11. Sobre um pontinho cor de rosa

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Se você me pedisse para fechar os olhos e visualizar o lugar mais bonito do mundo, eu te descreveria cada detalhe da pequena Hong Island, mas não quero aborrecer sua leitura com descrições minuciosas sobre a bela formação rochosa entre o oceano e a areia ou sobre como sua estrutura geográfica parece a entrada de um castelo medieval. Não quero te chatear descrevendo o azul mais cristalino que já vi, muito menos te causar inveja por dizer que meu jatinho particular permitiu que eu, Rebecca e Emily saíssemos de Bangkok e pousássemos no meio do paraíso depois de meras duas horas de viagem. 

Eu sei que o local mais indicado para fazer compras a uma garotinha deveria ser um shopping center ou o centro da cidade. Mas quando se é uma pessoa com alguma relevância na mídia, que não quer chamar atenção para o fato de supostamente ter adotado uma criança cuja origem não pode ser descoberta (muito menos o fato de que ela é sua filha biológica com uma estagiária da empresa), considere de bom tom viajar até uma ilha deserta para fazer compras nas lojinhas locais. 

 — Esse é o lugar mais lindo que eu já vi na minha vida — Rebecca sussurra quando seus pés descem as escadas do avião e encontram a areia. Ela tira os óculos de sol com uma careta, parece querer contemplar a beleza do lugar sem nenhum tipo de filtro.

— Com certeza é. Gosto de vir para cá nas folgas quando estou estressada — conto a ela, seguindo-a em direção à praia. 

Seus olhos estão franzidos pela intensidade da luz solar, mas isso não a impede de revirá-los.

— Eu costumo ir para baixo do chuveiro. Infelizmente não tenho um jatinho ao meu dispor. 

— Eu amo esse lugar! —  A euforia de Emily descendo a todo vapor me impede de fazer qualquer comentário. — A gente veio nas férias. Só que o avião pousava na água, e tinha uma moto com drone na roda que trazia a gente na praia. 

Ela balança o rabo de cavalo que consegui fazer em seus cabelos com muito esforço. A barra do vestido rosa já está começando a se encher de areia, lamento por toda a lavação da noite anterior. 

— Você deve achar nosso mundo meio chato — Rebecca observa, colocando de volta os óculos de sol.

— É, mas também é mais limpinho — a pequena responde. — Não é tão quente, e é melhor de respirar. No futuro as vezes temos que usar máscaras para limpar o ar. 

Os passos das duas estão rápidos. Preciso aumentar o ritmo para acompanhá-las, talvez eu me dê melhor em cima de saltos. Estar de chinelos é algo fora do meu habitat natural.

— Isso parece horrível — minha funcionária responde com as mãos no peito. Estamos cada vez mais perto do mar, mas deveríamos estar nos aproximando do vilarejo após a areia.

— Vamos ao trabalho — corto as duas antes que a conversa se estenda e elas acabem dentro d'água. — Conheço algumas lojas depois da praia. 

Puxo Emily pela mão, de modo que minha estagiária seja obrigada a nos acompanhar no sentido contrário.

— A gente pode nadar depois, mamãe Freen?

Confiro o relógio. Estamos perto das onze.

— Não sei se vai dar tempo. Precisamos voltar para Bangkok depois do almoço para escolher uma escola e...

— Não vamos nadar? — Rebecca me interrompe. Só percebo que ela para de caminhar quando sinto a pestinha soltando minha mão para acompanhá-la no protesto. —  Senhora Sarocha, viemos até aqui para não entrar na água?

Uhg. Essa mulher parece uma criancinha.

— Bom, podemos voltar outro dia, depois que resolvermos tudo — sugiro. Retomo a caminhada, na esperança de que elas façam o mesmo.

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