Os Jogos da Capital - Capítulo 13

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(ALERTA DE GATILHO +18)

Uma vez li em um livro a muito tempo que dizia que "Do pó viemos e ao pó voltaremos", não saberia dizer quem foi o autor dessas palavras, mas no enterro do meu avô nunca nenhuma outra palavra me pareceu tão certa.

Ele foi um homem horrível que fez coisas abomináveis na arena para sobreviver e ensinou seus filhos e netos o mesmo caminho da violência, porque essa era a única vida que ele conhecia e a maneira de sobreviver a este mundo que lhe cabia. Ele viveu por décadas com sorte esbanjando comida, dinheiro e fama que comparado a outras pessoas que vivem nos distritos é um luxo absurdo, porém o que sobrou para ele no final?

Nada.

Quando sua mente se tornou turva ele já não era mais o mesmo e quando seu corpo falhou sua alma já o havia abandonado há muitos anos, e nada do que ele vez, a vida que levou fez alguma diferença quando o fim chegou.

Assim como com a minha mãe não haviam tratamentos médicos disponíveis para ele, e a vida seguiu seu curso natural chegando ao fim amargo que todos chegaremos, mas na cruel selva de pedra da capital os tributos dos distritos nos Jogos têm esse fim mais prematuro.

Acho que a morte de uma pessoa que já viveu o suficiente para conhecer o mundo a sua volta, que se casou, teve filhos e amou, ao menos da sua madeira não deveria ser vista como uma tragédia triste. Já a morte prematura de uma criança que não teve a chance de viver sua vida errar e aprender com os erros, acertar e se sentir orgulhosa com sigo mesma é a coisa mais triste que existe.

Fiquei dois meses com a minha avó no distrito 5 e teria ficado mais se tivessem me permitido, mas eu tinha uma agenda que não poderia ser desmarcada novamente, quando cheguei foi feito um programa especial em homenagem ao meu avô onde as pessoas fingiam conhecer Gold Stone e estarem enlutadas com a sua morte.

Foi depois de um longo dia dando sorrisos tristes e lágrimas de crocodilo que eu surtei. Quando me deixaram no meu apartamento tranquei a porta e liberei a avox que cuidava da casa, mesmo que sua presença fosse silenciosa eu precisava estar sozinha de verdade, sem nenhum olhar na minha direção.

Quando enfim me senti só parti para o banheiro e me olhei no espelho.

Já faziam três aos desde que os jogos tinham terminado, os meus pelo menos e eu não era mais a garotinha magricela de temperamento esquentado e cabelos castanhos. Não para sobreviver essa garota precisou morrer na arena e se tornar outra pessoa.

Agora eu era uma mulher a mais desejada na Capital com os olhos que se assemelhavam a joias e o cabelo branco como a neve. Longos fios alisados e platinados, no início essa cor foi uma ideia de manter meu controle sobre alguma coisa, mal sabia eu que seria uma prisão e que eu lançaria moda na capital e que seria obrigada a me manter assim.

Eu odiava isso o que eles me tornaram a casta de falsidade e o símbolo de sensualidade, eu era uma assassina, uma prostituta e não um ser humano.

Kalea Abernathy era isso que estaria escrito no meu túbulo, não haveria títulos ou memórias de parentes amados, nada disso só a ausência.

Em noites como essa onde pensamentos obscuros me levaram a momentos de total depressão a bebida era um consolo que servia bem, mas as memórias do meu último encontro com o meu pai ainda eram muito recentes.

Sabe eu sempre tive medo de que você fosse igualzinha a sua mãe, mas quem diria tal pai, tal filha. Você é como eu Kal.

Estava prestes a cogitar quebrar o meu jejum alcoólico quando ouvi passos desorientados e o som da porta abrindo.

Tributo de PrataOnde histórias criam vida. Descubra agora