Dias se passaram desde a última vez que ouvi a voz de Michael. Não me procurou e eu não fui o suficiente descarada para procura-lo. Senti que não queria me ver e que havia mesmo desistido de mim. Confesso que fiquei um tanto decepcionada, ainda tinha esperanças de que ele fosse entender e me perdoar pelas mentiras. Todavia não o julgo, visto que eu mesma não perdoaria minhas mentiras, indo de encontro a pouca confiança que construíra em mim.
Parei de frente ao Extrangeiro, procurando-o por entre as mesas e o balcão. Assim que o vi deixando a cozinha com uma bandeja em mãos, escondi-me atrás do muro que sustentava o vidro. A raiz já escurecida crescia três dedos do platinado, os olhos estavam pesados, emoldurados por singelas olheiras roxas. Ele mostrou um sorriso simpático, mas triste ao cliente e voltou à cozinha. Não tinha muito que eu pudesse fazer, mesmo que por dentro quisesse correr e abraça-lo.
Naquela noite a calma não conseguia me alcançar. Balancei inquieta no banco, encarando o relógio de um em um minuto, contando as horas para voltar à pousada e dormir até que fosse hora de engolir o orgulho e ligar para meu amigo.
Quando a porta abriu, não tive qualquer esperança que fosse Luke.
O salto alto ecoou no piso da loja vazia. Os quadris se moveram incomumente flexíveis até o balcão, onde ela pegou o pacote de chicletes que ele costumava comprar e o colocou com força sobre o balcão.
Passei-o pela máquina e lhe disse o preço.
- Awn – miou ela, a cabeça ligeiramente tombada para o lado – Tá tristinha hoje, Cat?
- E, de repente, você se importa comigo, por que...?
- Nossa, quanta agressividade! – ela ergueu as mãos em rendição, fazendo beicinho – Eu só quero ser sua amiguinha.
- Ah, por favor! Você me odiou desde o dia em que me viu.
Ela riu anasalado, o rosto se transformando em traços de gata. Seus olhos felinos me fitaram intensamente, delineando meus traços.
- Eu fiz muito para ter a atenção dos meninos. E ainda mais para conseguir qualquer coisa de Luke. Uma qualquer como você não pode aparecer e tirar o que é meu por direito.
- Hm-huh... Já acabou? – respondi, sem muito interesse. Em outra ocasião, talvez eu estivesse disposta a discutir com Mia.
Ela jogou a nota no balcão, parecendo irritada por não ter correspondido suas tentativas de me provocar.
- Até logo, Mia! – acenei, o queixo apoiado sobre a outra mão no balcão.
- Espero que tenha entendido o recado!
- Procure outra pessoa com quem ocupar seu tempo, Mia. Luke não está disponível e eu não vou deixa-lo por causa de você.
- Eu posso fazer com que deixe. – ela piscou e deixou a loja.
Eu não prestei muita atenção ao que ela dizia. Na verdade, eu não tinha nem levado em consideração qualquer que fossem as palavras dela. Eu tinha muito passando pela minha cabeça no momento, e ela parecia inofensiva. Porém, como toda boa covarde, ela ladrou, mas outros me morderam.
Ele entrou na loja sem bagunça, sem chamar atenção. Enquanto assistia Derek ao longe repor o estoque, sem esperança que ele voltasse a falar comigo e ainda sem saber o que aconteceu, ele entrou acompanhado por dois grandalhões às suas costas.
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Drowning
FanfictionUm afogamento não é uma morte calma, indolor, súbita. Um afogamento é gradual, tortuoso e silencioso. A vítima sofre cada segundo e, por serem estes seus últimos, parece infinito. Infinito é um tempo muito longo para ser vivido. Eu não sei muito bem...