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━━━━━━ • Coriolanus Snow • ━━━━━━


Ao romper da aurora, ele despertou, como de costume, encarando os primeiros raios de luz que prenunciavam o novo dia. Seguiu sua rotina com uma precisão quase coreografada, desde os primeiros passos calculados até o banho. Após se enxugar, vestiu-se com uma camiseta branca e uma calça bege.

A lareira o chamou para junto de si. Na poltrona estrategicamente posicionada, Coriolanus se acomodou. Lucy Gray, ainda imersa em um sono profundo, desconhecia a movimentação matinal ao seu redor. Ele permaneceu ali, na penumbra da aurora, observando-a com um misto de carinho, contemplação e saudade. O tempo parecia desacelerar, esticando-se enquanto ele mergulhava na serenidade do momento, talvez por uma hora que se desdobrava em uma eternidade fugaz.

Não havia urgência naquela manhã, pois era o dia do Festival da Harmonia. No entanto, o entusiasmo não brilhava em seus olhos. A Capital se preparava para a grandiosa celebração, um espetáculo de riqueza e poder que ele mesmo criou dois anos antes. Era o terceiro ano do evento, mas as sombras do descontentamento pairavam sobre ele.

Enquanto o mundo lá fora se preparava para a festividade, Coriolanus refletia sobre a falta de verdadeira harmonia. Os rebeldes desafiavam a ordem estabelecida, a Capital retaliava, e o Festival da Harmonia parecia uma fachada frágil diante da realidade caótica. Em um gesto de discernimento, sugeriu a Ravinstill o cancelamento do evento, uma proposta ignorada em favor da manutenção das aparências.

Coriolanus não estava nenhum pouco animado e temia até pela segurança da Capital. Suspirou observando Lucy Gray. Ele queria estar em harmonia com ela. Mas sabia que tinha feito coisas para magoá-la. Não que ele estivesse arrependido, mas tinha noção que eram coisas demais para ela.

Determinado a transpor a barreira silenciosa que os separava, Coriolanus abandonou a poltrona com uma decisão ponderada. Cruzou o espaço até a cama, onde ela repousava em um sono aparentemente tranquilo. Deitou-se ao seu lado, envolvendo-a com a delicadeza que só possuía com ela.

O corpo de Lucy Gray reagiu ao toque, movendo-se inconscientemente para se aninhar nos braços dele. Coriolanus mergulhou o nariz nos fios macios dos cabelos dela, uma tentativa de absorver a essência que lhe era tão familiar.

Seus olhos desceram para a barriga de Lucy Gray. Era possível ver uma mínima saliência. Seus dedos, guiados por um instinto quase involuntário, tocaram suavemente a barriga dela. No entanto, a resposta não foi o acolhimento esperado. Ela, ainda com os olhos cerrados, apertou seu pulso com firmeza, afastando-o de forma inequívoca.

O movimento a trouxe para um despertar parcial, e seus olhos se abriram, encarando Coriolanus com determinação.

— Não.

Coriolanus, tomado pela surpresa e um eco de decepção, murmurou o nome dela como uma prece silenciosa: — Lucy Gray...

A delicadeza do momento desabou abruptamente quando ela se desvencilhou dos braços de Coriolanus, rompendo o elo que por um instante parecia prestes a curar as feridas entre eles. Com uma graça contida, ela se sentou na cama, ignorando deliberadamente o olhar do homem cujo coração pulsava agora em descompasso.

Seus olhos se afastaram, evitando o encontro visual que poderia revelar mais do que ela desejava admitir. Em vez disso, fixou o olhar no alarme ao lado da cama, como se as horas marcadas ali fossem mais importantes do que as palavras não ditas entre eles.

— Você não tem nada com isso. Lembra? — as palavras de Lucy Gray foram como um eco penetrante, atingindo Coriolanus como uma facada. 

— Não pode fazer isso. Eu sinto sua falta. Estou quase enlouquecendo sem poder te tocar, te abraçar...

𝐎 𝐄𝐧𝐜𝐚𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐚 𝐒𝐞𝐫𝐩𝐞𝐧𝐭𝐞 | ᶜᵒʳⁱᵒˡᵃⁿᵘˢ ˢⁿᵒʷ ˣ ˡᵘᶜʸ ᵍʳᵃʸOnde histórias criam vida. Descubra agora