1. Sobre gritos e roupas

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Oie,

Se você leu Paralelo e tem a impressão de já ter lido o título dessa fic em algum lugar, você tem toda razão. O "livro" que a Freen dá para a Becky em Paralelo nada mais é do que essa nova fic <3 (finalmente posso dizer isso, eu guardei por meses essa ideia esperando pacientemente pelo momento de revelar ><)

Espero que gostem!! A princípio, essa vai se passar inteiramente no ponto de vista da Freen, mas isso pode mudar no meio do caminho. E já adianto a vocês que, pode não parecer no início, mas vocês ainda vão chorar bastante com essa nova estória...

Boa leitura!! 

***

FREEN POV

Existem apenas duas coisas que me fascinam no mundo: silêncio e lavar roupas. Se você não é um cesto de roupas sujas, tampouco um monge budista retirado em uma colina, provavelmente eu não gosto de você.

Por esse motivo, todos os seres que respiram ao meu lado me confundem com antipática. É um adjetivo do qual não me importo, afinal nunca vi nenhuma Miss Simpatia dona da maior empresa de publicidade da Tailândia, coisa que é mérito exclusivamente meu. Esse título me retirou quase por completo as duas coisas de que gosto, afinal não tem como existir silêncio quando se comanda longas reuniões de negócio, e o tempo que gasto na Diversity me obrigou a comprar uma máquina de lavar roupas.

Às vezes me questiono por que abdico dos meus prazeres em nome do sucesso, mas não é isso o que todo ser humano tenta fazer? 

E confesso que existe certa diversão ao ver meu nome em primeiro lugar em todos os rankings que existem nesse país. Certa vez fiquei em Top 1 no prêmio "Melhor macarronada de Bangkok", sendo que eu jamais toquei em uma panela ao longo dos meus vinte e quatro anos.

Acho que isso se deve à Kade, uma de minhas três — possivelmente únicas — melhores amigas. Ela é do tipo que gosta de puxar mutirões aleatórios nas redes sociais e me enfia em toda competição que aparece. Eu sei que você deve estar se perguntando como uma pessoa que não sorri pode ter fãs que votem nela, e eu também gostaria de saber a resposta, mas esse é um dos grandes mistérios da vida.

Penso que é porque sou bonita. Meus funcionários picham toda foto minha que veem e me apelidam de "Freen Sabruxa" quando viro as costas, mas no fundo todos concordam que eu sou muito bonita. Mais do que as Misses Simpatia, o que resulta em dois pontos de vantagem em relação a elas.

Apesar da beleza, não me interesso por romances. Então, a menos que você tenha desejo de se empregar na Diversity, jamais haverá chance de qualquer tipo de relação comigo. Já percebeu que todos os conflitos do mundo são motivados por algum amor mal resolvido? Prefiro pensar que sou casada com minha empresa, e qualquer humana que se envolva nesse triângulo é um risco para perder meu suado posto no ranking publicitário.

Oh, espere um momento. Estou escutando batidas na porta da minha sala.

— Entre — murmuro no meu melhor tom seco. Espero que o dono desses toques desesperados perceba que eu não quero ser incomodada.

Uma cabeça surge no vão da porta. Reconheço os olhos castanhos e os cabelos longos de Rebecca Priscila Armstrong, uma das estagiárias. Ou seria Patricia...? Não sei dizer, no crachá dela o P. está abreviado.

É uma boa estagiária. Ouvi dizer que ela é responsável por bater todas as metas no setor da Diversity Pop, destinada ao público jovem. Mas ela não é silenciosa, muito menos um cesto de roupas sujas, então você deve imaginar que eu não gosto dela.

— Senhora Sarocha... — a garota me chama em um tom hesitante.

Seus olhos estão estreitos, como um animal prestes a ser atacado. Que bonitinha.

— O que quer que tenha a dizer, deixe para amanhã, Rebecca. Já passam das dez — respondo, me virando de costas para que ela não note o quanto fiquei encarando.

Aliás, o que ela está fazendo aqui ainda? Posso ser bastante exigente, mas não peço que meus estagiários façam hora extra. Uma boa noite de sono é fundamental para uma pele jovem. Deixo as noites de trabalho para os funcionários que não precisam se preocupar em manter-se longe das rugas pois já têm uma porção delas.

— É urgente — a garota insiste. Seu reflexo aparece no espelhinho ao lado do meu computador, quase zombando da minha tentativa de não olhar para o seu rosto.

— O que é tão urgente que não pode esperar o dia de amanhã?

Viro de volta para encará-la. O que foi? As pessoas costumam dizer que eu intimido com meu olhar, então vai ser mais eficiente se eu olhar para ela. Não tem nada a ver com o fato de eu tê-la achado bonitinha... Linda, talvez.

Se estiver me julgando por minha fala acima sobre romances, saiba que esse detalhe não me torna cega, ok?

— Tem uma garotinha na minha sala. — Ela fala como se tivesse encontrado um coquetel Molotov embaixo do tapete.

Cruzo meus braços. Não a julgo, afinal se eu tivesse que escolher entre crianças e coquetéis Molotov, certamente diria que as crianças têm maior poder de destruição.

— Hm, entendo. Deve ser filha de algum funcionário, vamos abrir um comunicado para...

Seus olhos arregalados me interrompem sem que seja necessária uma palavra. Algo em sua expressão me incomoda, mas não deixo que ela perceba. Ergo uma sobrancelha indiferente, até que Rebecca anuncia:

— Ela não para de dizer que é nossa filha.

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