como assim acabou?

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otávio bortoli's point of view.

Faz alguns dias desde que o pai da Lua faleceu. As coisas estão ruins entre nós, cada vez piores. Ela não me diz como se sente, na verdade ela quase não fala comigo. Só nos vimos nesses dias porque fui no apartamento buscar ela pra passear ou simplesmente fui conversar.

Não sei mais o que fazer...

Já conversei até com o Brennuz sobre isso, ele me disse que ela está assim com todo mundo, mas essa resposta não me convenceu. Não suporto mais vê-la assim, não tenho mais energia pra nada além dela ultimamente — e nem sei de onde essa pouca energia sai.

Acabei de estacionar em frente ao apartamento. Respirei fundo antes de sair do carro e subir até o andar do apartamento. Como sempre, Lua estava no quarto e quem me atendeu foi a Maria.

— Oi. — sorri fraco.

— Otávio, — Maria nunca me chama assim! — eu acho melhor você voltar amanhã, aconteceram umas coisas aqui e a Lua não tá muito bem. Ela e o Brennuz meio que brigaram...

— Que? Como assim? — ela nunca briga com o irmão. — Eu vou ver ela.

— É melhor não. — eu podia perceber de longe o quanto ela queria me impedir de chegar até a Lua, isso me irritou.

— Me deixa, porra! — invadi o apartamento correndo.

Chegando no quarto do Brennuz, avistei ela sentada no chão abraçada com as próprias pernas enquanto chorava.

Eu ouvi meu coração se partindo.

Me aproximei dela lentamente, seus olhos permaneceram fechados o tempo todo. Assim que ela respirou fundo, tentando se acalmar, subiu o olhar para meu rosto. A tristeza estampada no seu olhar, estava pior do que nunca.

— Minha linda, o que houve? — perguntei ajoelhado na frente dela enquanto limpava delicadamente suas lágrimas.

— Vai embora daqui, Otávio! — disse esticando braço entre nós, criando distância.

— Fala comigo, Lua. — a morena negou incansavelmente com a cabeça.

— Não, não. Chega! — Lua se afastou mais ainda. — Acabou, Otávio. Seja lá o que for essa coisa que a gente tava fazendo.

— Como assim "essa coisa"? Amor, não faz isso. — tentei chegar perto dela, mas foi em vão.

— Vai embora. — Lua secou as lágrimas e me mandou embora de um jeito firme, sem me olhar nos olhos.

— Lua, por favor... — meus olhos e minha garganta já queimavam.

Apenas vi ela fechar os olhos fortemente e apontar pra porta. Eu não quero ir embora, ainda mais deixando ela aqui. Não consigo...

Ela não ia mudar de ideia, ela não me queria mais ali. Mesmo destruído e contrariado, eu saí do cômodo. A Maria estava do lado de fora no corredor, escorada na parede.

— Não dirige assim, ok? — a mais velha passou a mão no meu rosto e eu assenti. — Fica tranquilo, vou cuidar dela.

Deixei Maria me envolver num abraço, mas eu ainda parecia anestesiado com tudo. Eu planejava pedir a Lua em namoro e agora simplesmente tudo que tínhamos acabou. Saber que não tenho ela é o maior vazio que eu poderia sentir.

Quando entrei no carro pensei em dirigir, mas a Maria está certa, não é uma boa ideia agora. Não queria ligar para minha mãe para não preocupa-lá, o Bmo tá no Rio junto com o Thiago... Posso tentar o Apollo.

Liguei pra ele, previsivelmente ele não demorou nada pra me atender.

— Fala, Viado? Tá bem? — Apollo perguntou.

— Onde cê tá? — perguntei ainda meio imerso no que acabou de acontecer.

— Em casa. Tá tudo bem, Mano?

— Você consegue me encontrar?

— Lógico. Manda a localização.

O Apollo sempre tá comigo. Não importa quanto tempo a gente fique sem se ver ou sair, se eu precisar dele ele virá até mim.

Mora todo mundo mais ou menos perto aqui em São Paulo, então não demorou muito pra eu ver ele virando a esquina. Apollo tem carro, mas veio a pé mesmo.

— Eai? — me cumprimentou pela janela. — O que deu?

— A Lua terminou tudo. — Apollo arqueou as sobrancelhas, surpreso.

— Do nada?

— Entra aqui. — passei a mão na cabeça.

Expliquei tudo que vem acontecendo nas últimas semanas, as brigas, os desentendimentos, o afastamento...

Fiquei mais calmo em conversar sobre isso, de fato, mas mesmo assim parecia que a Lua tinha arrancado meu coração fora. Talvez ela seja meu coração.

Apollo acabou achando melhor ele dirigir, porque eu ainda estava nervoso. Relutei em aceitar, mas não faz muita diferença. Vou pra casa dele, porque definitivamente não quero conversar sobre isso com minha mãe e muito menos com a Lívia, que pergunta da Lua toda hora.

Não tinha mais nada pra falar e fiquei aliviado do Apollo ter entendido isso. Durante o caminho fui pensando na minha história com a Lua.

Nos conhecemos quando tínhamos treze anos e, mesmo ela não acreditado, sempre fui apaixonado por ela. Obviamente fiquei com outras garotas, até porque Lua nunca me deu trela, mas era sempre ela na minha cabeça. Lembro de quando perdemos contato, durante a pandemia, foi também quando as minhas crises começaram. Acho que não teve um dia que eu não pensasse nela.

Só me dei conta de novo quando o Apollo estacionou em frente ao prédio dele. Ele mora no primeiro andar, então em menos de cinco minutos eu já estava sentado no sofá dele.

Eu não tava mega afim de falar sobre meu término com a Lua, mas ao mesmo tempo tinha um monte de coisa que eu queria falar. A raiva em mim era o sentimento mais forte agora — além do vazio de ter perdido ela, claro —, mas mesmo assim tô confuso. A falta de explicação, a situação no geral, a Maria... Fico me perguntando se não foi calor do momento, se ela não vai me ligar amanhã com uma explicação ou não sei.

— Fala que que tu tá pensando. — Apollo sentou ao meu lado, me tirando do transe.

— Que talvez ela possa me ligar amanhã e me dar uma explicação sobre o qu... — um toque no meu ombro me interrompeu.

— É isso que cê quer? Ficar brigando toda hora e se resolvendo sem mudar nada? Como se isso fosse ser bom pra vocês? — acho que por essas e outras que eu não gosto tanto dos conselhos do Apollo, são bem... verdadeiros.

— Eu quero ela, Apollo. Foda-se o resto.

— Para com isso, porra. — olhei pra ele surpreso. — Mano, eu não tenho tanta intimidade com a Lua, mas é lógico que ela tá mal. Vocês acabariam um com o outro se ficassem insistindo.

Acho que essa era a pior verdade que eu poderia ouvir agora, mas como eu mesmo falei é verdade e o Apollo está certo.

— É, eu sei. — fechei meus olhos inclinando meu corpo pra trás. — Mas não quero ficar sem ela.

Meu amigo não falou mais nada. Acabamos mudando de assunto e passamos o resto do dia jogando videogame e fazendo freestyle de gastação. Ela não saiu da minha cabeça por nenhum segundo, mas eu concordo com o Apollo, não tenho o que fazer. Pelo menos não agora.

cidade lunar 🌙 - tavin mc.Onde histórias criam vida. Descubra agora