qualquer lugar.
- Você não tem ideia de onde está.
Parei e me virei em direção a ele. Ele desacelerou os passos gradativamente até parar.
- É mais provável que eu chegue em casa viva andando do que dentro daquela maquina mortífera com você. – cuspi, apontando para os faróis.
Ele riu e coçou a nuca, voltando a olhar para mim em seguida, mordendo a parte do lábio onde o piercing ficava.
- Que é? – perguntei, irritada.
- Pensei que você fosse menos... medrosa.
Prendi a respiração por tempo suficiente para sentir falta da mesma.
- Bem, prezar pela minha vida é diferente de ser medrosa.
Troquei o peso de uma perna para a outra.
Ele falou, enquanto andava calmo e hipnótico em minha direção.
- Esse é o seu problema, Catarina.
Eu poderia me afastar, mas não conseguia. Pra falar a verdade, eu não queria.
Seus dedos frios e esguios tocaram minha bochecha.
- Eu posso te mostrar um lado da vida que eu tenho certeza que você não conhece. Coisas incríveis. – ele parou de falar por instantes, seus olhos nos meus - Mas você precisa esquecer sua mortalidade.
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Drowning
FanfictionUm afogamento não é uma morte calma, indolor, súbita. Um afogamento é gradual, tortuoso e silencioso. A vítima sofre cada segundo e, por serem estes seus últimos, parece infinito. Infinito é um tempo muito longo para ser vivido. Eu não sei muito bem...