13. Sobre... ciúmes?

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Eu nunca gostei de domingos. 

Isso não tem a ver com minha obsessão por produtividade, apenas é senso comum que esse seja um dia morto, melancólico e entediante. Me parece que aos domingos todos ficam com preguiça demais para estarem vivos, então ninguém se esforça para passar programas interessantes na televisão, sair de casa ou fazer qualquer coisa atrativa.

É claro que isso foi antes de Emily. Não existe um momento da vida em que essa criança esteja entediada, então nosso primeiro domingo juntas começou com nada menos que uma explosão no banheiro.

 — Eu não acredito no que estou vendo — balbucio, ainda meio dividida entre a adrenalina da preocupação e a vontade de dormir mais um pouco. 

No centro do cômodo está minha filha, muito embora eu acredite que ela esteja se parecendo mais com um animal esquecido para fora de casa em dia de tempestade. No teto há uma gosma de cor indefinida que ameaça cair bem em cima da minha cabeça. Pelo chão, farelos e pedaços de algo que deveria ser um dinossauro se espalham em uma mistura infantil nojenta. 

— Desculpa, mamãe — a criaturinha pede com um sorriso amarelo. 

— Eu ouvi um barulho horrível — resmungo. Minha cabeça lateja em diferentes pontos quando falo. — Pensei que você tivesse caído na privada e acionado a descarga. 

Emily desvia os olhos dos meus. A água escorre de seus cabelos em pequenas cachoeiras que encharcam os pés descalços.

— Mamãe, eu queria testar o ovo do dinossauro que quebra na água que você me deu ontem. 

— Parece que você matou o bicho. — Analiso a situação do animal de borracha, esquartejado por todos os lados do banheiro.

— Desculpa, mamãe.

Eu não sei qual a postura adequada de uma matriarca nesse momento, mas toda a situação está me deixando com vontade de rir. Tenho certeza de que eu deveria ser mais enérgica. 

— Eu desculpo se você me deixar tirar uma foto sua para fazer figurinha — proponho, já com o celular em mãos. 

A pequena dá uma risadinha aliviada. Tira uma pata do pobre pterodátilo de seus cabelos e faz pose para a foto. 

— Xiiiiis!

Clico algumas vezes. Meus dedos correm para o chat com Rebecca antes que eu me dê conta, mas me contenho a tempo de enviar para ela. Combinamos de arrumar juntas o quarto de nossa filha, então não preciso mandar mensagens se vou vê-la dentro de poucas horas.

Ligo o chuveiro para dar um banho digno à pestinha ensopada e cato alguns pedaços do dinossauro zumbi. O cheiro de bolo de framboesa no andar de baixo faz meu estômago revirar de ansiedade, em nome de minha fome decido terminar a arrumação da pequena sem muito esmero. 

Descemos até a cozinha em passos apressados. Jim abre um sorriso ao nos ver, tenho certeza de que se deve muito mais à minha versão de bolso do que a mim mesma.

— Tia Jim! — Emily corre para abraçar minha governanta.

A mulher se deixa levar pela recepção calorosa e ergue minha filha para o alto; o estalo em sua coluna é audível da entrada da cozinha, mas ela não deixa que a menina perceba. 

— Oi, pequena. Soube que Tee conheceu você enquanto estive fora. 

— Sim, foi divertido! — Os dedinhos gulosos catam uma framboesa de cima do bolo. 

— Bom dia, Jim — cumprimento, me aproximando das duas.

— Bom dia, Freen. Fiz o bolo que você pediu. 

Uma casa no CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora