sunset × JJ & Kiara

🌅|white flag

Kiara

Brincava nervosamente com as pulseiras de pano e miçangas que estavam em meu braço, caminhando até a cozinha.

Meu plano era conversar com meus pais de maneira separada, e, mais tarde, com os dois juntos. Entrei na cozinha e onservei minha mãe servindo uma xícara de café para si mesma. Parei na soleira da porta.

-- Mãe? -- Ela ergueu o olhar para mim quase de imediato, e percebi seus olhos analisarem a situação, para ver se deveria assumir a posição de mãe durona ou de mãe acolhedora.

Ela tinha isso. De tentar prever meu estado para saber como agir na situação. Ultimamente, ela tinha usado apenas a personalidade de mãe durona. Estava sentindo falta da acolhedora.

-- O que foi? -- Ela não percebeu nada em minha postura, então se manteve neutra.

-- Queria falar com você? -- Comecei, mantendo o tom amigável e pacífico. Me sentei no banco, próximo da bancada. E ela se sentou lentamente do outro lado, na minha frente. -- Tô te incomodando?

-- Não, filha. Pode falar. -- Ela suspirou, prevendo que eu falaria do elefante branco na sala. E eu realmente falaria.

-- Eu... não sei muito bem por onde começar. Certo, eu só quero que você tente me entender, tá? Vou tentar te entender também. Estou cansada de brigar com você.

Ela concordou com a cabeça, deixando a xícara de café na bancada.

-- Também estou, filha.

Concordei com a cabeça, respirando fundo. Nós duas ainda estávamos exitantes, preparadas caso precisassemos dar o primeiro tiro a qualquer momento. Era como um campo de batalha que havia recém levantado a bandeira branca, ainda nos encontrávamos duvidosos, como se ainda não fosse confiável. Mas estava disposta a falar mesmo assim.

-- A situação que estamos está me deixando bem mal. Porque eu realmente gosto do JJ, e o jeito que vocês tratam ele... -- Suspirei, me contendo para não falar demais. -- Eu só... eu não queria que tratassem ele como um monstro. Porque ele não é. Ele é um bom garoto.

-- Um bom garoto, Kiara? -- Ela questionou, mas sem exitar. -- Um bom garoto não faria o que ele faz. Por culpa dele e dos seus outros amigos que você se meteu em problemas sérios, filha. Envolvendo a polícia e...

-- Não, não, não, mãe. -- Gesticulei. -- Não foi por culpa dele, de nenhum deles. Eu me meti nisso. Eu sozinha. E nós nunca tivemos a intenção de nos envolver propositalmente em encrenca. Mas eu não quero que desconte neles as frustrações que eu causei em você.

Ela respirou fundo outra vez, massageando a têmpora. Eu sentia vontade de chorar. Parecia que eu nunca seria ouvida.

-- Mãe. -- Pedi, pegando a mão dela e fungando, evitando o choro. -- Me perdoa. De verdade. Por toda a preocupação que já causei. Mas olhe para como está tratando ele. Me tratando.

Ela ficou vários minutos em silêncio. Uma de suas mãos na minha e a outra brincando com a borda da xícara de café. Ela finalmente ergueu o olhar para mim, e parecia uma bagunça de sentimentos.

-- Filha, eu posso ter sido precipitada em alguns momentos, sabe. Mas você entende, não é? Entende que eu e o seu pai só queremos o melhor para você. Sabemos como é a vida de um pogue.

-- Justamente por saberem como é a vida de um pogue que não deveriam agir assim. -- Minha voz falhou. -- Você sabe que a vida deles não é fácil, mãe. Você se casou com um pogue. Todo mundo vira as costas para eles, não deveríamos virar também.

Ela também estava quase chorando. Seus olhos estavam vermelhos, e pude ver que ela estava completamente infeliz com a nossa situação. Isso também me fez chorar.