Sinto todos os olhares caírem sobre mim quando ponho os pés na Diversity. Não é o tipo de olhar de canto ao qual estou acostumada — eles me encaram porque estão curiosos. Sei que não vão perguntar, mas querem saber. Querem entender como sua chefe adotou uma criança do dia para a noite.
Finjo não notar a expectativa em suas expressões quando os cumprimento, enquanto eles fingem se concentrar no trabalho depois que eu passo por suas mesas. Não demoro a entrar no elevador e tomar o rumo para a minha sala, em busca de tranquilidade.
Santa inocência. Em vez de sossego, o que recebo na frente de minha sala é Mani Anela, chefe da equipe de marketing interno e secretária temporária nas horas vagas.
— Senhora Sarocha, parabéns pela adoção da menina — ela me cumprimenta. Evito um revirar de olhos, hoje este vai ser o único assunto a correr pela empresa.
— Obrigada.
Me sento em minha cadeira costumeira e ligo o computador. Espero que a resposta curta seja o suficiente para que ela não insista na conversa, mas a julgar pelo modo cauteloso com o qual se aproxima, ainda não acabou.
— Alguns repórteres queriam fazer uma entrevista.
Apoio meus cotovelos na mesa. Às vezes sinto saudades de Tee como minha secretária, ela entendia o meu silêncio melhor do que ninguém.
— Cancele todas elas — ordeno, de olhos fixos no monitor.
Abro minha aba de e-mails. Me disperso entre a quantidade de mensagens acumuladas na caixa de entrada, então preciso de alguns instantes para perceber que a secretária ainda não foi embora.
— Mas são veículos importantes. As pessoas estão comentando.
— Não me importo, Mani — respondo, agora um pouco mais incisiva. — Você sabe que sou reservada. Não quero dar detalhes sobre minha vida pessoal.
— Eu sei, senhora Sarocha, mas você sabe como o público é curioso. O Chen do RH comentou que já viu a menina aqui na empresa, ela dizia que já era sua filha.
— Exato, foi assim que a conheci. Era uma criancinha mentirosa e assustada. Ela precisava de um lar e eu a adotei. O que mais você precisa saber? — Não gosto de falar de Emily dessa maneira, no entanto sei que é pelo seu bem.
Às vezes é preciso mentir para proteger quem amamos.
— Nada, senhora Sarocha — Mani responde. Pelo modo como seus dedos dos pés se encolhem nas sandálias, percebo que alcancei o efeito desejado.
— Então volte ao trabalho. Diga a mídia que, quando eu estiver pronta para expor Emily, o farei. Por enquanto não quero conversar com ninguém. Ela precisa se adaptar primeiro.
— Certo, senhora. — Seus olhos fitam as tiras bordô do sapato, mas os meus desviam desse detalhe para encará-la.
— E quem fizer fofoca em relação à minha filha estará demitido. Não quero absolutamente ninguém falando mal dela, entendeu?
A mulher levanta a cabeça com certa lentidão. Assente em uma amplitude de movimento quase imperceptível.
— Ótimo. Agora pode ir.
Apesar da pilha de e-mails relativos ao trabalho, decido começar justamente por aquele que não diz respeito a isso. Uma das escolas mais renomadas do bairro aceitou meu pedido de visitação em cima da hora.
Um pigarro abafa o clique do mouse para responder à mensagem. Levanto os olhos para descobrir que, inacreditavelmente, Mani ainda está aqui.
— Tem mais uma coisa — ela anuncia quando me dou conta de sua presença. — A Rebecca da Pop solicitou folga à tarde para ir ao médico, mas vi aqui no sistema que ela já tinha tirado semana passada e...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Uma casa no Céu
FanficFreen Sarocha tem orgulho de ser TOP 1 em todos os rankings empresariais da Tailândia. Dona de um império publicitário, aprendeu a se fechar no mundo dos negócios para esquecer sua vida pessoal - afinal, acredita que família e casamento são distraçõ...