suddenly 30 · jaeyong

três

Cara, essa casa é bonita. Se for eu quem escolheu tudo, que bom gosto eu tenho. Se foi o outro lá, que bom gosto ele tem. Jaehyun me colocou sentado no banco do balcão e começou a cozinhar.

-Jaehyun, eu quero saber tudo. - Ele sorriu e colocou um pão com geleia de morango na minha frente. Como ele...? Ah é.

-Vamos deixar isso pra mais tarde, pode ser? Estou atrasado. - Pegou algumas chaves que estavam encima do painel da televisão e se virou pra mim novamente. - Tae, por favor, fica aqui até eu voltar, por favor. - Saiu, mas não deu cinco segundos e ele voltou. - Seu celular está encima do criado mudo, qualquer coisa liga pra mim, mas não fala com mais ninguém, por favor.

Tá, e o que eu vou fazer o dia todo? Andei pela casa toda - muito linda por sinal - e aparentemente está completamente limpa. Bom, minha casa, desnecessário arrumação hoje.

Deitei no sofá e fiquei encarando o teto. O que aconteceu pra eu vir parar aqui? Pode ser que eu esteja apenas sonhando... Não, o tapa na cara que acabei de me dar foi muito real. Buraco de minhoca* imprestável.

Logo ouvi batidas meio agressivas na porta, levantei de uma vez, quase fiquei tonto, fui até a porta e olhei pelo olho mágico. Isso é o Yuta? Bem que eu disse que ele ia virar emo.

Droga, não posso falar com ninguém.

Fui até o quarto. Tá, celular, como é um celular hoje em dia? Pensa, Taeyong. Se as televisões eram tube e mudaram pra tela plana, não seria diferente com os celulares, certo? Então aquela coisinha fina encima do móvel poderia ser  um celular. Como que liga isso?

Toquei em algum lugar que fez o aparelho acender. Considerando que só vi celular sem teclado na televisão e uma vez na vida provavelmente, até que não devia ser tão difícil. Estaria tudo certo se o cara que parece o Yuta não estivesse quase quebrando a porta.

Procurei o nome de Jaehyun, não achei. Tentei os apelidos, bebê, amor, querido, não achei. Até o pronome de tratamento brilhar na minha mente. "Dongsaeng", nunca pensei que isso ia ter utilidade um dia, ainda mais com um monte de coração.

-Tae? O que aconteceu? - A voz dele ficou bonita nesse tempo... Foco Taeyong.

-Jaehyun? - Fui confirmar, vai que.

-Oi, amor, me fala o que houve.

-Tem um cara que parece o Yuta que tá quase arrombando a porta. Parece que ele sabe que eu tô aqui, o que eu faço?

-Espera. - A voz dele ficou distante, mas deu pra entender. - Johnny, mande mensagem pro Yuta, fala que o Taeyong saiu, foi às compras, padaria, sei lá, inventa qualquer coisa. - Voltou a atenção para mim. - Amor, vai ficar tudo bem, fica quietinho que ele vai embora agora.

-Obrigado.

-Quanto tempo demorou pra achar meu contato? - Deu pra ouvir ele sorrindo.

-Foi uma volta muito grande. - Ele riu. - Acho que o Yuta foi embora.

-Sim, Johnny disse que ele está vindo pra cá.

-Que bom, quase entrei em pânico. - Ele riu novamente. Os sons de Jaehyun ficaram profundos... Isso ficou estranho, né?

-Amor, já almoçou? - Ouvi uma porta fechar do lado da linha dele. Por que ele só fica me chamando por esses apelidos?

-Ainda não, acho que passei muito tempo pensando.

-Quer que peça alguma coisa?

-Como assim?

-Delivery.

-Acho que já convivi com muitas pessoas hoje. - Riu novamente.

-Só duas, Tae.

-Muitas.

-Deve ter alguma coisa fácil aí, salada, pão, sei lá. Faz alguma coisinha e come, vai acabar ficando faminto daqui a pouco. Ah amor, quase esqueci, tem aqueles docinhos de morango que você gosta, faz deles sobremesa.

-Achei. - Avisei procurando qualquer outra coisa na geladeira. - O que está fazendo aí?

-Deveria estar arrumando uma papelada, mas prefiro escutar sua voz e focar apenas em você.

Tá, às vezes esqueço que somos casados, estamos juntos, ele disse que me ama, dormimos juntos, ele sabe tudo sobre mim e a única coisa que sei é que ele me odiava e eu acabei de completar dezessete anos.

-Bubu? Desculpe, esqueci que isso é meio novo pra você. - Esse apelido de novo, de onde veio essa merda? - Tae, vou desligar. Come direitinho, chego em casa em menos de duas horas.

E lá se foi meu entretenimento.

*Buraco de minhoca: teoria sobre viagem no tempo mas no mesmo universo. Ir pro futuro ou voltar no passado.