22 - Ninguém gosta de chefes.

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🖇 | VINNIE H.

Ela não iria entender se eu explicasse e eu não estava com saúde mental o suficiente para ter que contar os motivos de eu preferir ficar longe de qualquer lugar onde eu precisasse mergulhar o meu corpo na água. Era cedo demais, Alaska e eu não tínhamos esse tipo de intimidade para conversas difíceis. Era a minha vida e também era problema meu perder o controle quando os meus traumas entravam em cena. Alaska não sabia, então eu não a culpava por se irritar.

Cheguei ao trabalho pretendendo não lidar com outro ser humano naquele dia e me tranquei em minha sala. Estabeleci um comportamento de deixar a porta aberta no início para criar essa noção de liberdade, assim quando vissem a porta fechada eles simplesmente não bateriam porque saberiam que eu queria ser deixado em paz.

A primeira coisa que fiz foi checar as avaliações técnicas dos funcionários. Todos os meses e de forma anônima – se assim preferissem – eles davam as suas opiniões sobre o trabalho e seus superiores. Consegui identificar as avaliações de Bethany e Ryan que reclamavam da ausência de ter algo pelo que competir. Alaska era a única que não se importava com o anonimato e deixava o seu nome completo no final das suas opiniões. As primeiras que li foram bem destrutivas, lembro-me bem de rir quando vi que das vinte linhas, dezoito eram sobre mim. Dessa vez, no entanto, ela foi mais profissional e menos agressiva.

"Vinnie Hacker melhorando em seu cargo e mesmo que eu ache que essa posição não seja para aprendizados, ele de fato aprendeu alguma coisa. Mantenho minha opinião de que seu preparo total para a posição ainda não chegou, mas não acho que seja algo impossível de ser alcançado. Ele só deveria se esforçar menos para as pessoas gostarem dele. Ninguém gosta de chefes."

Ela também reclamou da retirada de sua sala, disse que o barulho das pessoas a sua volta a desconcentra e irrita, mas no final falou que está se acostumando e que gosta de não ter que sair de sua cadeira para pedir algo a alguém que esteja envolvido em seus projetos.

Segui lendo outras avaliações superficialmente e notei que a maioria das pessoas se dizia desanimada em como o trabalho era monótono e arrastado. Queriam algo novo, diferente, uma dinâmica como a festa que eu fiz no meu apartamento. Aquilo não era uma má ideia, mas tinha que ser outra coisa. Talvez num ambiente maior e com mais atividades as pessoas esquecessem de falar mal umas das outras e só se preocupassem em se divertir.

Pedi ao meu assistente que procurasse por algum passatempo de fim de semana para o meu setor. Ele sugeriu que ficássemos em um hotel resort à beira mar e me passou algumas opções. Tinha um interessante. Era grande, tinha piscina, quadra de tênis, de basquete, campinho de futebol, barzinho, cassino e até shows ao vivo, além de ficar a poucos metros da praia. Com certeza todos ficariam ocupados. Eu só tinha que fazer um pedido para o financeiro e aguardar a resposta para confirmar.

Consegui a liberação para aquilo e pedi que enviassem um e-mail para cada um dos funcionários do meu setor pedindo que respondessem se iriam ou não e com quem dividiriam seus quartos, assim teríamos um número exato de reservas para fazer. Pediríamos quartos com duas camas, eles ficariam em dupla e gastaríamos menos. Eu, no entanto, reservaria um quarto só para mim. Não tinha esse tipo de intimidade com ninguém da empresa para dividir um quarto de hotel.

Saí da minha sala e fui até o refeitório pegar uma xícara de café. As pessoas estavam mais felizes depois do e-mail, me cumprimentavam e diziam que eu era um excelente chefe. Isso alimentou um pouco o meu ego e eu me senti melhor numa manhã que antes estava péssima. Antes de virar o corredor do refeitório, ouvi alguém conversando e citando o meu nome. Era uma voz feminina.

— Todos os bastardos são carentes de atenção assim? — riu. — Ele vai gastar todos os recursos da empresa só tentando fazer esses idiotas gostarem dele.

Call Me When You Want ᵛᶦⁿⁿᶦᵉ ʰᵃᶜᵏᵉʳOnde histórias criam vida. Descubra agora