Jogos do Tordo - Capítulo 23

620 57 17
                                    


 Quando fiz dezoito anos meu pai me entregou uma caixa que disse ser um presente que minha mãe deixou para mim, na época estava com tanta raiva e ressentimento dele que a coloquei no fundo do armário e não toquei nela pelos próximos dois anos, entretanto um dia achei que estava na hora de saber o que havia nela.

Mas nem em mil vidas poderia imaginar os segredos que aquela caixa guardava.

Quando abri havia três dispositivos de gravação que continham em cada um deles vídeos, havia números nos dispositivos 1, 2 e 3 o que acreditei ser a ordem em que eles deveriam ser assistidos. Não sei ao certo porque decidi ver eles sozinha e não contar a Finnick sobre isso era um sentimento de que aquilo era muito pessoal até mesmo para que eu compartilhasse com ele. Então em uma madrugada em que ele estava satisfazendo os desejos de uma velha socialite da capital fechei as cortinas do apartamento e liguei o primeiro gravador.

Eu tinha três anos quando minha bisavó morreu, então as únicas memórias dela são de imagens que vi na tv e fotografias penduradas nas paredes, a voz dela era uma vaga lembrança, então quando a vi naquele primeiro vídeo demorei um pouco para a reconhecer.

— Olá meu nome é Esme Stone sou vencedora 9º edição dos Jogos Vorazes pelo distrito 8 — Seu olhar era calmo claro e direto bem familiar ao da minha mãe — Está bom assim? — Ela perguntou a alguém atrás da câmera.

Uma voz que reconheci ser da minha tia-avó Silver falou atrás das câmeras.

— Está sim, apenas continue de onde parou mãe.

— Muito bem — Disse a senhora que mesmo com marcas do passar dos anos exibia uma elegância atemporal — eu nasci antes da primeira revolução. É engraçado como as pessoas gostam de lembrar desses tempos, como os tempos de paz. E que, por puro egoísmo, distrito, se revoltaram. Só que isso é mentira. Sempre fomos omissos à capital. Sempre sofremos nas mãos deles. A diferença é que depois que tudo acabou, que os rebeldes perderam e que o 13 foi destruído, as coisas se tornaram piores. Tecnicamente, não sou de nenhum distrito. Minha família. Era de um grupo circense que viajava entre os distritos, alegrando as pessoas. Isso é uma coisa que não existe mais nos dias de hoje, não existe mais ligação ou conexão entre os distritos. São todos separados. A capital fez isso. Meio da guerra. Nos separamos E de alguma forma, acabei aqui sozinha no distrito 8.

E quando Jogos Vorazes começaram, foi escolhido como tributo na nona edição. Não sei como, mas alguma forma eu ganhei. Só que naquela época os jogos não eram comuns. Eram mais vorazes. Nós, pessoas dos distritos, éramos tratados como animais transportados em vagões de trêm que transportavam gado. A arena do luxuoso que vocês conhecem, não era mais que uma pilha de destroços em meio à capital. Foi só na décima edição que as coisas começaram a mudar e foi tudo por causa de uma única pessoa. Lucy Gray Baird, minha prima;

Foi na sua edição que os jogos começaram a se tornar o que são hoje. Eu vi patrocinadores e o jeito que ela ganhou. Depois disso, não sei o que aconteceu com ela, ela desapareceu e nunca chegamos a entrar em contato, mas eu sabia, sabia quando vi ela lá na televisão, o que deveria fazer. Em breve, fui convocada para se me tornar uma mentora dos jogos e com os anos tudo começou a se tornar o espetáculo que é hoje.

Eu vi como pouco a pouco o presidente o Coriolanus Snow começou a conquistar E de alguma forma, eu sabia. Sabia que era por causa dele, que a minha prima havia desaparecido.

Mas quando tudo começou a ficar ruim, ruim de verdade, eu já era mãe e percebi que só havia uma opção. Proteger os meus. Se eu deveria viver nesse sistema fascista e dobraria, ele faria o possível para que minha família sobrevivesse quanto a isso.

Tributo de PrataOnde histórias criam vida. Descubra agora