Michael recebeu o recado. Assim que sentei no balcão esperando ser atendida pelo, simpático e incrivelmente calmo, Ted Dutton, o platinado surgiu por trás do balcão e pareceu surpreso com minha chegada tão cedo. Arregalando ligeiramente os olhos acinzentados para mim.
- E aí, novata? – ele disse, abrindo um sorriso de lado. – Bom dia!
- Eu estou faminta! – disse, olhando o cardápio que tinha em mãos – Eu quero torradas com geleia e queijo quente, por favor!
Ele anotou no bloquinho e pendurou em um dos prendedores de papel no buraco na parede que separava o balcão da cozinha. A mão pequena e enrugada da senhora Dutton o puxou depressa.
- Não vai pedir nada para beber?
- Você não tem porquê me extorquir hoje. Nem comece.
- Todo dia eu tenho motivos para extorquir as pessoas, é o que eu faço de melhor.
- Por isso foi contratado? – atirei, erguendo as sobrancelhas.
- Também. – ele deixou escapar uma pequena risada anasalada, dando de ombros.
Apoiou-se sobre os antebraços no balcão e manteve seus olhos estranhamente multicoloridos em mim até que eu percebesse e erguesse a cabeça em sua direção. Eram de um verde tão cristalino, mas eu ainda conseguia captar traços de esmeralda em meio ao cristal. Acho que mudava de acordo com a proximidade, vai saber.
- O que foi?
- Você me procurou aqui ontem. - Gotículas de suor no meu nariz. - Porque? - Por nada. – dei de ombros – Só estava procurando assunto e você, além da senhora Blackly, é o único quem eu conheço.
Ele estreitou os olhos como se analisasse minha resposta depois assentiu, fazendo bico. Pegou os dois pratos que acabavam de sair, levou-os até suas mesas, atendeu um homem que lia o jornal na mesa da vitrine e voltou ao balcão.
- Michael?
- Hm?! – grunhiu ele em resposta, a caneta entredentes, vasculhando as páginas de um caderno antigo.
- Pode me emprestar um papel?
Ele arrancou o papel em branco do seu bloquinho de pedidos e arrastou pelo balcão até mim. Agradeci e tirei uma caneta que sempre anda comigo de dentro da bolsa. Eu costumava ter um monte de cadernos, bloquinhos, post its e agendas mas ficou tudo para trás com a mudança. Precisava compra-los de novo. Entraria para a minha lista.
Desci do banco e fui até uma mesa vazia no fundo da lanchonete. Era confortável, os bancos estavam um pouco frios e era a mesa mais distante de todos os outros famintos barulhentos por ali.
Observei que Michael fazia a maior parte do serviço no período em que trabalhava aqui. Oito horas rodando como uma barata tonta atrás de atender a todos os pedidos da movimentada Extrangeiro.
Ted e Marion cuidavam da preparação da comida.
Comecei a minha primeira lista de afazeres enquanto adulta.
1. Precisava procurar um apartamento ou casinha onde morar. Não poderia ficar para sempre na pousada, mesmo que seja muito agradável estar lá.
2. Precisava de um automóvel. Como uma moto, ou uma motocicleta. Deus! Uma que não me deixe surda toda vez que for ligada. Pode ser até uma bicicleta.
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Drowning
FanficUm afogamento não é uma morte calma, indolor, súbita. Um afogamento é gradual, tortuoso e silencioso. A vítima sofre cada segundo e, por serem estes seus últimos, parece infinito. Infinito é um tempo muito longo para ser vivido. Eu não sei muito bem...