06.

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━━━━━━ • Coriolanus Snow • ━━━━━━


Dias depois

Coriolanus engoliu a posca de uma só vez, sentindo o calor abrasador do líquido descendo pelo peito. O som metálico ressoou na sala quando ele bateu o copo na mesa, um reflexo de sua irritação. Seus olhos azuis, geralmente frios e calculistas, fixaram-se em Tigris com uma intensidade quase incendiária, enquanto ela pegava o copo de suas mãos e afastava a garrafa, tratando-o como uma criança rebelde. Embora se sentisse infantilizado, sua determinação obstinada permaneceu firme, decidido a contrariar as expectativas dela.

— Hoje não é dia para você ficar bêbado.

As palavras de Tigris tinham um tom de desaprovação que o irritava profundamente. Por que sua prima agia como se cada decisão sua fosse um erro?

— Tenho razões de sobra para beber hoje — ele rebateu, avançando para recuperar a garrafa que ela havia afastado.

Tigris suspirou com cansaço, como se já estivesse exausta antecipadamente. Havia uma preocupação nos olhos dela que ele não conseguia entender totalmente.

— Está agindo de maneira infantil. — As palavras dela foram como um tapa.

— Sei disso — ele respondeu teimosamente, ignorando a sensação de estar à beira de um colapso emocional.

Tigris se aproximou, a expressão cheia de desaprovação. Sua mão deteve a dele antes que o copo pudesse alcançar seus lábios, interrompendo seu ciclo autodestrutivo.

— Coriolanus — seu tom era firme, quase implorativo.

Os dois se enfrentaram em um silêncio tenso, olhares se encontrando como uma tempestade. O olhar severo dele encontrou resistência nos olhos dela, que refletiam uma mistura de preocupação, determinação e doçura.

— Por favor. — A voz dela era quase uma súplica, uma tentativa de romper a barreira que ele havia erguido ao seu redor.

Com um bufar desdenhoso, Coriolanus soltou o copo, virou-se e se deixou cair no sofá luxuoso da sala reservada na mansão do presidente Ravinstill. A solidão e a amargura misturavam-se em seus pensamentos enquanto ele afundava na mobília, uma tempestade de emoções turbulentas dentro de si.

Ele jogou a cabeça para trás, pressionando os olhos com os dedos em busca de alívio para a tensão que o envolvia. Sentia-se quase sufocado pelo fraque de seu traje, como se a própria roupa conspirasse contra ele.

— Como posso parar o tempo, Tigris? Existe algo que impeça este dia de acontecer? Eu não quero ter minha vida controlada assim. Ele me tem nas mãos.

Tigris não respondeu de imediato, mas suas palavras suavizaram todas as expressões em seu rosto. O silêncio se estendeu entre eles por longos minutos, enquanto ela se acomodava em uma das cadeiras próximas.

Lá fora, o fim da tarde exibia o céu nublado da Capital. O burburinho das pessoas e as conversas abafadas que chegavam até a sala indicavam o evento daquele dia. Esse conhecimento alertava Coriolanus de que ele deveria estar lá fora, cumprimentando os convidados e expressando gratidão, enquanto Lucy Gray permanecia oculta, sendo preparada para uma entrada grandiosa.

Ele se recusava a aceitar essa realidade. Permaneceria naquela sala, mesmo que sua atitude parecesse teimosa e infantil. Ninguém o forçaria a enfrentar aquela recepção falsa. Para ele, aquele casamento era mais que uma farsa; era uma sentença. Coriolanus tinha se conformado com a ideia há alguns dias atrás, no entanto, aquilo era mais difícil do que ele pensou que seria e só então, conseguiu sentir o peso do casamento iminente em seus ombros.

𝑂 𝐸𝑁𝐶𝐴𝑁𝑇𝑂 𝐷𝐴 𝑆𝐸𝑅𝑃𝐸𝑁𝑇𝐸 | ˢⁿᵒʷᵇᵃⁱʳᵈOnde histórias criam vida. Descubra agora