04.

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━━━━━━ • Coriolanus Snow • ━━━━━━


Coriolanus estava decidido a manter a situação sob controle. Era apenas um beijo, afinal, uma encenação para as câmeras, parte do espetáculo público que ele tinha que manter para garantir sua posição. No entanto, a proximidade de Lucy Gray, a pressão de seus lábios contra os dele, fez com que algo em seu interior se desencadeasse.

Inicialmente, ele se permitiu o beijo prolongado como uma desculpa para si mesmo, justificando que era resultado do tempo que passou longe dela. Contudo, a verdade era que algo mais profundo estava em jogo. A boca de Lucy Gray era um labirinto de sensações, quente e macia, e ele se perdeu naquele momento fugaz que deveria ser estritamente teatral.

A raiva tomou conta dele quando a realidade do que estava acontecendo se impôs. Coriolanus odiava a sensação de desejo que a presença de Lucy Gray despertava nele. A textura dos lábios dela ficou gravada em sua memória de forma inapagável, e aquela noite se tornou uma tortura. Revivendo cada detalhe do beijo, ele se viu incapaz de conseguir dormir.

A confusão de emoções o atormentava. Ele ansiava pelos lábios dela, pela sensação da respiração quente dela contra seu rosto. Queria ela. Lucy Gray! Aquilo o devorava! Maldita passarinha! Merecia estar morta! Merecia que ele a matasse!

Percebendo o silêncio pesado que pairava sobre a mesa do café, Tigris, a prima de Coriolanus, decidiu quebrar o gelo:

— E como estão as coisas com Lucy Gray? Uma maravilha, espero.

A expressão de Coriolanus se contraiu, revelando um misto de desconforto e irritação.

— Para com essa merda, Tigris.

Desde a noite anterior, quando Coriolanus protagonizou uma cena constrangedora ao se ajoelhar no programa de Lucky Flickerman para oferecer a Lucy Gray o anel de noivado da família Snow, Tigris não deu trégua. Ela simpatizava com Lucy Gray, ao contrário da avó deles, que agora torcia o nariz com desdém.

— Isso é um insulto. Aquela garota do distrito 12 usando o anel da nossa família.

Coriolanus respirou fundo, antes de explicar: — Preciso que entendam o que está em jogo aqui. Não é apenas um casamento por capricho. Não é uma escolha que fiz por desejo próprio. Há motivos maiores em jogo, e nossas vidas estão entrelaçadas de uma maneira que vai além do que podemos perceber neste momento. Está em jogo não apenas a minha posição, mas também a vida de vocês duas, e a condição de vida que temos agora depende disso.

Tigris acentuou seu sorriso irônico enquanto continuava sugeriu com um toque de sarcasmo perspicaz: — Eu acho que você deveria trazê-la aqui. Quem sabe eu possa pedir para a criada fazer pudim de pão. Lembrei que Lucy Gray gosta de doces e adorou o meu pudim, que você, gentilmente, como mentor atencioso, levou para ela, quando ela estava presa naquela jaula horrível do zoológico.

Claro que ele lembrava daquele detalhe, como se as palavras de Tigris desenterrassem uma referência direta à quebra das regras, à vulnerabilidade que ele tinha demonstrado ao compartilhar um pedaço de normalidade com a jovem do Distrito 12 presa naquela jaula. Coriolanus, apesar de sua fachada de frieza, não podia escapar do conhecimento de que tinha quebrado muitas regras por causa dela.

No entanto, esse conhecimento estava envolto em uma complexidade emocional que ele preferia não enfrentar. Era uma fraqueza desejar Lucy Gray ou admitir qualquer sentimento por ela, especialmente agora, quando as expectativas da sociedade e a pressão familiar estavam pesando sobre seus ombros.

— Não sei se ela tem permissão para deixar o Heavensbee Hall, pelo menos não antes da festa de casamento — respondeu, tentando demonstrar desinteresse.

𝐎 𝐄𝐧𝐜𝐚𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐚 𝐒𝐞𝐫𝐩𝐞𝐧𝐭𝐞 | ᶜᵒʳⁱᵒˡᵃⁿᵘˢ ˢⁿᵒʷ ˣ ˡᵘᶜʸ ᵍʳᵃʸOnde histórias criam vida. Descubra agora