seis

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Quando levantei, vi um bilhete da minha suposta mãe na cozinha dizendo que tinha ido trabalhar. Aparentemente voltei alguns muitos anos no passado. Que merda, era pra isso acontecer só em filme.

Alguém bateu na porta, de início eu não ia atender, aí comecei a ouvir a voz de adolescente na puberdade do Yuta me xingando e não pensei duas vezes em puxá-lo pra dentro e largá-lo no sofá.

-Que isso, seu maluco? Finalmente descobriu que tá querendo me comer?

-Seguinte, japonês, tenho quase certeza que você não vai acreditar em nenhuma palavra que eu disser, mas eu tecnicamente não sou o Taeyong que você conhece e tenho quase certeza também de que voltei no passado.

-Achei que a única coisa que você fumava era vape, mas pelo visto a maconha tava barata e não me contaram.

-Yuta, eu tô falando sério. Hoje deveria ser meu aniversário de casamento, mas eu não tô com meu marido e por que me deixavam ter um quarto tão colorido?

-Tae, seu aniversário de idade foi ontem. Na real, nem sei quantos anos você fez mas te garanto que nem namorado você tem. Seja qual for a droga que você usou, só espera o efeito passar. Agora pega suas coisas, vamos pra escola senão nem formar você vai. - Levantou.

-Que porra de escola. Senta aí. - Empurrei ele de novo.

-Ah vai se fuder.

-Me escuta, eu vivo em dois mil e vinte e três, tenho um trabalho muito bom, moro num condomínio maravilhoso, sou casado e hoje eu devia estar na minha caminha com meu marido maratonando filmes do século passado. Mas, de alguma forma, eu acordei aqui e eu nem vi minha mãe ainda. E de novo, por que não me impediram de fazer aquilo no meu quarto?

-Poxa, mas é sua cara.

- Não, Nakamoto, as roupas que eu uso são minha cara, aquele quarto é um pesadelo.

-Você nunca me chamou de Nakamoto.

-Do que tá falando? Te chamo assim desde a faculdade.

-Taeyong, que faculdade?

Só então notei o que falei e como ele tava encolhido me olhando como se eu fosse qualquer coisa menos alguém que ele conhecia. Confesso que isso me deixou mal, Yuta é meu melhor amigo e eu não deveria jogar as coisas nele desse jeito.

-Primeiro, respira. - Ele puxou e prendeu a respiração várias vezes. Me sentei na mesinha de centro e olhei pra ele, começando a falar devagar. - Eu sei, é esquisito e eu realmente não espero que você acredite tão fácil em mim. Em resumo, nós fomos pra mesma faculdade mas em cursos diferentes. Comecei a te chamar de Nakamoto porque todo mundo te chamava assim por você ter adquirido uma pose mais séria.

-Taeyong, eu coloco hashi na boca fingindo que é presa pra fazer homem sorrir, como eu posso ser sério?

-Isso você vai descobrir depois, mas agora eu preciso mesmo que você acredite em mim. Seja lá o que aconteceu, preciso urgentemente voltar pra casa.

-Eu ainda sou solteiro nesse futuro aí?

-Infelizmente, sim.

-Ai graças a qualquer deus que tiver pelo mundo. - Ri quando ele fez a melhor atuação de alívio. - Você disse que é casado, posso saber com quem?

-Bem, o choque foi mais forte pra mim do que vai ser pra você agora, mas Jeong Jaehyun. - Juro, o queixo dele despencou.

-Nem fudendo. Jeong? Jeong Jaehyun? O Jeong Jaehyun das covinhas?

-O próprio.

-Porra, o muleque falta te comer na porrada, como isso aconteceu?

-Tecnicamente ele me comeu de outro jeito.

-Que nojo. - Ele ficou um momento olhando para o teto antes de se virar pra mim. - Como você acha que isso aconteceu?

-Ah, do jeito normal, o pau dele na minha bunda e essas coisas. -Cocei a cabeça, não era legal ter esse tipo de papo com alguém dez anos mais novo.

-Desnecessário, Taeyong. Tô falando de como acha que voltou no tempo.

-Você disse que ontem foi meu aniversário, deve ter acontecido a mesma coisa que em Derrepente Trinta.

-Deixando claro que a nostalgia é boa mas o filme em si é uma porcaria e isso ter acontecido com você não faz sentido algum.

-É pior pra quem vive, acredite.

-Tae, no futuro eu sou gostoso?

-Você tem tatuagens sim, Yuta, e um piercing no umbigo que chorou pra caralho pra fazer.

-Ah que bom então. - Abriu um sorrisão. - Sabe, cara, se a gente arrumar um DeLorean você consegue voltar pro futuro.

-Sua maconha tá mais forte que a minha.

E passamos o resto do dia conversando sobre coisas que não afetavam em nada o futuro dele, apesar de que eu acho que saber disso vai causar tanto que nem tem como piorar.

suddenly 30 · jaeyongOnde histórias criam vida. Descubra agora