𝐎 𝐄𝐧𝐜𝐚𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐚 𝐒𝐞𝐫𝐩𝐞𝐧𝐭𝐞 | ᶜᵒʳⁱᵒˡᵃⁿᵘˢ ˢⁿᵒʷ ˣ ˡᵘᶜʸ ᵍʳᵃʸ

20.

━━━━━━ • Coriolanus Snow • ━━━━━━

Coriolanus permanecia imperturbável na sala de comando da base militar da Capital, seu olhar frio e calculista fixado em uma mesa holográfica.

Ravinstill o designou como braço-direito do general-chefe, conferindo-lhe o papel de estrategista. No entanto, as motivações de Coriolanus não eram impulsionadas pelo gosto pela estratégia militar; ele estava ali porque, na realidade, pouco importava agora qual posição ocupasse na hierarquia da Capital de Panem. Sua presença tinha um único propósito avassalador: vingar-se daqueles que haviam tirado a vida de sua esposa.

A preparação para a nova edição dos Jogos Vorazes estava prestes a começar, mas ele não estava nenhum pouco empolgado para dar entrevistas ou atuar como Chefe dos Idealizadores.

Seu plano envolvia infligir sofrimento lento aos distritos, minando suas atividades e afetando diretamente o suprimento de recursos para a própria Capital. A ausência de determinados alimentos do Distrito 11, responsável pela produção agrícola de Panem, já causava estragos entre a população da Capital, que começava a sentir os impactos dessa estratégia de retaliação. De certa forma, ele também queria o sofrimento das pessoas da Capital.

Panem, reconstruída de maneira a depender da Capital para gerenciar seus recursos, tornava-se vulnerável aos motivos pessoais de Coriolanus naquele momento. Embora a estratégia impactasse também a vida na própria Capital, a necessidade dos distritos em relação à metrópole garantia a eficácia de seu plano de vingança.

Enquanto os distritos sofriam, o mistério do Distrito 13 permanecia intocado. Aerodeslizadores sobrevoaram a região em busca de qualquer sinal de vida, mas não havia evidências de atividade que para Coriolanus, não significava, no entanto, que o Distrito 13 estivesse inativo. Eles permaneciam nas sombras, escapando dos olhos da Capital.

Ravinstill reconhecia a impossibilidade de um bombardeio aos distritos, pelo menos por enquanto. Coriolanus, por sua vez, não desejava tal ação precipitada, pois isso minaria seu propósito central de fazer os habitantes dos distritos experimentarem a dor e o sofrimento que ele próprio estava vivenciando. A execução de rebeldes e os castigos severos impostos em cada distrito eram os meios pelos quais ele planejava fazer com que as pessoas compartilhassem de sua agonia pessoal. O sofrimento, para Coriolanus, era a moeda de troca para sua busca por vingança.

A sala de comando da base militar da Capital era um ambiente impessoal, mergulhado na frieza dos monitores intermitentes e pontuado pela presença austera de alguns pacificadores e outros militares.

Coriolanus permanecia com seus olhos gelados enquanto fixava sua atenção na tela principal. Ali, as transmissões dos castigos infligidos aos distritos eram projetadas para toda Panem testemunhar. Ele observava as cenas de sofrimento com indiferença, mas uma coisa era inegável, aquilo alimentava seu ódio que ardia como um fogo interior.

Entretanto, a atmosfera tensa foi abruptamente interrompida quando a transmissão foi misteriosamente substituída por uma tela preta. O silêncio que se seguiu na sala de comando foi quebrado apenas pelo sutil zumbido dos equipamentos eletrônicos.

Intrigado e ligeiramente contrariado, Coriolanus franziu a testa, seus dedos ágeis dançando rapidamente sobre o console à sua frente. Ele tentou, sem sucesso, retomar o controle da transmissão. Algo o impedia, algo que ia além das barreiras tecnológicas com as quais ele estava tão acostumado a lidar.

Foi então que, como um sussurro eletrônico, uma voz ecoou na sala:

"Você vem..."

O coração de Coriolanus quase que imediatamente acelerou. Erguendo os olhos para a tela, ele prendeu a respiração, procurando freneticamente vestígios daquela voz inconfundível que ele conhecia muito bem. A determinação em seus olhos cedeu lugar a uma expressão de perplexidade e, talvez, de um resquício de medo que há muito tempo ele não experimentava.