Doze

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Naquela tarde de sábado eu estava exausta. Acordei tarde demais para o almoço e cedo demais para o jantar. Não vi outra coisa que pudesse melhorar meu dia a não ser ficar na praia, estirada na areia, ouvindo o barulho do mar.

Estava um pouco cheia. Natural, dia de sábado os pais não têm desculpa para não levar os filhos ao menos à praia. Mesmo assim, ainda parecia ótimo. Joguei o casaco para pelo menos livrar meus cabelos da areia e coloquei os óculos de sol. Quase não vi o tempo passar.

A noite que passei não me deixava relaxar. A descarga de adrenalina que senti por não saber se Luke venceria, por ver aquela cena e saber que eu não poderia fazer nada se MacGuire resolvesse que também era imortal, pelo beijo que ganhei logo após a vitória. Eu poderia gostar daquilo.

Eu sei bem que ele quer que eu goste.

Vez por outra Mike me vem à mente. Gosto muito dele, de sua companhia, do tempo que passamos juntos e de como posso ser quem eu acho que sou quando estou com ele. Todavia essa mania de me mandar ficar longe de Luke surtiu o efeito contrário ao que ele pedia em mim. Principalmente porque ele não me diz o que há de tão ruim. Se for por conta das armas, e das corridas, das bebidas... Bem, é, ele está certo, é perigoso. Mas não sou eu quem está bêbada dentro de um carro correndo feito louca por ruas estreitas ou tendo armas apontadas para minha cabeça.

E é justamente por ser Luke dentro do carro que agora que conheço sua realidade sinto a necessidade de estar perto e fazer com que saia dessa. Ele quer que eu goste porque é legal para ele, alguém tem que mostra-lo o quão mortal ele é e, se ninguém o fez ainda, eu tenho que.

Apertei as têmporas.

Mesmo que eu esteja fazendo a coisa certa, Michael entenderia?

Ouvi o som de algo sendo enterrado na areia de uma só vez e abri os olhos, procurando o som. Michael estava em pé ao meu lado, a mão apoiada no topo da prancha.

- Pegando um bronze?

Abriu um sorriso de olhos fechados, adoravelmente atacado pelo sol. Puxou a franja para cima, tirando-a da testa. Usava shorts largos e a camisa estava no ombro.

- O vento frio não te incomoda?

Ele negou, sentando ao meu lado na areia, olhos semicerrados encarando o horizonte, braços apoiados nos joelhos.

- Frio emagrece. – brincou ele. – Vamos para a água?

Grunhi, virando o corpo na areia antes de me levantar e sentar, as pernas em borboleta. Resmunguei sobre estar com preguiça demais para me mover e com frio, mas tudo se resumia à preguiça de uma noite mal dormida.

Michael levantou, anunciando que ficaria um pouco na água. Eu disse que poderia guardar as coisas dele ali. Voltando aos velhos tempos em que eu não sabia que a silhueta era ele.

Michael correu pela areia com a prancha debaixo dos braços. Veio direto em minha direção, o cabelo branco colado na testa, as bochechas e lábios vermelhos. Fincou a prancha no chão e pulou para cima de mim, chacoalhando os cabelos feito um cachorro se livrando da água do banho. Pedi que ele parasse o empurrando, mas tocar seu corpo molhado só piorava minha situação.

- Droga, Mike! – gritei, ainda rindo. Passei as mãos na camisa, tentando enxuga-las.

- Um pouco de sal é sempre bom, Catarina.

Só então me dei conta de como estávamos. Mike estava ajoelhado, um joelho em cada lado do meu corpo. Eu apoiada sobre meus braços para trás, mas, mesmo assim, continuávamos próximos. Sorri, envergonhada.

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