𝐎 𝐄𝐧𝐜𝐚𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐚 𝐒𝐞𝐫𝐩𝐞𝐧𝐭𝐞 | ᶜᵒʳⁱᵒˡᵃⁿᵘˢ ˢⁿᵒʷ ˣ ˡᵘᶜʸ ᵍʳᵃʸ

03.

━━━━━━ • Lucy Gray Baird • ━━━━━━

O palco reluzia sob os intensos holofotes, um espetáculo de luxo que representava a ostentação da Capital de Panem. Coriolanus Snow, estava no centro das atenções, sentado na poltrona do palco. Lucky Flickerman, o carismático apresentador das entrevistas, trajava um impecável traje cerimonial azul-marinho, seu rosto praticamente imaculado, resultado das aparentes cirurgias estéticas tão comuns na sociedade da Capital.

Enquanto Flickerman conduzia a entrevista com um sorriso cativante, Lucy Gray observava atentamente da área reservada atrás do palco. Sentada em uma cadeira confortável, seus olhos fixavam-se no telão que transmitia cada palavra e movimento de Coriolanus. Ela sabia que todos os cidadãos de Panem estavam assistindo, testemunhando o espetáculo com uma mistura de fascínio e horror.

A Capital havia evoluído desde que Lucy Gray participou dos Jogos Vorazes. Melhorias eram evidentes, mas as mudanças eram mais profundas do que ela imaginou. As memórias de sua própria participação na décima edição eram sombras indesejadas, lembranças que preferia manter enterradas. Matar e ser morta era uma realidade da qual ela tentava se desvencilhar, uma cicatriz que marcava sua história de forma inapagável.

Lucy Gray percebia as diferenças gritantes entre a mentalidade das pessoas nos distritos e a superficialidade da sociedade da Capital. Nos distritos, a velhice era celebrada como uma conquista, um testemunho de sobrevivência em um mundo cruel. Pessoas mais velhas eram reverenciadas, suas rugas e sinais do tempo eram encarados como emblemas de sabedoria e resistência. Uma barriga rechonchuda era sinal de prosperidade, uma pausa merecida para aqueles que enfrentavam dificuldades diárias.

No entanto, na Capital, a juventude era um troféu cobiçado. As cirurgias estéticas eram a norma ditada, e rugas eram consideradas inaceitáveis. A busca pela perfeição física ultrapassava todos os limites, refletindo uma sociedade obcecada pela imagem e pela aparência. Enquanto Lucy Gray observava esse espetáculo de futilidade, ela não podia deixar de sentir um certo desgosto pela superficialidade daquele mundo.

A entrevista prosseguia, revelando mais sobre a personalidade do grande Chefe dos Idealizadores e os eventos por vir nos Jogos Vorazes. Lucy Gray, no entanto, permanecia ali, distante do palco, contemplando o abismo entre dois mundos tão contrastantes, entre os quais ela, de certa forma, era uma ponte ambulante, carregando as marcas de ambos.

— Já sabemos o quanto você é um visionário por trás dos Jogos Vorazes, mas conte-nos quais são as suas expectativas para este ano? — inquiriu Flickerman, com ares de excitação contida.

Coriolanus lançou um olhar perspicaz para a audiência antes de responder, cada palavra pesando como se fosse parte de um elaborado jogo de xadrez.

— Lucky, sempre busco inovação. Este ano, espero um espetáculo que vá além de todas as expectativas. — Coriolanus pronunciou as palavras com uma confiança sutil — Novas estratégias, desafios inéditos... Quero ver os tributos testando seus limites.

A expressão de Coriolanus era uma mistura de frieza calculada e antecipação. Ele falava como um verdadeiro arquiteto maquiavélico dos Jogos Vorazes. Os detalhes de seu rosto eram iluminados pelos holofotes, beleza e crueldade no mesmo semblante.

As palavras de Coriolanus alimentava a fome por entretenimento sangrento, enquanto Lucy Gray, na área reservada, sentia um calafrio percorrer sua espinha. A cada edição, os Jogos Vorazes se metamorfoseavam, tornando-se um reflexo cruel da visão retorcida da sociedade.

Claro que ele quer testar os limites. Lucy Gray tinha repulsa por todo aquele discurso que os idealizadores faziam sobre os jogos, e agora, ela tinha ainda mais motivos, sabendo que Coriolanus era a pessoa por trás de todas as barbáries na arena.