Tributo de Prata

Os Jogos da Capital - Capítulo 11

Eu não lembro como acordei, o que eu fiz, o que eu pensei, só sei o que eu vi. Tudo era meio embaçado. Bem misturado e ao mesmo tempo. Confuso.

A princípio, via apenas pessoas branco e verde. Provavelmente eram médicos, enfermeiros da capital estavam ocupados em mudar, me manter viva, aparentemente, enquanto eu estava na arena, contraiu uma infecção grave. Causada pelos meus ferimentos.

Além disso, estava gravemente desidratada e desnutrida. Mesmo que eu tivesse comido bastante durante o banquete.

Não sei quanto tempo eu fiquei lá. Quanto tempo eles cuidaram de mim. A cobrir-nos minhas cicatrizes penteando meu cabelo, logo a minha equipe de preparação chegou e eles me arrumaram me tornar um ser humano de novo e quando finalmente me olhei no espelho, não consegui me reconhecer.

Era muito estranho. Ainda Era Eu? Parecia comigo, tinha os mesmos olhos azuis que eu mesmo, cabelo castanho. Mas eu não me reconhecia.

A arena me mudou. Eu sabia disso, sabia que jamais voltaria a ser o que era antes, eles tinham tirado alguma coisa de mim, algo que parecia ser precioso e irrecuperável.

— Eu quero pintar meu cabelo — Digo ao meu cabeleireiro.

No início ele diz que vou me arrepender que o castanho é uma característica da minha família e que isso vai fazer com que eu me destoe dela, porém nesse momento é tudo que eu preciso.

O cheiro de amônia dentro do meu nariz, meu couro cabeludo queima por um tempo, mas quando olho para o resultado final, vejo que valeu a pena. Ainda não sou eu. Eu sei disso, porém. Então vem, não é alguém que finge ser eu.

Talvez seja disso que eu preciso tentar ser uma pessoa.

Não dá pra voltar atrás e ser novamente Kalea Abernathy, filha de Haymitch e Petra. Mas acho que eu posso tentar ser Kalea Abernathy a Vitoriosa da 66º edição dos jogos vorazes.

No final, foi isso que eu disse na minha entrevista que eu queria que a capital vitorias, esse e agora eles conheceriam uma versão minha, diferente da que todos já conhecem. Eu precisava disso. Precisava evoluir, mudar para conseguir suportar tudo.

Encontrei Finnick depois que minha estilista me vestiu. Eu estava usando um vestido de musselina preto que contratava bem com o meu novo tom de cabelo.

— Você está linda — Ele disse.

— Eu sei — Caminhei para perto dele.

Finnick parecia prestes a me dizer alguma coisa, algo que eu com certeza não estava pronta para escutar.

— É melhor irmos — Eu disse.

E então o espetáculo novamente começou e eu sendo a vencedora da edição assumi o papel que deixei em parte para trás quando cheguei a arena.

Antes da minha tia-avó morrer me lembro de algo que ela me falou nas suas aulas de como se portar na capital "Os jogos só terminam no seu último suspiro, até lá é só mais uma etapa em que não é seu corpo que está a prova, mais sim a sua mente", agora olhando para a multidão aplaudindo meu nome vejo o quão isso é verdade.

Todos querem me ver e conhecer a amada vitoriosa a assassina que matou em prol do seu entretenimento.

Ceasar recebe a mim e meu mentor Finnick com aplausos e piadas típicas dele e então começamos a assistir a retrospectiva dos jogos. Minha reação deve estar sendo exibida para toda a Panem por isso tento me manter neutra na maior parte do tempo e de vez enquanto quando eu apareço nos jogos finjo um sorriso.

É difícil interpretar esse papel de doce e orgulhosa vitoriosa principalmente quando me vejo matar vários tributos, vejo o olhar estranho em meus olhos e os deles também, sou um mostro e a cada momento isso fica mais claro para mim. Tudo começou com o massacre na cornucópia, depois veio a caçada dos carreiristas, o envenenamento e então minhas mortes pararam e focamos nos acontecimentos ao redor a minha sobrevivência, Hugh vivendo dos meus restos e como Zilla e Parker sobreviveram nesse meio tempo, Tito mal aparece, assim como a sua tendência ao canibalismo que com certeza não foi bem recebida pelo publico o que resultou na sua morte por uma avalanche. Chegamos então ao meu ataque, minhas tentativas de sobrevivência e o banquete que coroou o final da edição, ouço minha voz cantando para Hugh ecoando pelo estúdio de gravação, há o som de pessoas cantarolando a música da minha mãe e me sinto com raiva por estarem fazendo isso.