Vinte

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Estremeci, sentindo o barulho ensurdecedor me atingir fisicamente. Michael me apertou ainda mais contra si quando me sentiu cambalear, os joelhos fraquejando. Nos afastamos cuidadosamente um do outro, seus olhos acinzentados preocupados recaindo sobre mim.

Meus olhos correram até Luke, recostado no container em que me prenderam, uma das pernas estendidas para frente, a mão pressionando o abdômen. Senti o ar ficar preso na garganta, o sangue que lhe escorria o rosto me fazendo sentir dor por não poder ajuda-lo.

Calum estendeu-lhe a mão e ele a tomou como ajuda para se erguer. Assim que estava de pé, Hood manteve suas mãos unidas e segurou o corpo apanhado de Luke contra o seu, cochichando ao seu ouvido mais um segredo da alta cúpula.

Um frio me subiu a espinha quando, em meio aos segredos, os olhos de Luke me procuraram na multidão, tristonhos e cabisbaixos. Abri os lábios em intensão de lhe balbuciar qualquer coisa, mas ele moveu a cabeça em negação quase imperceptivelmente e voltou a fitar o ombro de Calum.

Colton se aproximou de nós dois, largando o taco no chão. Cumprimentou Mike com uma batida de mãos se apertando no final e um abraço de dois tapinhas nas costas. Michael lhe abriu um sorriso tímido e sem humor enquanto Bolt o demonstrava enorme felicidade.

- Você...! – disse Colton, dando soquinhos no ombro do outro – Incrível.

- O que você fez? – murmurei, sem muitas forças.

- Ele é o melhor. – saltitou, com o mesmo sorriso de orelha a orelha de quando se aproximou. Surgiu-me um sorriso nos lábios, pela alegria infantil que Colton demonstrava apenas por estar revendo Michael.

- Vamos. – murmurou Mike, enlaçando meus ombros – A gente se vê, Bolt!

Desesperei-me entre as diferentes faces no meio daquela confusão e lá estava Luke, mais a frente, indo embora. Engoli o choro e caminhei ao lado de Michael, me aconchegando ao seu corpo quando a dor das quedas e porradas começavam a me consumir.

Olhei, parada em frente à porta do carro, em direção àquele que Luke viera. Ele estava parado do outro lado da rua, segurando um pano esfarrapado contra o nariz, me encarando dolorosamente.

Tentei esboçar um sorriso e conseguir alguma demonstração de que tudo ficaria bem vinda dele, mas tudo o que me saiu foram lábios trêmulos e, do outro lado, Calum o fez entrar no carro.

Seus olhos escuros e inexpressivos pareciam me mandar fazer o mesmo, então o fiz.

Michael me levou até seu apartamento, mesmo contra meus protestos, afirmando que não conseguiria ficar em paz se eu estivesse sozinha novamente.

Abracei os cotovelos quando saímos do carro, estava um pouco frio demais para a estação. Mike me indicou o banheiro, me deu uma camisa lisa e uma samba-canção que disse não usar por ser pequena para ele.

Senti meus olhos arderem instantaneamente quando me vi no espelho. Tinha manchas rochas e amareladas no rosto, cortes sujos e ensanguentados, meu cabelo estava um nó.

Fiz um esforço incomum para tirar a farda do posto, tocando todas as manchas que encontrava a medida que me despia. Perguntava-me a cada uma que encontrava como não as senti antes.

A água quente relaxou os músculos que eu nem sabia que estavam tensionados. Senti a água pelo meu corpo afastou a dor física e emocional que insistia em me derrubar.

Não é que eu pensasse em Luke o tempo todo. É só que, toda vez que viajava em pensamentos, sempre acabavam nele.

Saí do banheiro e arrastei os pés nus pelo chão frio até a copa. Sentei no banquinho em frente ao balcão e girei até ficar de frente a cozinha. Mike levantou - estava abaixado atrás do balcão – e sorriu, me vendo sentada ali. Estava sem camisa, assim pude ver o corte grande e profundo no seu braço.

DrowningOnde histórias criam vida. Descubra agora