24. Sobre Grandes Notícias

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É curiosa a maneira como algumas notícias simplesmente mudam tudo. 

Às vezes chegam no meio de um dia perfeito, como aquele convidado penetra que azeda o bolo da festa e estraga tudo. Outras vezes, chegam em um dia absolutamente comum, repleto de problemas cotidianos que se tornam irrelevantes num passe de mágica. 

Problemas no trabalho, uma funcionária intrometida, uma mancha de suco de uva no tapete... tudo fica pequeno diante de uma Grande Notícia. Tudo perde a importância. Espero que você nunca tenha passado por isso, leitor(a).  Se já tiver passado, sabe do que estou falando: do momento em que uma bomba cai em seu colo, e você sabe que sua vida inteira mudará para sempre. 

É assim que me sinto agora. 

Mas você merece saber do começo. Merece que eu conte cada detalhe do meu dia (agora) insignificante e de como ele terminou, então esqueça o fato de que já é noite e estou há meia hora chorando em posição fetal. Vamos voltar à manhã tranquila que eu tive. 

— Ainda tem papel higiênico no teto — minha criaturinha disse quando cheguei à sala. Seus dentes estavam cobertos com alguma pasta chocolatosa (ao menos eu esperava que fosse chocolate), mas não me importei com isso quando recebi um beijo melado. 

— A Jim vai limpar hoje — respondi, olhando para a governanta de esguelha. Suas roupas ainda eram as mesmas da noite anterior, então supus que ela havia dormido no sofá, entre os seus vídeos de fofoca. 

— Torça para que eu consiga, pequerrucha, ou sua mãe vai me dar um tiro — a mulher se queixou com uma careta dramática. 

Revirei os olhos para a atriz barata. 

— Infelizmente não sou mais esse tipo de pessoa. 

Ela sorriu, dessa vez sem deboches. Sabia que eu estava falando a verdade.

Esperei enquanto Emily se levantava e escovava seus dentinhos imundos. O sol estava manchando as nuvens de laranja, me lembro de ter percebido com a visão periférica. Agora me pergunto por que não parei alguns minutos para olhar melhor. Foi meu último nascer do sol antes da Grande Notícia. 

Coloquei a mochila de minha pequena no porta-malas, assim como a enorme casa de bonecas que ela insistiu em levar para o dia do brinquedo, muito embora eu suspeitasse de que voltaria depenada. Não adiantou muito insistir, minha filha ganha qualquer discussão contra mim, então apenas aceitei e afivelei seus cintos no banquinho de trás. 

Jim veio até nós para se despedir, como em todos os outros dias. Fez alguma careta com o rosto grudado na janela e sua boca ficou marcada no vidro. Reclamei da ousadia ao beijar o meu carro, enquanto a pequena farofeira gargalhava.

— Você pode buscar Emily para mim? Kade pediu para me encontrar hoje depois do trabalho — pedi à governanta. 

Ela se encostou na porta do veículo. Me lançou um olhar curioso, talvez estivesse intuindo o que estava por vir. 

— Algum problema?

— Ainda não sei — eu respondi. — Espero que não. 

Naquele momento, a conversa com Kade era só mais um item na lista de afazeres do dia, algum compromisso que eu deveria cumprir antes de deitar minha cabeça no travesseiro. 

Mas agora eu sei, leitor(a), e preferia continuar não sabendo. 

Dei partida no carro, deixando Jim para trás. Fiz o caminho costumeiro até a escola da pestinha, me despedi dela e tomei meu rumo para a Diversity. Ignorei os olhares em minha direção, mas precisei fazer uma força enorme para não ir até o setor da Pop. Era o primeiro dia de Rebecca como vice-diretora, talvez ela precisasse de alguma ajuda.

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