Capítulo 26

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Chiara Grasso

Acordo sob o toque delicado de Lando, e a triste realidade se desenha diante de mim. O hospital, a fragilidade da minha mãe, o médico com uma expressão grave. Tudo parecia um pesadelo que insistia em persistir.

— Love, ele veio... — Lando sussurra, e eu me ergo, indo em direção ao meu pai.

— Como ela está?

A voz dele já não trazia a calma de antes; agora, era um eco do medo que permeava a sala. O medo de perder minha mãe, o medo do desconhecido, o medo que todos ali compartilhavam. Pascale temia pela perda de sua melhor amiga, os meninos pela possível ausência da tia, meu pai enfrentava o temor de perder seu grande amor, e Charles, a madrinha, temia pela afilhada.

Dizem que com o tempo, as pessoas aprendem a lidar com o luto, mas sou a prova viva de que isso é uma falácia. Nunca se aprende a lidar com a angústia de ouvir a resposta do médico, a incerteza do último adeus, e como cada minuto se estica para parecer uma hora.

— Ela é incrivelmente forte. — As palavras do médico rompem o silêncio, e uma onda de alívio varre a sala. Mas eu sabia que havia mais.

— Mas o tratamento de Diana não está mais fazendo efeito.

Silêncio. Um silêncio pesado se instaura.

— Quanto tempo ela tem?

Minha voz sai rouca, irreconhecível até para mim.

— Algumas semanas, talvez, sendo otimista, dois meses.

E no eco dessa resposta, a realidade se torna ainda mais dolorosa.

A notícia ecoou na sala como um golpe silencioso, uma verdade que pesava sobre nós. As palavras do médico pairavam no ar, e o tempo, que já era escasso, pareceu parar por um momento.

Minha mãe, a mulher que sempre foi sinônimo de força, estava agora diante de um tempo medido, e a incerteza de quanto ainda poderíamos tê-la nos corroía.

Meu pai, com olhos marejados, segurou minha mãe, enquanto eu sentia o apoio silencioso de Lando ao meu lado. Pascale, os meninos e Charles, todos ali, compartilhavam o fardo da notícia. Nossos olhares buscavam consolo uns nos outros, mas encontravam apenas a dura realidade da fragilidade humana.

— Faremos o possível para tornar esse tempo especial, Chiara. — A voz de Lando, embora firme, trazia uma ponta de tristeza. — Estamos todos aqui por ela e por você.

Neste momento angustiante, eu me viro para meu pai, cujos olhos refletem a mesma dor que sinto. A sala parece um redemoinho de emoções esmagadoras, e cada olhar trocado entre nós fala volumes sem a necessidade de palavras.

— Pai, o que vamos fazer? — murmuro, meu coração apertando-se com a tristeza.

Ele segura minha mão com firmeza, encontrando força em algum lugar dentro de si.

— Vamos aproveitar cada momento que pudermos com ela, Chiara. Fazer com que essas semanas se transformem em uma tapeçaria de memórias, algo que sempre levaremos conosco.

Lando se aproxima, colocando uma mão no meu ombro como um apoio silencioso. Olho para ele, e seus olhos mostram compaixão e determinação.

— Estamos aqui para o que precisar, Chi. Seja lá o que aconteça, não está sozinha.

Pascale, Arthur, Lorenzo e até mesmo Charles permanecem em silêncio, absorvendo a realidade de que amanhã pode não ser o mesmo que hoje. Num impulso, abraço meu pai, deixando que as lágrimas caiam livremente.

•••

Talvez eu esteja fazendo aquilo que minha terapeuta diz que eu não posso fazer, que seria ignorar meus problemas e me enfiar na minha pequena bolha. Talvez. Talvez essa seja a minha forma mais egoísta de me proteger, talvez eu prefira me afastar do que estar perto demais para deixar aquilo me machucar.

As vezes não sentir é melhor do que sentir qualquer coisa. Talvez essa seja a verdade mais mentirosa da minha vida, mas a verdade que é que eu tenho o dom de afastar as pessoas e situação de mim.

É como se dentro do meu corpo tivesse um botão, um botão de "foda-se" e quando eu aperto eu vivo no modo automático, eu não penso na pessoa que quero evitar, eu não falo sobre, eu não sinto. É um vazio. Um vazio que eu sei criar.

E talvez a partir do momento que todos entraram no quarto, e eu fiquei sozinha eu criei esse vazio, porque como que eu sobreviveria a isso mais uma vez?

— Estão todos te procurando. — Lando diz quando me acha.

Não estava tão longe do hospital, eu estava em Larvatto Beach, a praia favorita da minha mãe.
Em meio à areia macia sinto a textura granulada escorrendo entre meus dedos enquanto desabafo com Lando. Às vezes, a praia, com suas ondas persistentes e o horizonte interminável, parece o melhor refúgio quando a vida aperta demais.

— Não queria ser encontrada. — Suspiro, afundando meus dedos mais fundo na areia. — Ele falou dela como se fosse um produto com prazo de validade.

Meu olhar vagueia pelo oceano, perdido em pensamentos, até que Lando se senta ao meu lado. Seus olhos, compreensivos, encontram os meus quando descanso minha cabeça em seu ombro.

Lando é uma âncora tranquila em meio à tempestade. Desde a infância, ele foi meu confidente, sempre ali para rir das minhas loucuras ou me apoiar quando necessário.

— Sabemos que não é assim. — Ele suspira, sintonizando-se com minha melancolia enquanto vemos o sol se despedir no horizonte. — Quando todos foram atrás de você, sua mãe segurou minha mão e pediu para ficar. Disse que você tem o costume de se desconectar, de apertar o botão "foda-se", e me fez prometer que encontraria você.

Ao ouvir as palavras dela ecoando nas ondas distantes, sinto um aperto no peito.

— Eu não vou sair daqui, então você pode me afastar de todos os jeitos, mas saiba que eu sempre vou achar um jeito de te achar e de trazer de volta. — Ele me puxando para mais perto.

Entre Curvas e Emoções • Charles Leclerc & Lando Norris Onde histórias criam vida. Descubra agora