12. Sobre uma lua de queijo e uma palavrinha mágica

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— Hoje foi um dia muito legal — Emily opina em seus pijamas novos. Vejo um sorriso se formar pelo reflexo do espelho do banheiro, mas desvio os olhos para me ater à tarefa de secar seus cabelos com um toalha.

Foi difícil desembaraçar tudo depois de um dia inteiro na água salgada. Há algo de misterioso no cabelo de uma criança, uma capacidade incrível de formar nós que ninguém consegue desatar. Talvez o fato de passar horas pulando, correndo e rolando na areia contribua para isso.

— Foi, sim. — Passo a escova novamente em seus cabelos, agora sem nenhum nó. — Mas quero te pedir desculpas, Emily. Eu não deveria ter zombado das nossas roupas combinando no futuro. Sei que isso importa para você, então não foi legal. 

O peso que cai de minhas costas é quase audível. Endireito a postura, finalmente liberei as palavras que prendi durante a tarde toda, e agora sei que a culpa pode realmente nos deixar corcundas. 

A pequena vira para mim com olhar sério. Coloca uma de suas mãozinhas no meu rosto. 

— Tudo bem, mamãe. A tia Kade disse que eu tinha que ser paciente. — Seus dedinhos fazem um carinho terno na minha bochecha. Fecho os olhos com força, contendo uma vontade emergente de chorar. Eu não mereço tanto amor assim. 

Deixo que as pequenas mãos de uma garotinha de cinco anos me consolem. Gotas de água caem nos meus pés, um lembrete de que ainda não terminei de secar seus cabelos. Abro os olhos a contragosto, mas somente meu corpo físico está presente na tarefa. 

Minha mente está em outro lugar.

— Como eu e Rebecca nos apaixonamos? — A pergunta escapa de mim como se tivesse criado vida própria. 

Deixo a toalha de lado e retiro Emily da bancada da pia. Ela me olha com o canto do olho, um sorrisinho de lado brota em seus lábios. Conheço essa expressão, e não é dela. É da mulher que parece sua cópia nos trejeitos. 

— Eu não sei, mamãe. Vocês nunca me contaram.

— Impossível — praguejo. — Você sabe de tudo. Aposto que já te contamos isso. 

A pequena atriz leva um dedinho pensativo na bochecha. Faz uma pausa dramática antes de dizer:

— Ixi, não lembro mesmo. 

Dou de ombros. Era uma curiosidade sem importância. Eu só queria entender como minha cabeça funcionou para chegar a esse ponto. 

— Tudo bem, pestinha. É hora de dormir. 

Se você já conviveu com uma criança no fim da primeira infância, deve saber que sua curiosidade é insaciável. Eu deveria imaginar que minha pergunta inocente acenderia as anteninhas fofoqueiras da pequena.

— E por que você me perguntou, mamãe?

— Curiosidade — respondo da maneira mais sucinta. Me retiro do banheiro para que ela me siga, sem que seja preciso aprofundar a resposta.

A garotinha me lança outro olhar sorridente, mas não ousa perguntar de novo e se limita a caminhar comigo até o quarto. Ainda não tive coragem de mandá-la dormir sozinha, talvez eu consiga fazer isso quando arrumarmos as novas compras num dos quartos de hóspedes. 

Ignoro os travesseiros que separam nossos espaços e deixo que ela se aninhe em mim. Essa barreira sempre foi inútil, de qualquer forma. 

— Será que a mamãe Becky pegou inso... inlosa... — Ela embola a língua e engasga com a palavra difícil. 

— Insolação? — palpito. Tento não sorrir de sua tosse fininha e extremamente adorável. 

— Isso! Ela sempre pega porque não gosta de protetor.

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