Quando cheguei ao Extrangeiro, me senti culpada. Culpada por não ter ouvido Michael, por ter inventado desculpas nos dois últimos dias para não vê-lo, evitado algumas de suas mensagens. Respirei fundo antes de abrir a porta; segurei a respiração por segundos assim que ouvi o sininho da mesma. Eu me sentia suja, mas não queria que ninguém percebesse isso.
Passei a mão pelo vestido florido e caminhei até o balcão. O senhor Dutton olhou para mim, olhos esbugalhados e sorriso amigável.
- Que surpresa! – disse, passando o pano por uma parte do balcão – Sente-se. Há quanto tempo não a vejo, mocinha?! Marion tem algo que acho que vá gostar hoje, no almoço.
Sorri, timidamente. Ele foi até a cozinha e voltou com um copo de água gelada.
- Para abrir o apetite. – segredou-me ele, com um toque brincalhão no meu ombro.
Assenti e levei o copo até os lábios. Foi quando Michael apareceu, limpando as mãos em um pano de prato e o jogando sobre os ombros. Quando me viu, pareceu surpreso por instantes, então me cumprimentou com um movimento rápido de cabeça. Botei o copo de volta no balcão e saltei do banco quando ele passou para limpar uma mesa.
Minhas mãos tremiam.
Respirei fundo e contestei duas vezes antes de cutuca-lo no ombro esquerdo.
Apertei os dedos e prensei os lábios quando notei o que tinha feito. Não sabia nem o que iria falar.
Ele me olhou questionador, os olhos verdes parecendo ainda mais claros àquela distancia.
- Oi. – miei, envergonhada.
Ele estreitou os olhos e sorriu de mim, voltando a limpar a mesa:
- Oi, novata.
- Então... – esfreguei as mãos, estralando alguns dedos – Dia nublado, huh?
- É. Péssimo dia para usar vestido de alça fina, huh? – ergueu a bandeja de se esquivou de mim – Brasileiros não sentem frio?
- De onde eu venho é difícil ter oportunidade de sentir frio. – sorri, o seguindo. – Na verdade, eu passava bom tempo de shorts curtos e blusas de alça fina por que, por qualquer motivo, eu já estava pingando feito uma louca e...
Ele colocou a bandeja na pia e começou a colocar os pratos na água com sabão. Foi quando notei que o tinha seguido até a cozinha. Marion Dutton estava ao fundo, cozinhando algo muito cheiroso. Nossa! Duas vezes Nossa!
Cocei a nuca, desconcertada e fiz sinal de que iria sair.
- Não tem problema, garota. Se quiser me ajudar com os pratos, eu aceito.
Dei de ombros e joguei os cabelos para cima, prendendo em um rabo de cavalo bagunçado.
- Então, o que você vai fazer hoje?
Ele me olhou, lábios entreabertos, mãos abeis enxugando os pratos que o entregava.
- Não podemos ir para o mar, pode chover a qualquer hora... conhece água-viva?
Grunhi. Era o único momento que tínhamos a sós, eu realmente estava precisando de um minuto com Michael.
Ele deu de ombros e fez bico antes de falar:
- Te chamaria para Brunett Heads, mas sei que vai negar, então...
Suspirei, fechando os olhos por um momento. Meus ombros caíram e eu parei com as mãos dentro da espuma.
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Drowning
FanfictionUm afogamento não é uma morte calma, indolor, súbita. Um afogamento é gradual, tortuoso e silencioso. A vítima sofre cada segundo e, por serem estes seus últimos, parece infinito. Infinito é um tempo muito longo para ser vivido. Eu não sei muito bem...