8. Sobre a melhor macarronada de Bangkok

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Desligo meu computador mais cedo que o habitual. As luzes noturnas começam a adentrar a janela da minha sala, misturadas aos raios de sol remanescentes de fim de tarde. Por algum motivo, as horas passaram de maneira muito mais lenta hoje. Uma vontade estranha de voltar para casa agita meu peito.

Ajeito minha pasta e escrevo alguns lembretes para o dia de amanhã. As reuniões desmarcadas se acumulam na lista de afazeres semanais, culpa da pestinha. Preciso suprir logo os horários em que fiquei ausente, mas não hoje.

Desço as escadas, cumprimentando aleatoriamente os funcionários cujos nomes esqueço no mesmo segundo. Alguns aprumam a postura quando passo, outros parecem não se importar com minha presença. Ignoro os sussurros e entro no setor da Pop.

As luzes nesse ambiente são excessivas, perdem apenas para os horríveis pufes néon espalhados por todos os lados. Gajah, o responsável pelo setor, garante que assim os funcionários terão mais inspiração com o público jovem. Eu acho que isso apenas agride a visão, mas como a Pop tem ótimos resultados não arrisco mudar.

Corro os olhos pela desordem fosforescente em busca de Rebecca. Sei que o combinado é manter a nossa situação longe dos curiosos, mas não consigo esperar pelo fim do expediente.

— Senhora Sarocha — ela me cumprimenta. Levanta da cadeira e une as mãos em frente ao rosto.

— Você já tirou aquele horário de folga para consultar um otorrinolaringologista? 

— Não, senhora — a funcionária responde. Abaixa as mãos quando percebe que eu não retribuo. 

 Há muitos itens de cor amarela na sua bancada. Borrachas, uma caneta, um caderno e a capa do notebook. Não é o amarelo berrante que polui a Pop, é um tom pastel suave, quase tranquilizante. 

— Pode tirar agora mesmo.

— Mas...

— Existe um ótimo plantão a algumas quadras daqui — interrompo. —  Pode ir descansar depois disso. Aproveite que hoje estou de bom humor.

Sinto os olhares dos outros sobre mim. Eles não se movem, mas não conseguem deixar de observar. Sei que não têm coragem de falar nada agora, vão esperar que eu vá embora para especular qualquer coisa. Reconheço Yuki dentre os espectadores, ela lança uma careta para Rebecca, que revira os olhos. 

Viro as costas antes que eu me aborreça. Caminho mais devagar que o normal, esperando que a estagiária me siga, mas isso não acontece. Espero no corredor até que Rebecca finalmente surge com sua bolsa.  

— O que foi isso, senhora Sarocha? — ela sussurra para mim. Caminhamos juntas até o elevador mais próximo. 

— Preciso falar com você. Não estava conseguindo me concentrar no trabalho. 

Aperto o botão de descida no painel.

— Você poderia ter mandado uma mensagem — ela retruca. Se encolhe ao meu lado, mas parece mais relaxada que ontem. — As pessoas podem comentar. 

O elevador se abre. Entro primeiro, para me certificar de que estamos sozinhas. A mulher me segue, me estico para apertar o botão do subsolo.

— Eu não tinha como saber se você é daquelas que deixa o aplicativo de mensagem aberto no computador. Não queria correr o risco de que alguém visse, poderia parecer suspeito.

— Ir até a minha mesa e mandar que eu fosse ao médico não pareceu menos suspeito. 

— Não importa — encerro o assunto ao mesmo tempo que o elevador se abre. — Vamos para minha casa.

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