𝐎 𝐄𝐧𝐜𝐚𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐚 𝐒𝐞𝐫𝐩𝐞𝐧𝐭𝐞 | ᶜᵒʳⁱᵒˡᵃⁿᵘˢ ˢⁿᵒʷ ˣ ˡᵘᶜʸ ᵍʳᵃʸ

23.

━━━━━━ • Lucy Gray Snow • ━━━━━━

Lucy Gray acordou bem cedo, com os primeiros sinais do amanhecer ainda obscurecidos pelo ambiente subterrâneo do bunker. O som suave e constante do chorinho de Katniss chamou sua atenção; a menina sempre acordava nesse horário para mamar. Ela ascendeu a luminária ao lado da cama, permitindo que uma luz suave preenchesse o pequeno espaço. Com cuidado, aproximou-se do berço e pegou a bebê em seus braços, segurando-a com ternura.

Sentou-se na beirada da cama, o escuro do bunker ao seu redor tornando o momento mais íntimo e tranquilo. Desabotoou a parte da frente do seu pijama, revelando o seio para começar a amamentar Katniss. O calor da pequena e o som do leite sendo sugado preenchiam o ambiente, e Lucy Gray sentiu uma onda de tranquilidade, mesmo no meio das circunstâncias adversas.

Enquanto amamentava, seus olhos vagaram para o outro lado do quarto, onde Coriolanus estava deitado. Ele estava dormindo na cama encostada na parede, uma cama estreita, muito menos confortável do que as que ele costumava ter no apartamento na Capital. O contraste entre o luxo habitual e a simplicidade do bunker era marcante. No entanto, ela sabia que a noite de sono dele não foi das mais fáceis, aliviada apenas pelos remédios prescritos por Dra. Valentina. Sua atenção foi atraída pela pulseira de "mentalmente desorientado" que Coriolanus usava, um lembrete das complexidades mentais que ele passava.

Lucy Gray ainda processava as emoções da noite passada, quando Coriolanus conheceu Katniss pela primeira vez. Ficou surpresa com a reação dele, a forma como seus olhos brilharam ao olhar para a filha. A transformação no comportamento dele, passando de alguém que parecia alheio à paternidade para alguém que queria conhecer e cuidar de Katniss como filha. Ela queria acreditar que isso era uma boa mudança, uma verdadeira transformação em seu coração.

No entanto, por mais que quisesse se entregar a essa esperança, não conseguia esquecer o que aconteceu quando ainda estava na Capital. Lembrava-se de como ele a tratou quando descobriu a gravidez e o que ele fez, entregando-a a Ravinstil, meses antesl. Esses pensamentos a atormentavam, misturados com a dor e raiva que sentiu, e a solidão dos últimos onze meses.

Mesmo assim, não podia ignorar o fato de que, apesar de tudo, Coriolanus fazia seu coração palpitar de uma forma que nenhum outro homem tinha conseguido. Parte dela estava gostando de tê-lo por perto. A outra parte se perguntava se conseguiria ser forte o suficiente para resistir a ele, para não permitir que seu coração fosse ferido novamente.

Lucy Gray foi interrompida de seus pensamentos quando viu Coriolanus se mexer na cama. Ele virou-se e olhou para ela, o olhar ainda carregado de sono.

— Não está cedo demais, não? — perguntou ele, a voz arrastada pela sonolência.

— Fala isso para a Katniss — respondeu Lucy Gray, tentando ocultar a preocupação em sua voz.

Coriolanus sorriu, um sorriso que parecia iluminar o ambiente sombrio do bunker. Ele se ajeitou na cama, agora sentado e encostado na parede. Com um pé apoiado na cama e um braço descansando sobre o joelho, sua postura era relaxada, mas ele ainda parecia deslumbrante, mesmo com a calça simples cinza e a camiseta branca amassada, e com o cabelo despenteado.

Lucy Gray fez um esforço tremendo para não deixar seus olhos se fixarem em Coriolanus. Decidiu desviar o olhar para Katniss, que estava quase pegando no sono novamente. Seus dedos estavam delicadamente ajustando o pijama da filha, enquanto a menina se aconchegava em seus braços.

Quando ela levantou os olhos, encontrou os de Coriolanus fixos nela, seu olhar intensamente azul brilhando na penumbra do bunker. O coração dela deu um salto, e ela tentou esconder o constrangimento atrás de um olhar irritado.