Capítulo I

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Capítulo I

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Telhado da casa de uma fazenda abandonada a meio caminho entre Byeong Hall e Daeyang House.

Busan, Coreia do Sul - 1779

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Não é que Sim Jaeyun não tivesse bom senso. Pelo contrário, ele estava certo de que era uma das pessoas mais sensatas que conhecia. Mas, como qualquer indivíduo ponderado, às vezes decidia ignorar a pequena voz da razão que sussurrava em sua cabeça. Isso não podia ser considerado imprudência, tinha certeza. Quando ignorava essa voz de advertência, fazia isso conscientemente, após uma cuidadosa análise da situação. E é preciso dizer que, quando tomava uma decisão – uma que a maioria das pessoas julgaria tola – Jake geralmente tinha a sorte de ser a correta.

A não ser quando não era.

Como naquele exato momento.

Ele olhou para o seu acompanhante. 

— Eu deveria estrangular você.

O acompanhante deixou escapar um miado bastante despreocupado.
Jake soltou um grunhido nada condizente a um cavalheiro ômega.
O gato avaliou o ruído, julgou que o barulho não era digno de sua atenção e começou a lamber as patas. 

Jake considerou os padrões de dignidade e decoro, concluiu que ambos eram supervalorizados e rebateu franzindo a sobrancelha com imaturidade.

Não se sentiu nenhum pouco melhor.

Com um gemido cansado, ele olhou para o céu, tentando calcular as horas. O sol estava bem escondido por trás de uma camada de nuvens, o que complicou sua tarefa, mas deviam ser no mínimo quatro da tarde. Acreditava estar preso ali havia uma hora e tinha deixado o vilarejo às duas. Se considerasse o tempo que levou caminhando…

Ah, mas que inferno, que importância tinha a hora? Isso não o tiraria daquele maldito telhado.

— É tudo culpa sua — disse ao gato.
Previsivelmente, o animal ignorou.

— Não sei o que você acha que estava fazendo naquela árvore – continuou ele.

— Qualquer tolo saberia que você não conseguiria descer.

Qualquer tolo teria deixado o gato lá em cima, mas não. Jake ouviu o miado e já estava a meio caminho do topo da árvore quando lhe ocorreu que nem sequer gostava de gatos.

— E eu realmente não gosto de você — completou ele.

Ele estava falando com um gato. Foi rebaixado a isso. Mudou de posição, estremecendo quando sua meia prendeu em uma das telhas desgastadas pela ação do clima. O rasgo puxou seu pé de lado e seu tornozelo que já latejava uivou em protesto.
Ou melhor, ele uivou. Não pôde evitar. Doía muito.

Pensou que poderia ter sido pior. Ele já estava bem no alto da árvore, uns bons dois metros e meio acima do telhado da casa, quando o gato se arrepiou todo, chiou e estendeu a pata com as garras para fora, fazendo-os cair.

É desnecessário dizer que o gato tombou com graça acrobática, aterrissando sem nenhum ferimento, as quatro patas no telhado.

Jake ainda não sabia bem como ele aterrissou, só que o cotovelo doía, que sentia uma fisgada no quadril e que seu casaco estava rasgado, provavelmente em razão do galho que aliviara sua queda a dois terços do fim do caminho.
Mas os piores eram seu tornozelo e o pé, que o estavam matando. Se estivesse em casa, ficaria com os dois para cima, apoiados em travesseiros. Já testemunhara vários casos de tornozelos torcidos — os próprios, e ainda mais vezes os de outras pessoas — e sabia o que fazer. Compressa fria, elevação, um irmão sendo forçado a ajudá-lo com tudo…
Onde estavam seus criados quando precisava deles?

I hate him? I love him! - heejakeOnde histórias criam vida. Descubra agora