17. Sobre bolinhas vermelhas, uma professora e coragem

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Oi gente! Obrigada de novo por todos os comentários, amo ver as reações de vocês com minhas pestinhas. Pra quem tá pedindo maratona, eu penso em fazer isso mais pra frente, aviso quando for a hora. E quem tá pedindo beijo, peço só mais um pouquinho de paciência.. mas não muita :) beijos e boa leitura

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Jogo a mochila de Emily no porta-malas com um esforço tremendo. Céus, quem inventou essa história de crianças precisarem levar sua casa nas costas? Quando crescerem vão se tornar uma geração de corcundas. 

— Vou ter uma conversa séria com sua professora — anuncio quando entro no carro. Minha filha parece entretida com algum vídeo que Rebecca está vendo, seus olhos se espicham do banco de trás para o banco do carona sem me dar atenção. — Não entendo por que ela pediu tantos materiais. Por que você vai precisar de duzentos palitos de churrasco?!

Minha estagiária pausa o que estava assistindo, sob protestos da pequena. 

— É o primeiro dia, senhora Sarocha. Não queremos que a professora ache que você é a mãe chata. 

— Mas eu sou a mãe chata — retruco. Giro a chave do carro e deixo o assunto morrer enquanto presto atenção no caminho, mas sinto que os olhos de Rebecca continuam sobre mim. 

— Tem certeza que pode me dar carona? — ela pergunta. Parece nervosa. 

Encaro-a por um instante antes de voltar para o percurso. Suas mãos estão entrelaçadas no colo, duas pequenas olheiras pintam seu rosto em contraste com a bochecha rosada. 

— Eu vou deixar você uma quadra antes da Diversity, ninguém vai ver.

Ela assente devagar. Volta sua atenção ao telefone, deixando um silêncio desconfortável formar uma entidade entre nós. 

— Mamãe Becky — Emily chama com uma vozinha hesitante. — O cinto. 

A estagiária emite um ruído surpreso e desliga o aparelho para obedecer à pequena fiscal de trânsito. Impressionante como precisa do lembrete de uma garotinha — não passa protetor, não vai ao médico, não coloca cinto... Essa louca parece gostar de não se cuidar e viver perigosamente. 

— Obrigada, filha — a aventureira responde. Soa estranho. 

Hoje o dia está estranho, para falar a verdade. Além de Rebecca parecer monossilábica, não houve a costumeira empolgação de minha foguetinha com os doces no café da manhã, ou seu falatório interminável na hora do banho. Ela parece nervosa demais para qualquer coisa, flagrei seus dedinhos vermelhos com cutículas tão roídas que pareciam uma plantação de repolho. 

— Ei, filha — chamo sua atenção. Os olhinhos pretos surgem no reflexo do retrovisor interno. —Vai dar tudo certo na escola. Você vai gostar. 

— Não gosto do primeiro dia — ela choraminga. Volta a olhar para as mãos, parece decidir entre roê-las na minha frente ou não. 

Rebecca estende um braço ao banco de trás, fazendo um carinho desajeitado no rosto de nossa filha. 

— Os primeiros dias são assustadores. É normal ficar nervosa, eu tive uma diarreia terrível quando tentei minha entrevista na Diversity. 

— Nunca soube disso — respondo de olhos arregalados. A forma como ela muda seu humor para apoiar Emily faz com que eu me sinta uma adolescente admirando qualquer coisa sobre a pessoa amada. 

— Sorte a sua por não ter entrado no banheiro depois, senhora Sarocha.  

Isso tira um risinho da pequena. Em vez de roer as unhas, seus dedos mexem na costura da blusa. Podem me julgar, mas ela está uma gracinha toda ranzinza com uniforme novo e laços coloridos no cabelo. 

Uma casa no CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora