22. Sobre a vice-diretora que não existia até hoje

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— Me chamou, senhora Sarocha? — Rebecca pergunta um tanto hesitante. Está parada na frente da porta de minha sala, os olhos tão grandes que parecem prestes a arrebentar.

— Chamei. — Faço um gesto para que entre. 

Observo-a dar passos curtos até a cadeira que eu indico. Sua respiração está irregular e isso me incomoda um pouco, ela ainda tem medo de mim?

— Por favor, não me demita. — A frase sai tão baixa que mais intuo do que propriamente ouço suas palavras. 

É a minha vez de me encolher. 

— É isso o que você pensa?! — Falho na tentativa de esconder a mágoa. — Eu não misturo minha vida pessoal com a profissional, Rebecca. Não tenho motivos para te demitir.

Quase não consigo olhá-la. Não sei que tipo de piada o Universo está tentando fazer comigo, mas não tem nenhuma graça. As pessoas desconfiam de mim até quando tento ter uma atitude decente.

— Não quis dizer isso — ela titubeia. — Mas já estamos sabendo dos resultados da Pop, pensei que pudesse ficar descontente.

Me inclino na cadeira. Por uma única vez na vida, eu gostaria de não ter esse dom de intimidar as pessoas. Não com ela, Rebecca merece um lado diferente meu.

— Não vou demitir você — respondo em tom baixo. — Na verdade, te chamei aqui porque quero te promover. Você é uma das melhores funcionárias que tenho. 

Minha estagiária relaxa na cadeira. Abre um leve sorriso, ao qual eu respondo com um suspiro. Imaginei um discurso de promoção bem mais emocionante do que isso, mas o medo de Rebecca me fez ter uma reação capenga e aquém daquilo que ela merecia. 

— Ah, desculpa. Acho que aprendi com você a surtar à toa. — Seu sorriso alarga. Apesar de um brilho surgir em seus olhos, consigo ver que há alguma coisa turva ali, algo que a impede de ficar feliz de verdade.

Agora entendo o porquê da Freen do futuro ter logo dividido a empresa com ela. Que mulher difícil de agradar.

— Esse é o tipo de coisa que você não deveria aprender. — Permito-me rir também. — O que acha da vice-diretoria da Pop? Esse cargo ainda não existe, mas posso abri-lo para você. 

O pulo que Rebecca dá no assento é sua primeira reação de fato espontânea. Ela fica adorável quando se espanta com algo, e não a julgo — talvez eu esteja me precipitando por criar um cargo novo para alguém que praticamente fugiu de mim após um beijo, mas quem poderia me deter, se eu sou a dona?

— É um salto meio grande, senhora Sarocha. De estagiária a vice-diretora. As pessoas vão comentar.

Uhg. Chatonilda máxima. 

— Você se importa demais com isso — resmungo sem esconder minha decepção. 

— Eu só me preocupo com Emily e a possibilidade de que isso revele o seu segredo por algum motivo... — ela se defende. — Você sabe que as pessoas especulam muito. E, de tanto especular, podem chegar à verdade. Por que decidiu fazer isso agora?

Mordo meus lábios antes de respondê-la. Não quero contar a ela sobre o incidente com Mani. Vai fazê-la pensar que decidi sua promoção por raiva e impulso, o que não é bem verdade. Meu plano só foi acelerado por esta mulher inconveniente. 

— Tenho pensado nisso há um tempo — informo antes que o silêncio se torne suspeito. — Sua mãe estava certa sobre mim em alguns pontos. Você merece todo o reconhecimento do mundo, e talvez isso ajude a resolver o seu problema em casa.

Rebecca me encara como se eu tivesse proferido o maior absurdo do mundo.

— Não quero ser promovida por pena, senhora Sarocha.

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