O vestido mesclando os tons de vermelho-vinho e roxo escuro opaco apenas se prendia ao meu corpo na altura abaixo dos seios, seu tecido além daí era solto e levemente plissado. Cobri os ombros com uma jaqueta de couro preta que sempre quis usar, mais o Brasil não me permitia.
Calcei meus pés com sapatilhas simples pretas e colori os lábios com um batom cremoso cor-de-rosa.
Quando desci as escadas e saí da pousada, Michael me esperava do lado de fora. As calças jeans azul-escuro com manchas mais claras, folgada, parecia um ou dois números maior que ele, mas sustentavam-se nos quadris. Vestia uma camisa de botões flanela com as mangas erguidas até os cotovelos.
Olhos cobertos pela franja acinzentada, a cabeça baixa.
O vento soprou frio, jogando meus cabelos para frente. Michael levantou a cabeça, analisando de relance minha roupa. Seus lábios se esticaram levemente num sorriso tímido, rosado.
- Bom perfume. – comentou.
- Obrigada!
Ele guiou até Brunett Heads com o rádio ligado em volume agradável. Disse que prefere o rádio a usar CDs. Ouvir música nova, ficar animado quando uma que você gosta começa a tocar de surpresa...
- Para onde você está me levando?
- É surpresa.
- Isso é um sequestro?
- Claro, Cat.
O olhei sorridente. Tentei esconder o sorriso, mas parecia ser impossível. Uma coisa tão pouca, soando tão bem.
- O que foi? – ele perguntou, alternando a atenção entre a estrada e eu.
- Você não me chamou de novata.
- Eu posso chamar, se você quiser.
- Não. Não! Eu gosto de Cat. Cat soa bem. Cat é bom.
Ele sorriu deixando a respiração sair ruidosamente pelo nariz e moveu a cabeça em negação. Apoiou o cotovelo na janela e coçou a cabeça, penteando o cabelo com os dedos posteriormente.
- O que foi? – disse eu.
- Nada. – murmurou.
Brunett Heads já começou com grandes construções se comparadas a Falconville. Chegamos ao centro, passando por pubs e boates até que Michael estacionou. Abriu a porta para mim, assim como fez quando me encontrou na frente da pousada e me cedeu o braço.
- Mademoiselle?!
Sorri, o encarando por instantes antes de segurar no seu antebraço.
Ele me guiou até o outro lado da pista e entramos num bar/restaurante de pedras expostas, mesas de madeira e com um clima quente e aconchegante. Michael cumprimentou alguns dos garçons e puxou a cadeira para mim.
A garçonete logo veio nos atender;
- Então... – disse ele, expirando durante a fala.
- Então... – repeti – Essa era a surpresa? Um jantar?
- Não totalmente. Aqui é a primeira parada. Você não é a única que sente fome, sabe?
- E quantas teremos?
- Surpresa.
Mostrei a língua para Mike e ele franziu o nariz, fazendo careta para mim, mas logo se abriu em sorrisos. Não demorou muito para a nossa comida chegar e, devo dizer, meu filé à parmegiana estava dos deuses. Michael me contou de como os Dutton são como seus pais e de como Falconville pode ser uma ótima rota de fuga, uma forma de recomeçar sua vida. Eu sei bem como é. É assim que me sinto afinal.
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Drowning
FanfictionUm afogamento não é uma morte calma, indolor, súbita. Um afogamento é gradual, tortuoso e silencioso. A vítima sofre cada segundo e, por serem estes seus últimos, parece infinito. Infinito é um tempo muito longo para ser vivido. Eu não sei muito bem...