Não dei o braço a torcer. Por mais que eu ficasse girando a caixa de chicletes na mão, eu consegui me convencer de que não iria estragar minha amizade com Michael por causa de um garoto estúpido metido a rebelde sem causa que, por algum motivo, se acha O imortal. Puff!
Vesti uma saia jeans com uma bata solta amarela sobreposta numa camisa branca. O clima estava ameno, minhas pernas amostra não fariam com que eu me sentisse como se estivesse num iglu. Calcei meias brancas e meu coturno.
Resolvi não levar bolsa ou celular, apenas o que tinha de dinheiro na carteira e identidade no bolso interno da jaqueta de couro vermelho. Não pude me deter ao colocar o pacote de chicletes no bolso de fora. Me convenci que aquilo me faria pensar duas vezes antes de cogitar ligar para ele.
De frente ao espelho, segui as curvas do meu cabelo com as mãos. Eu estava bem, e me sentia bem. De qualquer forma, soava bem voltar a Burnett Heads e me divertir um pouco com Mike e seus amigos.
Infelizmente, quando me vinha Burnett Heads à mente, vinha também a imagem de Luke me encarando com tamanha voracidade. Como se quase pudesse enxergar meus pensamentos. Droga!
Passei a última pincelada de blush, afastando os pensamentos que me guiavam até Luke. Desci as escadas devagar e fui até o balcão de atendimento da senhora Blackly.
- Com licença, senhora Blackly. Poderia guardar minhas chaves? Prometo voltar cedo. - juntei os dedos indicadores em 'X' e beijei.
Ela sorriu. Sempre me passava algo de maternal em seus atos. Até mesmo quando estava séria, concentrada nos seus negócios. Talvez fosse a saudade que eu não pensava que sentiria dos meus pais, ou a necessidade de um conforto de mãe nos momentos que eu não tive.
- Você está linda, querida. - pegou as chaves e guardou em umas das gavetas - Tem um encontro?
- Só vou sair com uns amigos. - respondi, jogando a jaqueta por cima do ombro direito - Eu volto antes das dez. Caso contrário, pode fechar tudo sem preocupação.
Michael buzinou.
Já estava escuro quando chegamos a Burnett Heads. Michael estacionou num estacionamento pago com a desculpa de que era mais seguro. Eu desconfio que não seja só isso. Mas, para falar a verdade, não imagino qual deva ser a outra coisa que o faça pagar 2 paus pela hora.
Caminhamos pela calçada iluminada até o mesmo pub que encontramos Ashton cantando karaokê na outra vez. Dessa vez ele estava esparramado numa cadeira, girando um copo de coca com gelo e limão.
- Chegaram! Os pombinhos chegaram! - Ash gritou, erguendo os braços e despertando a atenção de todos na mesa.
Olhei para Michael assim que ele nos chamou de pombinhos e, por instantes, pensei que ele estava envergonhado. Mas o vermelho nas suas bochechas era natural desde que estivesse frio, feito esforço, irritado... Então levei o movimento de coçar a nuca como algo natural.
Olhei, então, para a mesa e dei de cara com a garota que me encarou estranho na outra noite. Ela parecia ainda pior.
Coloquei a jaqueta no encosto da cadeira e me sentei à mesa com o pessoal. Michael puxou a cadeira ao meu lado e se sentou também. Roubando o copo de um dos meninos amigos dele.
- E então, Catarina...- falou Gabe, o garoto de quem Michael roubou o copo. Nunca me cansaria de como meu nome soava em seus sotaques - Como teve a má sorte de conhecer todos esses perdedores?
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Drowning
FanfictionUm afogamento não é uma morte calma, indolor, súbita. Um afogamento é gradual, tortuoso e silencioso. A vítima sofre cada segundo e, por serem estes seus últimos, parece infinito. Infinito é um tempo muito longo para ser vivido. Eu não sei muito bem...