29 - Não quero me arrepender.

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🖇 | ALASKA W.

Aquela foi a última coisa que eu esperava ouvir ele dizer. Imaginei que Vinnie me contaria que sofreu um acidente na infância, que talvez tenha ido para a parte funda de uma piscina sem notar, mas não que sua própria mãe tentou matá-lo afogado.

— Como... por que... — eu estava tão chocada que mal conseguia formular uma pergunta.

— Minha mãe teve depressão pós-parto. Ela não estava pronta para nós. Eu era uma criança bem ativa, nunca me cansava e preferia as brincadeiras que mais deixavam bagunça. O Jack era mais calmo e nunca fazia birra. Eu contestava o que ela dizia sempre que possível, tinha opinião própria e nenhum medo. Acho que ela não sabia mais o que fazer com uma criança que sempre tinha uma resposta na ponta da língua. — ele ficou cabisbaixo enquanto contava.

— Ela te batia? — fiquei apreensiva.

— Não. Mas ela gritava muito. O Jack tinha medo dos gritos, eu precisava cobrir os ouvidos dele quando ela surtava por causa de algum brinquedo que deixávamos no meio do corredor. Ele tentava de todas as formas fazer ela nos amar, mas nada dava certo. Eu sabia que não podíamos fazer nada então a ignorava da mesma forma que ela ignorava a gente. E ela não dava a mínima para a nossa segurança, até chegava a nos deixar sozinhos e saía para festas à noite.

— Meu Deus... — senti um aperto no peito. — Vocês se alimentavam direito? Iam ao médico? À escola?

— Sim. Ela nos deixava saudáveis e educados. Acho que tinha medo de se dar mal se nos fizesse passar fome. Mas carinho ela nunca nos deu, nem nos ensinou valores ou se mostrou preocupada com os nossos problemas. Ela dizia coisas horríveis sobre como destruímos a vida dela, como seu corpo estava cheio de marcas por causa da gravidez indesejada, como nós a deixávamos infeliz e como tinha vontade de nos matar.

— Céus... — coloquei minha mão sobre a boca. — O seu pai não sabia?

— Ele vinha nos ver e só via duas crianças bem alimentadas e cheias de brinquedos. Para ele estava tudo bem. Ela nos dava muitos brinquedos justamente para não enchermos o saco dela. Eu a odiava tanto, não por mim, mas pelo Jack. Ele queria uma mãe e ela se negava a fazer o mínimo.

— E como ela chegou ao ponto de tentar... — engoli em seco.

— O Jack foi parar no hospital porque nós estávamos brincando no balanço e ele caiu quando eu empurrei com muita força. Acabou quebrando o braço. Nossa mãe não estava em casa na hora, estava trabalhando. Avisamos aos vizinhos e eles nos levaram ao hospital. Uma assistente social foi chamada porque estávamos sozinhos quando tudo aconteceu e quando a minha mãe chegou ela inventou que teve que sair para resolver uma coisa rápida na empresa e que nós nunca demos problema quando estávamos sozinhos. Ela ficou furiosa comigo.

— Com você? — franzi a testa.

— Disse que por minha culpa Jack e eu poderíamos ir parar em um orfanato. As palavras dela foram "o idiota do seu pai não vai querer ficar com vocês. Muito menos com você, Vinnie. Você é a pior criança do mundo".

Meus olhos se encheram de lágrimas e por instinto eu segurei a mão dele em apoio.

— Eu fiquei bravo com isso. Disse que ela era uma bruxa e que queria que ela morresse. Quando chegamos em casa, ela ficou mansa de repente. Me pediu desculpas de um jeito doce e disse que queria me dar banho. Eu tinha oito anos, achei que ela estava revendo suas ações e sendo mais legal. Quando estava massageando o meu cabelo, ela me empurrou para debaixo da água e me segurou enquanto eu me debatia em pânico.

Senti uma lágrima rolar por meu rosto e apertei ainda mais a mão dele.

— Acho que ela não teve coragem o bastante e desistiu no último segundo antes de eu desmaiar. Corri para fora da banheira e quando tentei sair do banheiro ela agarrou o meu braço e disse que se eu contasse para alguém faria o mesmo com o Jack. Eu não contei a ninguém. Fiquei tão assustado que comecei a me retrair e ficar mais quieto, estava com medo dela. Ela percebeu e começou a usar isso contra mim, como uma maneira de me manter na linha e me manipular.

Call Me When You Want ᵛᶦⁿⁿᶦᵉ ʰᵃᶜᵏᵉʳOnde histórias criam vida. Descubra agora